sábado, 3 de agosto de 2013

'Hoje o público se interessa mais por mim', diz Ferreira Gullar

MORRIS KACHANI
DE SÃO PAULO
    O pequeno mas aconchegante apartamento em Copacabana onde vive Ferreira Gullar, 82, junto com a gatinha que ganhou de presente da cantora Adriana Calcanhoto há dois anos, reúne um notável acervo nas paredes.
    Obras de Siron Franco, Marcelo Grassmann, Rubem Valentim, Osvaldo Goeldi, Alfredo Volpi, e um belo retrato do poeta assinado por Iberê Camargo, disputam espaço com as pinturas de natureza morta feitas pelo próprio Gullar e os móbiles à moda de Calder que ele confecciona.
    Pelos sofás e estantes, dependendo do dia, também descansam um punhado de papéis recortados e espalhados ao acaso sobre cartolinas.
Cecilia Acioli-02.ago.13/Folhapress
O poeta Ferreira Gullar na sala de seu apartamento, no Rio
O poeta Ferreira Gullar na sala de seu apartamento, no Rio
Estão em processo de maturação, ele explica. Poderão se transformar em colagens, e quem sabe em livro, como aconteceu no caso do infantojuvenil "A Menina Cláudia e o Rinoceronte", que está sendo lançado agora pela José Olympio. A editora está reeditando toda sua obra poética, com novos projetos gráfico e editorial.
*
Folha - Como enxerga sua obra, a essa altura da vida?
São momentos diferentes. O começo com "Luta Corporal" (1954) foi rebelde, criativo, audacioso, e deflagrou todo processo futuro da minha poesia. O "Poema Sujo" (1976) tem significação especial pela circunstância em que foi escrito [no exílio] e pela quantidade de matéria humana vivida e inventada --eu não sabia se ia continuar vivo por muito tempo ou não.

Considera-se atemporal?
Até aqui minha obra atravessa o tempo. Mais que isso, hoje o que tem acontecido é que as pessoas se interessam cada vez mais pela minha poesia, ao invés do contrário.

Como surgiu o livro "A Menina Cláudia e o Rinoceronte"?
Ferreira Gullar - Faço as colagens como hobby para me distrair e divertir, há anos. Isso nasceu de umas naturezas mortas que eu desenhava, e ao invés de colorir, recortava papel e colava em cima. Um dia tocou o telefone, fui atender, e o meu gatinho (já falecido) que estava em cima da mesa deu um tapa nos papéis e tirou da ordem. Quando voltei, colei tal como estava.