Janaína Nonato e o Mestre Bita, Barão de Guaré
O pai de santo Bita do Barão,
batizado na igreja católica como Wilson Nonato de Souza, revela ao jornalista
Arthur Veríssimo que apesar de não gostar, é procurado e faz magia negra por
dinheiro. A revelação está no livro “Gonzo!” (Realejo Livro, 2014), obra
comemorativa dos 30 anos de atividade jornalística do autor, inspirado no estilo
criado pelo norte-americano Hunter Thompson. As 30 reportagens reunidas no
volume foram publicadas na revista Trip.
No capítulo 17 do livro, sob o título
“Bat-Macumba”, Arthur Veríssimo desvenda no estilo jornalístico narrativo de
ação sua passagem pela tenda de terecó do personal guru da família Sarney. Diz
que quase incorporou o caboclo sete flechas.
O jornalista foi recebido pelo maior
pai de santo do Brasil, Bita do Barão, na tenda espírita de umbanda Rainha
Iemanjá, em Codó, 290 quilômetros distante da capital, São Luís. Segundo
confirma Veríssimo, Codó é conhecida em todo Brasil com as denominação de Terra
do Feitiço, Meca da Macumba, Capital da Magia Negra, etc. Pelas estatísticas levantadas por Arthur
Veríssimo, em Codó estão em atividades 260 terreiros (tendas de umbandas), além
de 200 “mesinhas” (nas internas).
Convidado a participar da festança de
Santa Bárbara (Iansã), Veríssimo foi à cidade acompanhado do fotógrafo
Christian Gaul. Na preparação preliminar para o encontro com Bita, o jornalista
se jogou na leitura de “O Dono do Mar”, de José Sarney. “Por incrível que
pareça, o ex-presidente é um baita contador de histórias”, encanta-se o
descontraído Veríssimo.
A conversa entre o pai de santo e o
jornalista aconteceu no megaterreiro de Bita, na rua Rui Barbosa, 209, centro
de Codó. O tema macabro é tratado no subtítulo “Sarney pra se coçar”. “Comenta-se
que o senhor teria feiro um despacho para o Sarney assumir a presidência no
lugar de Tancredo (em 21 de abril de 1985, morreu Tancredo Neves e, em seu
lugar, assumiu o vice, José Sarney). O senhor fez”, pergunta Veríssimo ao
mestre que responde depois de bocejar: “Não, senhor. E, se tivesse feito, não falaria.
Não tenho nada a ver com isso e não quero nem falar. Que Deus tenha o Tancredo
lá junto dele, pronto”, roga Bita.
Mais adiante, o pai-de-santo admite: “Não
gosto de fazer vingança, mas sou procurado. Para ganhar dinheiro, faço. De
morte, não seu te falar. Todo mundo sabe que macumbeiro bom faz essas coisas e
que sou meio quente na macumba. Para crescer o nome, tem que fazer alguma para
provar. Mas não boto meu nome lá na história, nunca tive ódio de ninguém.
Quando faço, é o cliente que está fazendo, estou apenas dando o recado”, revela
o Barão de Guaré que diz incorporar dezenas de santos.