SÃO PAULO - Lobão nada explica. A manchete poderia ser publicada hoje, mas saiu no "Jornal do Brasil" em 9 de janeiro de 1994. Edison Lobão, governador do Maranhão pelo PFL, era suspeito de participar da máfia dos anões do orçamento. O delator do esquema contou que ele frequentava a casa de João Alves, que se dizia um homem de sorte e atribuía sua fortuna a vitórias seguidas na loteria. A CPI perguntou o que Lobão tinha a dizer sobre as acusações. Ele tentou ser rude, mas foi sincero: "Não há o que explicar".
Duas décadas se passaram. João Alves morreu, o PFL morreu, o "JB" morreu, mas Lobão continua. Aos 77 anos, é ministro de Minas e Energia do governo Dilma Rousseff, indicado pelo ex-presidente José Sarney. Demonstra pouco conhecimento da área, apesar de estar no cargo desde 2008. Em maio, disse que "com a graça de Deus" não haveria racionamento. Nem o ateu mais militante ousaria misturar o nome dEle com a gestão do maranhense.
Na semana passada, um novo delator, Paulo Roberto Costa, começou a entregar os beneficiários do esquema que saqueava os cofres da Petrobras. Além dos suspeitos de sempre do Congresso, citou um único ministro como destinatário de propina. Ganha uma passagem de ida para São Luís, com conexão de ônibus até o município de Governador Edison Lobão, quem adivinhar quem é.
Mais uma vez, Lobão nada explica. A lista dos delatados veio à tona no sábado, em reportagem da revista "Veja". No domingo, o ministro faltou ao desfile do Sete de Setembro. Na segunda-feira, saiu de férias. Questionada por repórteres, a presidente se saiu com a seguinte resposta: "Ele não sabe nem do que está sendo acusado, a revista não diz. Vocês sabem?".
No início do mandato, Dilma afastava ministros suspeitos de corrupção. Neste final melancólico, recorre a ironias de gosto duvidoso para protegê-los. Lobão não ganhou na loteria como João Alves, mas também pode ser considerado um homem de sorte.