terça-feira, 30 de março de 2021

Max, um florista sem auxílio

Max Douglas França

Há trinta anos um homem caminha por entre mesas e pessoas na libidinosa noite da Choperia Marcelo carregando um artefato em forma de buquê comercializando a beleza e sedução das rosas. Ele é o florista Max Douglas França, 57 anos, nascido em São Luís. 

Max Florista ficou de fora do grupo de beneficiários do auxílio emergencial que o Governo do Estado instituiu para os colegas de profissão, por razões institucionais: recebe o auxílio doença, benefício assistencial garantido pela Lei Orgânica da Assistência Social. O valor mensal do auxílio é de um Salário Mínimo.

“Quando veio a primeira onda do coronavírus fiquei sem ter como trabalhar. Então fiquei me endividando entre empréstimos na Crefisa, Itaú e Bradesco. Agora estou atolado em quatro empréstimos”, relata.

Morador em casa próxima na Vila Magril, região da Santa Bárbara em São Luís, há 30 anos Max Florista se desloca para a casa de diversão localizada no retorno da Forquilha para tentar a sorte da venda de flores. A jornada, antes da pandemia, era entre quarta e domingo; agora entre sexta e domingo, das 19 às 3 ou 4 da manhã. Vai depender da sua resistência física e da movimentação e estado etílico do seu público alvo.

Após dois AVCs (Acidentes Vasculares Cerebrais), a jornada de Max passou a ser um fardo devido à dificuldade de locomoção. Puxando de uma perna, passou a se esgueirar da freguesia mais excitada em busca de clientes românticos natos ou dos conquistadores afoitos.

Antes eram os homens que compravam para fazer a oferta-convite às damas ou parceiras da noite. A diversidade sexual dos tempos contemporâneos embaralhou a clientela.  “Já teve vezes que abordei uma mesa formada por quatro homens oferecendo as flores. E eles perguntaram: está vendo alguma mulher aqui. Respondi que poderiam oferecer para suas irmãs ou mães. Então eles entendiam errado: “estás me chamando de filho da puta?. Dizia: não, sua mãe em casa é sua mãe”, relaxa Max.  

Quando começou no ramo, as flores eram naturais. As artificiais eram confeccionadas por ele mesmo. Pouco a pouco, o perfume das rosas passou a ser borrifado sobre o material sintético pelo próprio florista. Não grava o nome de perfumes. Sobre a fragância, vai depender da situação financeira do comerciante. “Tem aqueles baratim”, menciona. Por fim, o material importado passou a ser mais lucrativo e virou exclusividade. 

Mensalmente dá para tirar cerca de R$ 600,00 por mês. Mas há ocasiões em que o lucro é estratosférico e fatura quase R$ 100 na noite. Essas são raras. A unidade é adquirida no mercado local ao preço que varia entre R$ 5 e R$10.

Na noite da Marcelo Max raramente senta para descansar da jornada de trabalho. Não bebe, não fuma, seus vícios não são ostensivos. 

Max não se define como um florista. “Sou vendedor ambulante”, resume. Pai de três filhos. No sábado passado, Max Florista atendeu a uma chamada de telefone com entusiasmo. Sem local de venda, paralisado pelas restrições em favor da contenção à expansão da Covid-19, Max não reclamou por ficar excluído do auxílio. “Queria era sair daqui”, diz Max. 

O aqui ao qual ele se refere é um leito do Hospital da Mulher para onde foi levado há uma semana para tratar de dores nos membros inferiores e, principalmente, de um dedo gangrenado. Antes de dar entrada na casa de saúde da rede municipal, Max passou pela Centro de Saúde do São Bernardo, e UPAs da Cidade Operária, do Bequimão e do Anjo da Guarda. 

No HM fez dois testes para verificar se tinha contraído o novo coronavírus nesse périplo. Deram negativo. “Não seu se eles vão resolver amputar meu dedo. Quero que resolvam logo”, diz, conformado.