Sarney fala de "legado social do governo do PMDB" e se mostra disposto a limpar a imagem dos políticos. Em ano eleitoral, é o início de uma conversa para evitar o avanço do PT sobre municípios peemedebistas
Podem falar o que quiser do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Fernando Collor, por exemplo, hoje colega de plenário na Casa, ganhou muitos votos quando candidato a presidente da República xingando o ocupante do Planalto. A mesma coisa fez Lula, atualmente, um dos melhores amigos. É, a vida dá voltas. Na imprensa, então, Sarney é tratado a ferro e fogo. Mas uma coisa ninguém pode negar: Ele entende de política como ninguém. E, do alto dos 80 e tantos anos, fez um discurso que, para os desatentos, pode ter sido mais um blá-blá-blá. Mas sua fala delineou caminhos e um vislumbre de futuro rumo ao resgtate da imagem do PMDB.
Sarney conseguiu ontem marcar com estilo seu retorno à Presidência da Casa depois da licença médica — ele passou por cateterismo em 14 de abril. Declarações sobre autonomia de CPI à parte — divulgadas logo cedo nos sites de notícias —, o discurso de plenário destaa manhã vale uma lupa. Nas entrelinhas, ele apresentou três eixos básicos: o governo do social, os políticos como uma turma do bem e a importância dos partidos, com destaque, obviamente, para o que considera as vantagens do PMDB.
O primeiro eixo tenta acabar com a velha cantilena “o povo não esquece, Sarney é PDS”, frase batida no bumbar de várias greves durante seu governo. O próprio governo Sarney deixou de existir. Na fala de quem comandava o país naquela época, virou “o governo do PMDB”, cuja marca frisada no pronunciamento foi o “tudo pelo social”. E assim Sarney foi desfiando os números para corroborar a sua tese: “6 milhões atendidos pelo programa do leite, 18 milhões com o vale-refeição, 11 milhões de beneficiados pela alimentação suplementar às crianças”. Falou ainda da redução da mortalidade infantil, da farmácia básica “concedida naquele tempo”. Tudo feito pelo governo do PMDB.
Por falar em tempo…
Sarney pulou um pedaço da história política do Brasil. Depois de citar o “governo do PMDB” como do legado social, emendou com um “que veio a consolidar-se no governo Lula e continua no governo Dilma Rousseff”. Ora, cadê Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso? Não digo nem o de Fernando Collor, primeiro sucessor de Sarney. Afinal, o governo Collor não durou três anos. É mais lembrado pela corrupção e pelo confisco da poupança do que por algum benefício à população. O de Itamar fez o Plano Real, que permitiu avanços sociais, e o de Fernando Henrique Cardoso seguiu na mesma linha, consolidou o Real, fortaleceu o sistema financeiro e a responsabilidade fiscal, sem contar a bolsa-escola e outros programas sociais. Se algum estudante for se basear no pronunciamento de Sarney para aprender história, pode pensar que os governos desses políticos não existiram.
Por falar em políticos…
Sarney fez o que pode em sua fala para limpar a imagem da classe. Ao se referir ao país como uma construção política e de políticos, lembrou que eles são “atacados, insultados, responsabilizados por tudo, mas foram eles que construíram as instituições” e mantiveram a unidade nacional. Foram os construtores do Brasil. E, sendo assim, nada mais injusto do que falar mal deles.
A sessão ordinária do Senado ontem à tarde, entretanto, é a prova de que durou pouco a felicidade dos senadores com o discurso de Sarney — justiça seja feita, não totalmente desprovido de razão. Outro peemedebista, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) descascou os políticos da CPI do Cachoeira e aqueles que, ao longo da história, jamais permitiram uma CPI para investigar corruptores, em especial, empreiteiras como a Delta. Agora, diz Simon, um histórico do PMDB, a CPI perdeu a oportunidade: a Delta acabou, Fernando Cavendish pode sair do país e o retorno de algum dinheiro aos cofres públicos, ó…
Por falar em históricos do PMDB…
O terceiro eixo citado por Sarney em seu discurso é aquele que o mantém unido a Simon: o PMDB é um partido aberto, no qual cabe de tudo. Nos tempos de Movimento Democrático Brasileiro (MDB), foi o pai de todos os partidos de esquerda. Na hora do “vamos ver”, é ao PMDB, com sua grande bancada, que todos recorrem. Itamar, Fernando Henrique Cardoso, Lula e agora Dilma, que tem o vice-presidente Michel Temer, um ícone peemedebista.
Enquanto o PMDB for grande e unido, esse senhor de 46 anos não é páreo para nenhum partido “garotão”. E, por incrível que pareça, quem tenta resgatar a imagem tanto do partido é Sarney, a maior raposa política da legenda. Esse discurso, em ano eleitoral, é o início de uma conversa para tentar o avanço do PT sobre os municípios peemedebistas.
Do Correio Braziliense
Podem falar o que quiser do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Fernando Collor, por exemplo, hoje colega de plenário na Casa, ganhou muitos votos quando candidato a presidente da República xingando o ocupante do Planalto. A mesma coisa fez Lula, atualmente, um dos melhores amigos. É, a vida dá voltas. Na imprensa, então, Sarney é tratado a ferro e fogo. Mas uma coisa ninguém pode negar: Ele entende de política como ninguém. E, do alto dos 80 e tantos anos, fez um discurso que, para os desatentos, pode ter sido mais um blá-blá-blá. Mas sua fala delineou caminhos e um vislumbre de futuro rumo ao resgtate da imagem do PMDB.
Sarney conseguiu ontem marcar com estilo seu retorno à Presidência da Casa depois da licença médica — ele passou por cateterismo em 14 de abril. Declarações sobre autonomia de CPI à parte — divulgadas logo cedo nos sites de notícias —, o discurso de plenário destaa manhã vale uma lupa. Nas entrelinhas, ele apresentou três eixos básicos: o governo do social, os políticos como uma turma do bem e a importância dos partidos, com destaque, obviamente, para o que considera as vantagens do PMDB.
O primeiro eixo tenta acabar com a velha cantilena “o povo não esquece, Sarney é PDS”, frase batida no bumbar de várias greves durante seu governo. O próprio governo Sarney deixou de existir. Na fala de quem comandava o país naquela época, virou “o governo do PMDB”, cuja marca frisada no pronunciamento foi o “tudo pelo social”. E assim Sarney foi desfiando os números para corroborar a sua tese: “6 milhões atendidos pelo programa do leite, 18 milhões com o vale-refeição, 11 milhões de beneficiados pela alimentação suplementar às crianças”. Falou ainda da redução da mortalidade infantil, da farmácia básica “concedida naquele tempo”. Tudo feito pelo governo do PMDB.
Por falar em tempo…
Sarney pulou um pedaço da história política do Brasil. Depois de citar o “governo do PMDB” como do legado social, emendou com um “que veio a consolidar-se no governo Lula e continua no governo Dilma Rousseff”. Ora, cadê Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso? Não digo nem o de Fernando Collor, primeiro sucessor de Sarney. Afinal, o governo Collor não durou três anos. É mais lembrado pela corrupção e pelo confisco da poupança do que por algum benefício à população. O de Itamar fez o Plano Real, que permitiu avanços sociais, e o de Fernando Henrique Cardoso seguiu na mesma linha, consolidou o Real, fortaleceu o sistema financeiro e a responsabilidade fiscal, sem contar a bolsa-escola e outros programas sociais. Se algum estudante for se basear no pronunciamento de Sarney para aprender história, pode pensar que os governos desses políticos não existiram.
Por falar em políticos…
Sarney fez o que pode em sua fala para limpar a imagem da classe. Ao se referir ao país como uma construção política e de políticos, lembrou que eles são “atacados, insultados, responsabilizados por tudo, mas foram eles que construíram as instituições” e mantiveram a unidade nacional. Foram os construtores do Brasil. E, sendo assim, nada mais injusto do que falar mal deles.
A sessão ordinária do Senado ontem à tarde, entretanto, é a prova de que durou pouco a felicidade dos senadores com o discurso de Sarney — justiça seja feita, não totalmente desprovido de razão. Outro peemedebista, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) descascou os políticos da CPI do Cachoeira e aqueles que, ao longo da história, jamais permitiram uma CPI para investigar corruptores, em especial, empreiteiras como a Delta. Agora, diz Simon, um histórico do PMDB, a CPI perdeu a oportunidade: a Delta acabou, Fernando Cavendish pode sair do país e o retorno de algum dinheiro aos cofres públicos, ó…
Por falar em históricos do PMDB…
O terceiro eixo citado por Sarney em seu discurso é aquele que o mantém unido a Simon: o PMDB é um partido aberto, no qual cabe de tudo. Nos tempos de Movimento Democrático Brasileiro (MDB), foi o pai de todos os partidos de esquerda. Na hora do “vamos ver”, é ao PMDB, com sua grande bancada, que todos recorrem. Itamar, Fernando Henrique Cardoso, Lula e agora Dilma, que tem o vice-presidente Michel Temer, um ícone peemedebista.
Enquanto o PMDB for grande e unido, esse senhor de 46 anos não é páreo para nenhum partido “garotão”. E, por incrível que pareça, quem tenta resgatar a imagem tanto do partido é Sarney, a maior raposa política da legenda. Esse discurso, em ano eleitoral, é o início de uma conversa para tentar o avanço do PT sobre os municípios peemedebistas.
Do Correio Braziliense