"Bandeira de Aço" - o disco |
As nove faixas do disco serão interpretadas por nomes da cena musical contemporânea, surgidos décadas depois do lançamento do trabalho do percussionista bacabalense Papete. Mais tarde lançado em CD, o disco tem o selo da gravadora Marcos Pereira.
A produção fala no nome do cantor e compositor Zeca Baleiro como mestre de cerimônia. O MC tinha apenas 12 anos de idade e morava em Arari quando o disco de Papete foi lançado. Na época participava dos eventos culturais organizados pelo padre Brant, educador com agudo papel no município da região do Mearim.
"Bandeira de Aço" alcançou a maior tiragem entre os registros fonográficos da história da música maranhense. A música título é de César Teixeira (assinado como Carlos César Teixeira), que tem outras duas interpretadas pelo percussionista. É, porém, Josias Sobrinho que tem o maior número de composições no disco: quatro, inclusive "Engenho de Flores" que daria título ao seu primeiro trabalho fonográfico e gravações em tantas outras vozes da música brasileira.
BANDEIRA DE AÇO - MPA 9380
Músicas que participam deste disco:
Lado A
Boi de lua - César Teixeira
De cajari pra capital - Josias Sobrinho
Flor do mal - César Teixeira
Boi de
catirina - Ronaldo
Engenho de flores - Josias Sobrinho
Lado B
Dente de ouro - Josias Sobrinho
Eulália - Sérgio Habibe
Catirina - Josias Sobrinho
Bandeira de aço - César Teixeira
Músicos que participaram deste disco:
Papete - violão - percussão - voz- côro - arranjo
Carlão - Viola 12 cordas - côro
Otacílio - contra-baixo
Sérgio Mineiro - flauta em "Sol" e "Dó"
Márcio Werneck - flauta "côro"
Rodolpho Grani - côro
Ficha técnica
Produção: Discos Marcus Pereira
Produtor: Papete
Direção de Estúdio : Rodolpho Grani
Estúdio: Sonima
Técnico de gravação e mixagem: Zorro
Corte: Jorge Emílio Isaac
Capa (Layout e produção): Anibal Monteiro
TEXTO DE MARCUS PEREIRA
Este disco é um dos mais importantes frutos do trabalho que iniciamos há 11 anos atrás (sic), quando nos propusemos a documentar e divulgar música brasileira de qualidade através de autores e gêneros inéditos ou esquecidos. Em 1976 com o lançamento da coleção de quatro discos "Música Popular do Norte" terminamos a cartografia musical do Brasil que inclui também os 12 discos da região Nordeste, Centro Oeste/Sudeste e Sul. Para fazer esse mapa musical, nós corremos o país inteiro e esta viagem está documentada em cerca de 11 horas de música gravada nos 16 discos. Desde logo sentimos, e esta consciência está enfaticamente documentada em toda literatura musical de Mário de Andrade, a imensa riqueza ritma, temática e melódica da música do povo do Brasil. Porque, então, desde muito tempo a maioria dos compositores se ateve ao samba a ponto de este gênero - e é apenas um gênero entre muitos outros - se confundir com a composição música popular como um todo? Acreditamos que a resposta está no fato de que, com o surgimento dos meios eletrônicos de comunicação de massa, inicialmente o rádio e, posteriormente, a televisão, passou a haver a hegemonia de alguns centros culturais em detrimento de outros, desenvolvendo-se um processo de colonização cultural interna. Isto ocorreu e prossegue ocorrendo a partir do Rio de Janeiro, primeiramente com a Rádio Nacional e atualmente com a Rede Globo de Televisão. Mas ocorre também a partir de São Paulo, sede de estações de rádio de grande alcance, cuja programação sertaneja - apenas como exemplo- vem exercendo influência sobre a música gaúcha.
Este disco mostra uma parte da surpreendente riqueza musical de uma região do Brasil, cuja sede é São Luís do Maranhão. No fim de 1.976, eu - com uma comitiva familiar de 10 pessoas - fui passar as festas de fim de ano em São Luís. E, logo entrei em contato com um grupo de compositores maranhenses que nos convidou para um reunião boêmia na Madre Deus trincheira maior dos resistentes a favor da cultura popular regional, dos tambores, do bumba-meu-boi. E, perplexos, assistimos ao desfile de composições surpreendentes de Carlos César, Josias, Ronaldo e Sérgio Habibbe. Muito antes, a partir de 1968, Chico Maranhão, cujo apelido não deixa dúvidas, vinha me mostrando as coisas de sua terra. Nosso encantamento foi tal que as músicas se instalaram dentro de nós e nosso grupo passou a ter uma senha que era cantarolar e assobiar a fantástica música de São Luís.
Este disco mostra uma parte da surpreendente riqueza musical de uma região do Brasil, cuja sede é São Luís do Maranhão. No fim de 1.976, eu - com uma comitiva familiar de 10 pessoas - fui passar as festas de fim de ano em São Luís. E, logo entrei em contato com um grupo de compositores maranhenses que nos convidou para um reunião boêmia na Madre Deus trincheira maior dos resistentes a favor da cultura popular regional, dos tambores, do bumba-meu-boi. E, perplexos, assistimos ao desfile de composições surpreendentes de Carlos César, Josias, Ronaldo e Sérgio Habibbe. Muito antes, a partir de 1968, Chico Maranhão, cujo apelido não deixa dúvidas, vinha me mostrando as coisas de sua terra. Nosso encantamento foi tal que as músicas se instalaram dentro de nós e nosso grupo passou a ter uma senha que era cantarolar e assobiar a fantástica música de São Luís.
Papete - irmão, afilhado, amigo e contratado - é de lá. Aquele repertório ele o conhecia há muito. Quando começamos a discutir o seu segundo disco (o primeiro é "Papete, birimbau e percussão" - MPL 9335) logo ficou claro que o melhor caminho seria mostrar ao Brasil aquela enorme riqueza escondida de São Luís do Maranhão. Ela aqui está, revelada pelo talento ímpar de Papete, autor dos arranjos, intérprete e músico (violão e toda variadíssima percussão). Os temas são regionais, o ritmo do bumba-meu-boi e dos tambores do Maranhão. Este disco é uma surpresa. Como certamente serão os que forem gravados com compositores fiéis aos valores das regiões em que vivem por este Brasil afora. Então, a música brasileira se enriquecerá e ficará claro que o famoso impasse de que se fala há mais de dez anos não é impasse da música do país mas sim - na melhor das hipóteses - deformação de comportamento dos responsáveis pelo seu registro e divulgação. Afinal, que nem existe impasse e que nem a saída seriam os modismos e a macaqueação apenas com roupa nova. A saída é o Brasil mesmo. E uma prova definitiva é este disco.