Amapá 247 - Aos 84 anos, o ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP) enfrentará a mais dura de suas batalhas políticas. Sarney já decidiu se candidatar a mais um mandato de senador, pelo Amapá, mas enfrentará uma frente ampla de opositores, que falam em "aposentá-lo". Como trunfos, ele tem apoio irrestrito do PMDB e também do ex-presidente Lula. "O presidente Sarney merece um prêmio pelo que já fez pelo País e também por sua longevidade", diz o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Congresso Nacional.
Na última segunda-feira, Renan e diversos senadores do PMDB se reuniram com o ex-presidente Lula para amarrar alianças regionais. Embora Sarney não estivesse presente, a questão do Amapá foi tratada e Lula enfatizou que seu apoio a Sarney é inegociável.
No entanto, tanto no Amapá, como no Maranhão, estado natal de Sarney, opositores se movem para aposentá-lo. "Será um prazer ajudar a colocar o senador Sarney num pijama", diz o senador João Alberto Capiberibe (PSB-AP), o Capi. "Será o encerramento de um projeto político clientelista e patrimonialista que não cabe mais no Brasil", cutuca.
Entre os presidenciáveis, dois nomes, Eduardo Campos, do PSB, e Randolfe Rodrigues, também têm feito críticas abertas ao senador. Campos, por exemplo, diz que, em seu governo, Sarney será oposição. Randolfe repete o discurso.
No Amapá, Capi orientou seu grupo, representado pelo governador Camilo Capiberibe, seu filho, a dar apoio incondicional à candidatura de Dora Nascimento, do PT, para a única vaga em disputa para o Senado. Dora voltou do encontro nacional do PT, em São Paulo, há duas semanas, animada por não ter recebido um veto explícito do presidente do partido, Rui Falcão, e mandou seus assessores tocar a campanha.
"Ela tem todas as condições para vencer e só não será nossa candidata ao Senado se o PT não quiser", avisa Capi. O problema de Dora leva o nome de Luiz Inácio Lula da Silva, o "comandante geral" da campanha petista que, ao priorizar a reeleição de Dilma – ninguém duvida – passará como um trator por cima das questões regionais.
Dora ouviu de Falcão que o comando nacional quer o apoio do PT do Amapá a Sarney. Mas como é ainda pré-campanha e para evitar a antecipação de uma crise anunciada, Falcão não deu ao desejo tom de imposição.
Ciente das dificuldades apontadas pelas pesquisas, Sarney recentemente na semana passada uma parada obrigatória em Macapá, a capital do estado por ele criado quando foi presidente da República.
Ele ainda não assumiu a candidatura, mas envolveu-se em intensa costura de bastidores para tentar conter o crescimento da candidatura do candidato do DEM, Davi Alcolumbre, e também conter os movimentos de Dora, que aparece em quarto lugar. Com o ex-senador Gilvam Borges (PMDB), o terceiro nas pesquisas, seu fiel escudeiro, Sarney nem se preocupa. Confia na hipótese de que ele abriria mão da disputa a seu favor.
O senador Capiberibe, no entanto, afirma que o quadro atual é bem diferente do de 2006, quando ele se se elegeu senador pela última vez. "Em 2006, o Sarney teve o apoio do governo, de 23 dos 24 deputados estaduais, de todos os deputados federais, de 13 dos 16 prefeitos e de todos os vereadores. Ainda assim, teve de despejar R$ 20 milhões no estado. O cenário agora é oposto: o Amapá quer se livrar de Sarney e, aos 84 anos ele sabe dos riscos que enfrentaria", diz Capi, para quem o fim do mais longo ciclo de hegemonia na história da República pode se dar por uma simples desistência de Sarney.
O ex-presidente, no entanto, não sinaliza a menor intenção desistência e já se prepara para mais uma campanha, que poderia coroar uma trajetória sem derrotas.