quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Abertas as inscrições para o projeto Aluguel no Centro


Os proprietários de imóveis no centro histórico de São Luís poderão se inscrever no projeto Aluguel no Centro lançado pela Secretaria de Estado de Cidades do Governo do Maranhão. As inscrições podem ser feitas pelo site aluguelnocentro.ma.gov.br ou presencialmente na Secretaria de Estado de Governo (Segov), localizada no Ed. João Goulart, Av. Pedro II, centro.

Para os interessados na moradia a previsão é de que as inscrições se iniciam no dia 1º de março. A partir dessa data a lista dos imóveis estará disponível no site podendo o interessado fazer a sua escolha. Em caso de haver mais de um interessado pelo mesmo imóvel, o beneficiário será definido por sorteio.

Para tirar dúvidas e obter mais informações os interessados podem entrar em contanto pelos seguintes canais de comunicação: pelo site aluguelnocentro.ma.gov.br, e-mail aluguelnocentro@segov.ma.gov.br ou pelo telefone (98) 2016-4275.

 O projeto Aluguel no Centro e novos editais do Adote um Casarão, que fazem parte do Programa Estadual Nosso Centro, são medidas de fomento à economia do estrado. O Aluguel no Centro tem como objetivo incentivar a habitação no centro da capital, facilitando o acesso à moradia no atual momento de crise, assegurar a recuperação e preservação de imóveis e fomentar o comércio e o desenvolvimento sustentável.

O secretário de Cidades, Márcio Jerry, chamou a atenção para dois editais em especial, o do casarão onde funcionou em décadas passadas o conhecido Moto Bar, e outro que foi sede do Iterma. Pelo projeto empresas privadas terão a oportunidade de fazer reformas dos casarões, de propriedade do Governo do Maranhão, e ocupá-los de forma gratuita, para instalar projetos e atividades econômicas.

“O programa Nosso Centro vem progressivamente aperfeiçoando suas ações, que visam definitivamente repaginar o centro de São Luís, cuidar do patrimônio cultural e dinamizar atividades econômicas, explorando as potencialidades locais”, declarou o secretário Márcio Jerry.

 Podem participar do Aluguel no Centro servidores públicos (federais, estaduais e municipais de São Luís), comerciantes com CNPJ ativo e trabalhadores com carteira assinada. O Governo do Estado pagará 80% do valor do aluguel, com concessões válidas por períodos de até 5 anos. 

Outra ação anunciada durante a coletiva foram os editais do Adote um Casarão. O projeto tem como meta ocupar 15 casarões, dos quais 10 já estão disponíveis e os demais em obras.

 

Estadão - Governo inexistente

 Para o País que trabalha e produz, está claro que não se deve contar com um governo que não existe mais, se é que algum dia existiu.

A palavra do presidente Jair Bolsonaro não vale nada. Diz algo num dia para desmentir suas próprias declarações no dia seguinte, desmoralizando-se como chefe de governo. Bolsonaro tornou-se sinônimo de caos – sua especialidade desde que aprontava como militar indisciplinado.

A rigor, sua gestão nem pode mais ser chamada de “governo”, pois um governo presume alguma direção, projetos claros e liderança política razoavelmente sólida. Bolsonaro não inspira nada disso: é, ao contrário, fonte de permanente inquietação e desorganização.

Para o País que trabalha e produz, está claro que não se deve contar com um governo que não existe mais, se é que algum dia existiu. Pior: é preciso encontrar maneiras de defender a vida e o patrimônio da dilapidação institucional e administrativa promovida pelo bolsonarismo.

Raros são os ministros de Bolsonaro que se salvam. A mediocridade é tamanha que o País aplaude quando um ministro não faz mais que sua obrigação e não atrapalha seu setor. Em áreas estratégicas, como Educação, Saúde, Meio Ambiente e Relações Exteriores, há mais do que simples incapacidade: Bolsonaro colocou ali ministros cuja missão parece ser a de ajudá-lo a vandalizar o Brasil.

De vez em quando, alguém lembra do dever de chamar esses sabotadores à responsabilidade. Atendendo a uma representação do partido Cidadania, que acusa o almoxarife que comanda a Saúde, Eduardo Pazuello, de omissão diante da crise de desabastecimento de oxigênio para doentes de covid-19 em Manaus, a Procuradoria-geral da República requereu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a instauração de inquérito.

Não deve ter sido fácil para o procurador-geral da República, Augusto Aras, fazer o requerimento, mas, premido pela indignação nacional, decidiu afinal tomar alguma providência, e o ministro do STF Ricardo Lewandowski rapidamente atendeu ao pedido de inquérito.

A insanidade no Ministério da Saúde, que agora se tornou caso de polícia, retrata com fidelidade a essência do governo Bolsonaro – mas, em defesa do intendente, enfatize-se que a responsabilidade final e soberana é de quem o colocou lá.

Foi Bolsonaro quem passou os últimos meses a fazer campanha contra a vacina, contra o distanciamento social e contra as autoridades que trabalhavam para conter a pandemia. Promoveu aglomerações, receitou remédios inúteis e perigosos e escarneceu de mortos e doentes.

Pazuello, portanto, não é causa, mas consequência de um catastrófico desgoverno – cujo presidente ninguém de bom senso leva mais a sério e cujo principal fiador, o outrora superpoderoso ministro da Economia, Paulo Guedes, sai de férias e ninguém dá pela falta.

Aos brasileiros aflitos com as sombrias perspectivas econômicas após o fim do auxílio emergencial, Bolsonaro reserva o mais absoluto desdém: “Lamento muita gente passando necessidade, mas nossa capacidade de endividamento está no limite”. Ou seja, Bolsonaro não perde o sono diante do sofrimento de milhões de brasileiros a quem lhe coube governar e não toma nenhuma medida para cortar gastos e viabilizar o imprescindível auxílio emergencial.

Tampouco se empenha pelas reformas e pelas privatizações. A recente renúncia do presidente da Eletrobrás, Wilson Ferreira Júnior, está diretamente relacionada à dificuldade de tocar adiante a privatização da estatal, em razão da falta de envolvimento de Bolsonaro. Não foi o primeiro a abandonar o barco por frustração das expectativas criadas pelo discurso supostamente liberal de Bolsonaro – no qual só acreditou quem quis.

O objetivo de Bolsonaro na política sempre foi o de salvaguardar os interesses de seu clã. Não é por outro motivo que entrou de cabeça no processo sucessório das Mesas Diretoras do Congresso. Quer ali políticos que lhe sejam fiéis o bastante para livrá-lo do impeachment, blindar a filharada e, de quebra, aprovar meia dúzia de projetos para agradar a sua base de fanáticos. Os mortos, os doentes, os desempregados e os famintos só lhe interessam na exata medida de seu projeto de reeleição. Foi a isso que Bolsonaro reduziu a Presidência da República.

NOS JORNAIS

                                                                             

 

 

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Estadão - O vício das disputas

 Existem pessoas simplesmente viciadas em disputas de opinião. Precisam estar irremediavelmente sempre certas. Sentem um inexplicável prazer nisso, uma satisfação pela discussão e por superar o diálogo. Elas gostam do embate de argumentos, sentem-se poderosas quando pensam ter conseguido desarmar o oponente, deixando-o sem palavras. Pessoas assim querem sempre debater, mas desde que consigam fazer prevalecer seus pontos de vista. Encaram toda conversa como uma disputa e querem vencer. Para elas, a vida foi orientada para o sucesso, como critica Jürgen Habermas.

Como todo viciado em jogos, pessoas assim não aceitam perder. Estão sempre criando armadilhas argumentativas para que o outro caia nelas e acabam vivendo da ilusão de que são inteligentes porque parecem espertas. Em geral, gostam de repetir o que ouviram e serve aos seus interesses, não importa se o que dizem é real ou não: o importante é que pareça lógico e tenha força persuasiva ou de convencimento (na visão delas, é claro). Não gostam de ser contrariadas.

Todos nós conhecemos pessoas assim. E não apenas nas redes sociais. Em certas situações, nós somos também muito parecidos com elas. Mas gostamos de pensar que não somos viciados.

A primeira condição para o tratamento do vício é o reconhecimento dessa dependência. É assim com quem busca livrar-se do álcool, das drogas ilícitas ou dos jogos de azar.

Nossa cultura ainda não dá o devido valor e cuidado a dependências novas que vêm surgindo com a realidade virtual, as tecnologias móveis e a digitalização da vida social. A cultura do ódio e o descontrole das emoções são sintomas desse vício por disputas. Muitas pessoas parecem ter adoecido da dependência de conseguir vencer uma disputa opinativa optando por agredir, ofender ou desqualificar o outro. Começam a tornar, aos poucos, esse comportamento como que um traço de sua personalidade. Pessoas assim acabam se tornando compulsivas, mesmo sem notar.

Dominique Wolton surpreendeu especialistas em comunicação quando sentenciou, poucos anos atrás, que não nos comunicamos apenas porque interagimos, diferentemente do que pensam outros teóricos tão relevantes quanto ele. É preciso que exista mais que interação para que haja uma real comunicação.


É preciso que queiramos e possamos falar, e não nos protejamos na alienação dos silêncios, nem que falemos apenas a quem pensa como nós, porque, como explica Edgar Morin, não há diálogo se não for com a diferença. É preciso também que tenhamos capacidade de escuta e dispositivos cognitivos, ou capacidade de aprender. Porque aprendemos com os outros ao escutálos. Seja sobre a ignorância deles, seja sobre a nossa.


A comunicação efetiva requer empatia, sensibilidade para perceber as razões do outro, mesmo quando nos pareçam absurdas. Porque somente quando imbuídos desses bons sentimentos é que conseguimos ouvir o outro de verdade, somos capazes de compreendê-lo, sem que isso signifique, necessariamente, concordar com ele. É um exercício. Em alguns círculos e culturas, esse comportamento já parece introspectado, já faz parte da consciência do indivíduo.


Em outras culturas, essa aprendizagem e esta prática também podem ser feitas, mas parece bem mais difícel. Requer que saibamos escolher, como explica Dominique

Barter, um lugar adequado para cada coisa que fazemos. Assim como fazemos nossa higiene no banheiro, usamos o quarto para dormir, precisamos também de um ambiente apropriado para que a comunicação dialógica se realize, e de forma não violenta. Ela não pode ser feita na pressa do dia a dia, nos grupos de aplicativos de conversa em smartphones, a qualquer hora e em qualquer lugar, nem nas redes sociais. O tempo dos outros não é o nosso, nem a paciência ou a disponibilidade para a aprendizagem. É preciso haver um acordo.


É ingenuidade pensar que as redes sociais seriam ambientes para evoluirmos nesse sentido. Utopismo das primeiras gerações de estudiosos da chamada cibercultura. As redes sociais servem a outros usos, todos bem sabemos. Muitos se deram conta disso há bastante tempo, não aceitam mais o jogo que elas representam, saíram dessas redes e nunca mais voltaram. Outros, vêm caindo em si aos poucos, com as redes admitindo a perda crescente de usuários – muitos, em parte, também por causa dos episódios de censura tardia de seus administradores contra Donald Trump, depois de anos de seus abusos na incitação à opinião pública mundial.


Pode ser também uma forma de alienação sair das redes como quem decide não consumir mais um conteúdo de televisão, ou assistir a uma emissora, por exemplo, agindo como um avestruz. O mais sadio sempre, no entanto, como se aprende sobre tudo na vida, é saber consumir, porque só se precisa abrir mão totalmente quando se está mesmo doente. Ao viciado faz mal o primeiro gole.