domingo, 14 de setembro de 2014

Em eleição tensa no MA, Lobão Filho assume legado de Roseana

DIÓGENES CAMPANHA

ENVIADO ESPECIAL AO MARANHÃO

    No momento em que o telão exibe um vídeo de campanha, o senador Edison Lobão Filho (PMDB) sobe no palanque na praça central de Lagoa da Pedra, a 221 km de São Luís, na quinta-feira (11).
    Na projeção, a prefeita Maura Jorge (DEM) exalta a parceria com a governadora Roseana Sarney (PMDB); um morador diz ter por "esse pessoal do Sarney" a mesma consideração que tem pela prefeita.
    No palanque espaçoso, o microfone passa de mão em mão com pedidos de voto a Lobão Filho, candidato ao governo do Maranhão e filho do ministro de Minas e Energia. Alguns espantam o calor com uísque em copos de plástico.
    A promessa de que ele dará "continuidade ao trabalho da Roseana" é repetida.
Na vez do candidato, enfim, ele ataca o principal adversário da disputa, Flávio Dino (PC do B): "Vamos acabar com esse discurso de esculhambar a Roseana de manhã, o Maranhão de tarde e a mim de noite", afirma, para aplausos dos presentes.
    Edinho, como é conhecido, assumiu a tarefa de defender a hegemonia do grupo que lidera o Estado há quase 50 anos, na eleição que marca a despedida de duas de suas principais figuras.
    O senador José Sarney (PMDB-AP), que assumiu o governo local em 1966, anunciou em junho que não disputaria a reeleição. A filha dele, Roseana, ao final do quarto mandato como governadora, não quis brigar por uma vaga no Senado e também anunciou que não disputará mais cargos públicos.
NOVA ESTRATÉGIA
    Sair ferozmente em defesa da atual governadora, como fez Edinho, parece corriqueiro nesse período eleitoral.
    Mas não para esse candidato do PMDB, que desde o início da campanha adotava distanciamento de Roseana, representante do clã que comanda o Estado (com pequenas interrupções) há quase cinco décadas.
    Por um lado, diz não ter participado da atual gestão e citava ter "estilo diferente" de administração. Mas agora passou a exibir no horário eleitoral gravação com o pedido de voto dela, além de enumerar obras do governo do Estado.
    Um dos entusiastas dessa defesa raivosa do legado é o ex-ministro Gastão Vieira, candidato ao Senado na chapa de Lobão Filho.
    No alto de um carro de som na rua principal de Lago do Junco, a 223 km de São Luís, ele citou Lobão pai, governador de 1991 a 1994, Epitácio Cafeteira (1987-1990), João Alberto (1990-1991), além da atual governador do Estado.
    Chamada de oligarquia pelos adversários, o grupo de Sarney trava uma dura disputa contra o ex-deputado Flávio Dino, líder da disputa, segundo pesquisa Ibope da semana passada. Ele apareceu com 42% das intenções de voto, ante 30% de Lobão Filho.
    Esse resultado acirrou ainda mais uma disputa já marcada por duros confrontos.
    Na semana passada, por exemplo, num debate promovido pela Federação das Indústrias do Maranhão, a troca de farpas chegou ao ponto de os dois candidatos, diante de uma plateia de empresários, entregarem documentos ao presidente da entidade para endossar ou rebater acusações entre eles.
    Uma das "acusações" de Lobão Filho é a de que Dino poderia implantar o comunismo no Estado e ameaçar a liberdade religiosa, numa referência à sua filiação ao Partido Comunista do Brasil.
    Em discursos ou debates, ele só se refere ao adversário como "o comunista".
    O candidato do PC do B, que se declara católico, buscou o apoio de líderes evangélicos e lançou uma campanha pelo voto cristão.
    Nessa investida, visitou um templo da Assembleia de Deus na periferia de São Luís, onde pastores o questionaram sobre suas convicções.
    "Ele disse que o comunismo dele é baseado na fraternidade e no amor, não é baseado no comunismo antigo", relata Osiel Gomes da Silva, líder da congregação. "Também falavam que o Lula iria implantar isso."