RIO DE JANEIRO - Há dias, as agências de notícias deram trechos de uma
entrevista da cantora Amanda Lear, ex-amante do pintor catalão Salvador Dalí
(1904-1989), a uma revista francesa. Nela, Amanda conta que, certa vez, Dalí
vendeu um fio de seu exclusivo bigode encerado a Yoko Ono, sra. John Lennon. Só
que era um fio falso.
Na verdade, era uma erva seca, que Dalí disse a Amanda para pegar no jardim e
acomodar numa fina embalagem, para tapear Yoko. O estojo, mais o deslumbramento
de Yoko diante de celebridades, foi suficiente. "A idiota pagou US$ 10 mil pelo
'bigode'", declarou Amanda. Não revelou quando foi isso, mas, nos anos 70, com
US$ 10 mil ainda se compravam chumaços inteiros do cabelo de qualquer
celebridade. Hoje, segundo ouvi, um reles fio da peruca de Lady Gaga está pela
hora da morte nos leilões internacionais.
Na verdade, Dalí não fez aquilo só por dinheiro. Apesar de parceiro de Buñuel
e um dos inventores do surrealismo, ele sempre teve um pé no real puro e
simples. Como bom espanhol, não acreditava em bruxas, mas que elas existiam,
existiam -era um homem supersticioso e tinha medo de mandinga. Quando Yoko lhe
propôs comprar um fio de bigode, ele temeu que não fosse apenas por admiração
pela sua obra -sabe-se lá o destino que ela daria àquele fio?
Pelos humanos (de qualquer parte do corpo), misturados a moelas de coruja,
aranhas sortidas, um ou dois sapos passados no liquidificador e um morcego
mastigado por Ozzy Osbourne eram infalíveis para vários tipos de bruxaria. Para
uma mulher como Yoko, tais ingredientes não seriam difíceis de conseguir. Daí,
Dalí não quis correr risco. Em vez de ir a um espelho e cortar um fio do bigode
com uma tesourinha, preferiu apresentar uma falsificação.
Yoko não desconfiou. No passado, ela própria vendera um fio de seu bigode a
John Lennon.
Da Folha