"A sinfonia de tudo que há" foi disponibilizado em serviços de streaming e gratuitamente no YouTube; show de lançamento em Porto Alegre está marcado para 18 de dezembro, no Opinião
Se a Fresno nasceu e cresceu na (e também por causa da) internet, o lançamento de Sinfonia... manteve a regra. Anunciado com antecedência nas redes sociais do grupo, o disco gerou expectativa crescente entre os fãs – horas antes de divulgar de fato o álbum, o vocalista Lucas Silveira deu uma espécie de entrevista coletiva aos fãs por meio de um vídeo no Facebook, com direito a prévias das faixas.
– Minha expectativa é das maiores possíveis, porque esse disco foi muito difícil de gravar. A gente queria fazer um negócio diferente de tudo que a gente já fez, e fazer um bagulho diferente quando tu já fez muitas coisas é bastante difícil – disse o vocalista. – Eu comecei a escrever músicas em 2013. Tem músicas desse disco que inclusive são de antes. Daí um amigo meu falou em escrever um musical, eu quis escrever um musical, escrevi muitas músicas loucamente e, a partir daí, fiquei com vontade de fazer músicas que contem uma história. Isso não precisa ficar claro, mas eu queria contar uma história, e o disco conta uma história, em ordem – finalizou.
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Lucas acabou de lançar The life and death of Beeshop, segundo disco de seu projeto solo, Beeshop. Com a Fresno, havia lançado o EP Eu sou a maré viva, em 2014, e o disco Inifito, em 2012. A sinfonia de tudo que há é o sétimo disco da banda. Com 11 faixas, o disco passa por rocks já bastante característicos da Fresno, com riffs fortes e elementos eletrônicos (Deixa queimar), momentos de violão e voz (O ar tem praticamente só esses dois elementos) e composições épicas, que remetem à ideia de sinfonia (Poeira estelar e Axis mundi, por exemplo). Nas letras, a recente imersão de Lucas em assuntos espaciais segue recorrente, com usos dessa metáfora para falar sobre a insignificância do homem perante a grandiosidade do universo.
Parcerias de mestres
Disco do compositor Eduardo Gudin traz DNA dos sambas de festivais, com inéditas ao lado de Paulinho da Viola, Paulo César Pinheiro, Ivan Lins e Carlos Lyra, entre outros
“EDUARDO GUDIN & NOTÍCIAS DUM BRASIL 4” Eduardo Gudin COTAÇÃO: BomEduardo Gudin. Álbum traz homenagem a Paulinho Nogueira e regravação de parceria com Adoniran Barbosa |
Surgido na geração dos festivais da década de 1960 (suas músicas estiveram em edições de 1968 e 1969), Eduardo Gudin carrega no DNA a canção brasileira forjada naquele período. Um samba pós- bossa nova, centrado no violão, em harmonias trabalhadas, melodias delicadas, um certo romantismo ao mesmo tempo lírico e “realista”. Seu novo disco, “Eduardo Gudin & Notícias dum Brasil 4” (Realejo/ Dabliú) confirma isso, em suas 13 faixas repletas de ecos de Vinicius de Moraes, Toquinho, Paulinho da Viola, Paulo César Pinheiro, Carlos Lyra, o Aldir Blanc mais amoroso, Fátima Guedes, Paulinho Nogueira.
A força do disco, quase inteiramente de inéditas, está sobretudo no time de parceiros — muitos da lista acima. “Olhos sentimentais”, de Gudin com Pinheiro, abre com beleza o disco nas vozes juntas de Karine Telles, Ilana Volcov, Mauricio Sant’Anna e Cezinha Oliveira — que integram o grupo Notícias dum Brasil, ao lado dos percussionistas Jorginho Cebion, Raphael Moreira, Ewerton de Almeida e Osvaldo Reis. Em uníssono, elas apresentam com doçura a melodia e a letra (ambas afiadas), preparando o terreno para a voz rouca de Pinheiro. O poeta é parceiro também em “Tempo de espera”, citação declarada ao romantismo de Vinicius.
É o primeiro de muitos sambas de (fim de) amor do disco, cada um a partir de uma perspectiva. Se “Olhos sentimentais” aborda o fim “pelo bem do seu amor/ (...)/ pra buscar a paz”, “Por que razão?”, com Toquinho (que também participa, como outros parceiros), parte do desespero do personagem que tenta recuperar o amor (“Tentei cartomante/ Busquei um babalaô”).
A rara inédita de Paulinho da Viola (parceria com Gudin) não está entre os destaques. Mas “Nem no samba eu vou” interessa na combinação de leveza e angústia, no depoimento do boêmio aposentado que tenta refazer a fama.
Mais contundentes são “Outro cais”, de Gudin com J.C. Costa Netto (e citação a canção de Aldir e Cristóvão Bastos) e a participação da dupla Aurélie & Verioca; “Do jeito que você tem” ( melodia e harmonia com a assinatura reconhecível do melhor de Ivan Lins, que também toca na faixa) e “Eu te amo”, na qual a parceira é Fátima Guedes.
O disco mantém a beleza em momentos como o tributo a Paulinho Nogueira (“De todo meu violão”) e as parcerias com Carlos Lyra (“O amor e a canção”) e Adoniran Barbosa (regravação de “Armistício”, dos incríveis versos “Pois você é igual ovelha/ Que perde o pelo/ Mas não perde o vício”); sempre apoiado em arranjos simples, inclusive os vocais, que vestem as canções ora com elegância ora com convencionalismo, sem valorizá-las especialmente ou escondê-las.
OUTROS LANÇAMENTOS:
“Betty’s blends volume 2” Chris Robinson Brotherhood Cotação: Bom
O Grateful Dead se foi de vez, mas a sua herança psicodélica pode ser ouvida nesse álbum, de edição limitada, gravado ao vivo durante a turnê da CRB pelos EUA em 2014, com os macios grooves do seu rock-folk-blues soltando névoa púrpura por toda a parte. ( C.A.)
“Another one” Mac Demarco Cotação: Bom
Imagine alguém que tentasse emular o pop-rock radiofônico de mais de 30 anos atrás com displicência quase punk: por aí vai o canadense em mais um de seus discos (agora um mini-LP), no qual sonoridades datadas ressurgem amorosas e as composições são pequenos achados. ( S.E.)
“Viamundo” Thiago Delegado Cotação: Bom
Em seu terceiro álbum, o jovem violonista e compositor transita entre a malandragem de sotaque carioca e certa musicalidade de sua Minas natal. Em meio a participações de João Donato, Leila Pinheiro e outros, há espaço para choro, samba sincopado e samba-jazz-suburbano. (L.L.)
“FM solo” Felipe Machado Cotação: Bom
Guitarrista do Viper há 30 anos, Felipe estreia solo, com as distorções de sempre e algumas surpresas, como a boa performance vocal. Sem deixar o peso de lado, ele se garante nas composições e letras, em inglês. Destaca-se também a atuação de Val Santos, em instrumentos diversos. ( B.A.)
“Para além do muro do meu quintal” Fred Martins Cotação: Bom
Gravado em Lisboa, o álbum do cantor, violonista e compositor fluminense radicado na Espanha o traz de volta em boa forma, com seu bom domínio das linguagens da música brasileira aditivado por toques de africanidade. Acústico, o disco é a apoteose das suas buriladas canções. ( S.E.)
“1 Hopeful Rd.” Vintage Trouble Cotação: Ótimo
SOM DO NORTE
Seu Pereira e Coletivo 401
por Adriele Miciano
Seu Pereira é só mais um dos muitos passageiros do Coletivo 401, ônibus real e metafórico que cruza a capital paraibana. Circula pelo centro lotado de gente apressada e sonhadora.” A banda é composta por Jonathas Falcão (Vocal e Violão)/ Thiago Sombra (Baixo) /Victorama (Bateria)/ Chico Correa (Guitarra).
A banda já se apresentou nos principais festivais da Cidade de João Pessoa, a exemplo do Festival Mundo, Grito Rock e Estação Nordeste. Também fez o show de encerramento do Festival MPBeco 2010 em Natal.
Seu Pereira e Coletivo 401 traz em seu álbum a mistura típica do povo brasileiro: em um mesmo álbum pode-se falar de diversos assuntos (desde o romance até a luta diária de um brasileiro eu trabalha para sustentar a família). A banda fala da realidade brasileira de uma forma que se possa compreender desde o Norte até o Sul do Brasil.
Me permitam fazer uma rápida associação entre o som de Seu Pereira e Coletivo 401 e Criolo; ambos falam da realidade exatamente como ela é, não camuflam os perigos/problemas de um país, nem se permitem fazer um som só para vender discos. A música é a paixão de ambos artistas, e o sangue que corre em suas veias, são impulsionados pela verdade.
Seu Pereira e Coletivo 401 é original de Paraíba – a banda possui um som único, extremamente descritivo que chega a se tornar palpável; um exemplo claro desse som/poesia original de Seu Pereira é a Música intitulada CABIDELA, que nos apresenta a realidade vivida em todos os cantos do Brasil, seja em São Paulo/Rio/Paraíba. A violência, infelizmente, ainda faz parte da nossa rotina. “É bala comendo gente, é gente comendo barro. É barro, é lama preta, é berro de mãe aflita. Será que morreu de morte matada, ou morte morrida?”.
Por sorte aprendemos que nossa estante musical é igual coração de mãe, sempre cabe mais um disco e mais um artista ilustre. Seja bem vindo Seu Pereira e Coletivo 401, a nossa casa é a sua casa. Parabéns pelo sucesso.
A banda já se apresentou nos principais festivais da Cidade de João Pessoa, a exemplo do Festival Mundo, Grito Rock e Estação Nordeste. Também fez o show de encerramento do Festival MPBeco 2010 em Natal.
Seu Pereira e Coletivo 401 traz em seu álbum a mistura típica do povo brasileiro: em um mesmo álbum pode-se falar de diversos assuntos (desde o romance até a luta diária de um brasileiro eu trabalha para sustentar a família). A banda fala da realidade brasileira de uma forma que se possa compreender desde o Norte até o Sul do Brasil.
Me permitam fazer uma rápida associação entre o som de Seu Pereira e Coletivo 401 e Criolo; ambos falam da realidade exatamente como ela é, não camuflam os perigos/problemas de um país, nem se permitem fazer um som só para vender discos. A música é a paixão de ambos artistas, e o sangue que corre em suas veias, são impulsionados pela verdade.
Seu Pereira e Coletivo 401 é original de Paraíba – a banda possui um som único, extremamente descritivo que chega a se tornar palpável; um exemplo claro desse som/poesia original de Seu Pereira é a Música intitulada CABIDELA, que nos apresenta a realidade vivida em todos os cantos do Brasil, seja em São Paulo/Rio/Paraíba. A violência, infelizmente, ainda faz parte da nossa rotina. “É bala comendo gente, é gente comendo barro. É barro, é lama preta, é berro de mãe aflita. Será que morreu de morte matada, ou morte morrida?”.
Por sorte aprendemos que nossa estante musical é igual coração de mãe, sempre cabe mais um disco e mais um artista ilustre. Seja bem vindo Seu Pereira e Coletivo 401, a nossa casa é a sua casa. Parabéns pelo sucesso.
Som de Minas
"Olhe bem as montanhas", de Alexandre Andrés
Um trabalho que merece ser ouvido com atenção assentada é "Olhe bem as montanhas", do mineiro Alexandre Andrés. Antes deste ele lançou em formato CD "Aqualuz" e "Macaxeira Fields".
Com Trigo Santana (baixo), Antonio Goyaté (bateria) e Rafael Martini (piano) o disco foi gravado ao vivo no Retiro das Macieiras, do próprio Andrés. Há participação do pianista André Mehmari, do grupo Uakti, de quem Alexandre descende sendo filho do também flautista Arthur Andrés Ribeiro, e Chico Neves.
As influências do Clube da Esquina, projeto da década de 70 dos mineiros Milton Nascimento, Fernando Brant, Lô Borges, Beto Guedes e outros mais, são evidentes.
Mas, há algo além deste dejá vú que persegue os nascidos nas Geraes.
No repertório está "Mapa", de Marco Antonio Guimarães, seis parcerias de Alexandre Andres com Bernardo Maranhão, e três assinadas apenas pelo flautista.
Ouça AQUI Alexandre Andrés
Som do Mará