domingo, 15 de novembro de 2015

A crise na cidade mais 'dilmista' do País

MURILO RODRIGUES ALVES, ENVIADO ESPECIAL - O ESTADO DE S.PAULO

Belágua, no Maranhão, onde a presidente teve mais votos em 2014, enfrenta a alta de preços

BELÁGUA (MA) - Um ano após a reeleição da presidente Dilma Rousseff, a cidade mais “dilmista” do Brasil sofre as consequências da crise econômica e teme cortes nos benefícios sociais, o que impacta a popularidade da presidente. Até eleitores que dizem não estar arrependidos do voto na petista se dizem frustrados com o início do segundo mandato. Nem mesmo o prefeito do município, que também é do PT, poupa a presidente de críticas.

    Belágua, a 280 quilômetros de São Luís, foi o município que proporcionalmente deu mais votos para a reeleição de Dilma em 2014. No 2.º turno, 94% dos 3.788 votos válidos foram para a presidente. No 1.º turno, tinham sido 92%. Na eleição de 2010, a petista também tinha recebido mais votos de Belágua.

    
O casal Adão Torres da Silva e Tereza Xavier da Silva dizem estar
arrependidos de ter votado em Dilma

    Os moradores do município do semiárido maranhense sofrem com o aumento de preços, como na conta de luz, e a ameaça de cortes em programas como o seguro-defeso. Os problemas acentuados pela crise se somam à seca e à pobreza crônica.
    O prefeito, Adalberto Rodrigues, culpa a correligionária Dilma pelo quadro. “Ela que está no comando. A gente não imaginava que a situação ia chegar nesse ponto”, diz. O petista se queixa de que a presidente não reconheceu Belágua por ter sido a cidade que mais deu votos a ela proporcionalmente. “Nunca nos visitou nem fui convocado para uma audiência com ela. A presidente nunca sequer disse o nome de Belágua”, afirma.
    No município, o esgoto corre a céu aberto, a maioria das casas é de barro e o acesso difícil compromete ainda mais o atendimento de saúde à população. Boa parte do caminho é feita em estrada sem asfalto, com areia e rio, que dificultam a locomoção de carros de passeio.
    O índice de desenvolvimento humano de Belágua é um dos piores do Maranhão, que tem o segundo pior IDH do País. Neste ano, o governador do Estado, Flávio Dino (PC do B), criou um plano para superar a “extrema pobreza” dos 30 municípios maranhenses com pior IDH, entre os quais Belágua. O município tem índice de 0,512, sendo que o indicador varia de 0 a 1; quanto mais próximo de 1, maior é o desenvolvimento humano. Dos 217 municípios maranhenses, somente oito têm índice pior do que o de Belágua.
Bolso. Os aposentados Adão Torres da Silva, de 71 anos, e Tereza Rodrigues Xavier da Silva, de 69 anos, que fizeram questão de votar na presidente, afirmam que estão arrependidos da escolha. “Estão nascendo umas coisas erradas que a gente não entende muito bem, mas sentimos no bolso que as coisas estão pior”, diz o aposentado, que trabalha na roça, na produção de farinha de mandioca. Ele diz que conseguia antes vender um saco de 60 quilos de farinha por R$ 100; agora, não acha quem pague R$ 80.
    Do lado das despesas, Tereza reclama do aumento da conta de luz e dos alimentos. “A gente votou nela porque achou que as coisas iam melhorar, mas tudo piorou”, afirma. Evangélica, ela diz que o pastor afirmou que a presidente corre o risco de deixar o cargo antes do fim do mandato, em 2018, por irregularidades que teria cometido.
    “O pastor diz que esse governo não está sendo muito bom para os pobres”, afirma a aposentada. Tereza diz ainda que, agora, tem de aguentar a cobrança da neta Tamires, de 15 anos, “que fica dizendo o tempo todo que tinha dito que não era para votar na presidente”.
Prefeito. A população do município está também decepcionada com o prefeito. Segundo as queixas, ele só aparece no município em alguns dias da semana. No início do mês, a reportagem o procurou ao longo de todo o dia na prefeitura e na casa dele em Belágua. Em vão. Só conseguiu conversar com ele, por telefone, no fim da tarde.
    Rodrigues afirmou que foi no dia anterior à sede da prefeitura e que na quinta-feira estava em visita a municípios vizinhos. “Com o Brasil do jeito que está, é muito fácil o prefeito colocar tudo nas costas dela (Dilma) e não fazer nada”, diz o comerciante Paulo Jorge Alves, de 45 anos.
    Carlos Souza Silva, de 35 anos, foi um dos 230 eleitores que votaram no candidato da oposição, senador Aécio Neves (PSDB-MG), assim como fez o ex-governador do Maranhão José Sarney. “Sabia que tudo ia piorar com a Dilma”, diz o mototaxista, que recebe o seguro-defeso, benefício que só teria direito quem vive da pesca artesanal. “Não sei se com ele seria diferente... Mas se ela ficar aí, vai levar de cinco a seis anos para a situação melhorar”, acredita.
BELÁGUA - Possíveis cortes em benefícios socais, principais fontes de renda de Belágua, deixam preocupados os eleitores de Dilma Rousseff. Mais de 70% da população é beneficiada pelo Bolsa Família. Das 7,2 mil pessoas que vivem no município, 2,1 mil recebem o seguro-defeso, benefício de um salário mínimo, em teoria, pago a pescadores artesanais no período em que a pesca é proibida.
Só em 2015, Belágua recebeu R$ 3,7 milhões do Bolsa Família, valor superior à cota repassada pelo Fundo de Participação dos Municípios (FPM). “Só de falar que vai ter corte no Bolsa Família, o povo fica revoltado”, diz o agricultor Augusto Saminez, de 60 anos. A família dele recebe R$ 154 por mês do benefício. Ele reclama do aumento dos preços dos alimentos. “Antes você comprava um quilo de frango por R$ 7. Agora está R$ 10.”
Belágua não tem empresas. As pessoas trabalham na roça, em pequenos comércios ou para a prefeitura. “As finanças do município estão à beira do caos”, afirma o prefeito Adalberto Rodrigues (PT). Ele critica a suspensão da proibição da pesca pelo governo federal. A medida impede o desembolso do seguro-defeso, benefício pago a pescadores impedidos de ter o sustento pela pesca. Em Belágua, porém, quase 30% da população recebia o benefício, mesmo não vivendo da pesca. O “bolsa pescador” injetou em Belágua, ao todo, R$ 14,4 milhões.
“Aqui não tem ninguém rico. Todo mundo vive da lavoura. A situação é bem precária. Temos os açudes, mas não tem água. Se cortar mesmo o seguro, vamos viver de quê?”, questiona o presidente da associação dos pescadores de Belágua, Fernando Rodrigues Saminez. O governo suspendeu o pagamento do benefício por quatro meses e espera recadastrar os beneficiários. Com a medida, pretende economizar R$ 1,2 bilhão.

'Sem seguro, vamos viver de quê?'
BELÁGUA - Possíveis cortes em benefícios socais, principais fontes de renda de Belágua, deixam preocupados os eleitores de Dilma Rousseff. Mais de 70% da população é beneficiada pelo Bolsa Família. Das 7,2 mil pessoas que vivem no município, 2,1 mil recebem o seguro-defeso, benefício de um salário mínimo, em teoria, pago a pescadores artesanais no período em que a pesca é proibida.
Só em 2015, Belágua recebeu R$ 3,7 milhões do Bolsa Família, valor superior à cota repassada pelo Fundo de Participação dos Municípios (FPM). “Só de falar que vai ter corte no Bolsa Família, o povo fica revoltado”, diz o agricultor Augusto Saminez, de 60 anos. A família dele recebe R$ 154 por mês do benefício. Ele reclama do aumento dos preços dos alimentos. “Antes você comprava um quilo de frango por R$ 7. Agora está R$ 10.”

Belágua não tem empresas. As pessoas trabalham na roça, em pequenos comércios ou para a prefeitura. “As finanças do município estão à beira do caos”, afirma o prefeito Adalberto Rodrigues (PT). Ele critica a suspensão da proibição da pesca pelo governo federal. A medida impede o desembolso do seguro-defeso, benefício pago a pescadores impedidos de ter o sustento pela pesca. Em Belágua, porém, quase 30% da população recebia o benefício, mesmo não vivendo da pesca. O “bolsa pescador” injetou em Belágua, ao todo, R$ 14,4 milhões.

“Aqui não tem ninguém rico. Todo mundo vive da lavoura. A situação é bem precária. Temos os açudes, mas não tem água. Se cortar mesmo o seguro, vamos viver de quê?”, questiona o presidente da associação dos pescadores de Belágua, Fernando Rodrigues Saminez. O governo suspendeu o pagamento do benefício por quatro meses e espera recadastrar os beneficiários. Com a medida, pretende economizar R$ 1,2 bilhão.