Em geral, somos críticos com a nossa pequenina Alagoas e provavelmente, no calor das emoções, deixamos escapar alguma injustiça. É muito fácil enxergar só o lado negativo, ruim. Apegamo-nos à violência, às traquinagens dos espertos líderes de carteirinha e aos indicadores sociais que nos aproximam do sofrido Maranhão e o Piauí. Mas não é tão assim também – o Maranhão tem dono e o povo vive há décadas, inocentemente, sob regime de submissão, ajudando a construir patrimônios incalculáveis dos seus senhores feudais. Alagoas, ao que parece, não tem proprietário único apesar de tudo, mesmo com números de miséria bem próximos com 20,5% de extrema pobreza contra 26,3% do Maranhão. Dificuldades à parte, falemos de uma história de raízes dignas que brotaram das entranhas desta terra. Conterrâneos que escreveram páginas honrosas pelo país e o mundo, tantas personalidades ilustres que, lógico, não cabem neste espaço. Graciliano Ramos, Aurélio Buarque de Holanda, Jorge de Lima, Pontes de Miranda, Guimarães Rosa, Nise da Silveira, Teotônio Vilela, Cacá Diegues, Jofre Soares, Hermeto Pascoal, Djavan, Lêdo Ivo, Zagalo, d. Avelar Brandão, Arthur Ramos, Florentino Dias, os marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. Uma plêiade de intelectuais, médicos, artistas da música, teatro e esporte, construtores da República. Honrados alagoanos! E tantos outros, gente simples e valorosa que faz história lá fora e quase nem ouvimos falar. É o caso de Sebastião Biano, um alagoano do interior que nasceu em 1919 e ainda menino tomou gosto pela música. De família pobre, acompanhou seus pais perambulando por várias regiões nordestinas. É o único remanescente integrante da original Banda de Pífanos de Caruaru, aliás, fundada por seu pai, Manoel, em 1924. Viveu muitas situações que aguçaram seu talento para compor músicas e aprender pífano. Quando pequenino tocando em uma fazenda numa festa, surgiu de repente um bando que ninguém convidou. Simplesmente, o capitão Virgulino com pelo menos uns cinquenta cangaceiros. O que era só alegria virou silêncio e medo. “Fiquei ensopado de mijo”, conta o músico. Lampião mandou os três meninos tocarem e, encantado com o desempenho dos moleques, virou para os seus homens e disse: “Tão vendo, cambada de bosta? Desse tamanho e já sabem tocar e vocês não tocam piroca nenhuma”. São muitas as composições deste conterrâneo Sebastião Biano, entre elas Pipoca Moderna, que viria a receber letra de Caetano Veloso ou A briga do Cachorro com a Onça. Além do talento da música, produz os instrumentos de sua banda e já presenteou com sua arte nomes como Gilberto Gil e Hermeto Pascoal. Desde 1976, mora em São Paulo e às vésperas de completar 94 anos é um dos maiores nomes da cultura popular brasileira, destaque recente no jornal Folha de S.Paulo ao apresentar seu projeto Terno Esquenta Mulher, no último dia 18, ao Itaú Cultural como parte da programação Toca Brasil.
Editoral do Gazeta das Alagoas