Quando nada mais se esperava da CPI do caso Cachoeira, o deputado Odair Cunha
(PT-MG), relator da comissão, encontrou um modo canhestro de surpreender a
todos.
No relatório final que começou a ler ontem, Cunha conferiu a essa CPI duas características inusitadas: as conclusões atestam que os parlamentares foram incapazes de avançar em relação às apurações da Polícia Federal; e seu relator lhe dá o arremate insensato de pedir o indiciamento de pessoas que nem sequer foram investigadas.
Esse é o caso de Policarpo Junior, redator-chefe e diretor da sucursal brasiliense da revista "Veja". Cunha alegou que as "investigações" sobre Junior teriam permitido estabelecer que a relação entre ele e Carlos Cachoeira (condenado anteontem, em primeira instância, por formação de quadrilha e tráfico de influência) não era apenas a de um jornalista com sua fonte.
Como o deputado chegou a essa conclusão é difícil dizer, já que Policarpo Junior, repita-se, não foi investigado nem chamado a depor no Congresso -o que seria uma inaceitável tentativa de intimidação.
O mais provável é que o petista estivesse fazendo uma mesura à ala liderada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ávida por fustigar opositores e imprensa.
Se essa razão explica o desatino, em nada contribui para melhorar a imagem de Cunha. O deputado aceitou desmoralizar de vez a CPI, rebaixando um poderoso instrumento de investigação a mecanismo de vingança política.
Não é por outro motivo que o relatório final pede o indiciamento do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), mas poupa o do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT).
A mesma lógica decerto presidiu a inclusão, no documento, do procurador-geral da República, Roberto Gurgel -ele redigiu as alegações finais da denúncia do mensalão.
Com tanto desequilíbrio, não surpreende que diversos parlamentares tenham pedido a interrupção da leitura do relatório. Diante das discordâncias, Cunha admitiu alterar alguns pontos de sua peça.
É bom que o faça. Seria ingenuidade, porém, esperar que o documento afinal venha a espelhar o propósito oficial dessa CPI: averiguar as ligações de Carlinhos Cachoeira com políticos de várias legendas -algo que não interessa a quase ninguém no Congresso.
O que não interessa à sociedade, contudo, é ver a desfaçatez institucionalizada: a irrelevância já é um final lamentável para a CPI, mas seu completo desvirtuamento será um desserviço ainda maior.
No relatório final que começou a ler ontem, Cunha conferiu a essa CPI duas características inusitadas: as conclusões atestam que os parlamentares foram incapazes de avançar em relação às apurações da Polícia Federal; e seu relator lhe dá o arremate insensato de pedir o indiciamento de pessoas que nem sequer foram investigadas.
Esse é o caso de Policarpo Junior, redator-chefe e diretor da sucursal brasiliense da revista "Veja". Cunha alegou que as "investigações" sobre Junior teriam permitido estabelecer que a relação entre ele e Carlos Cachoeira (condenado anteontem, em primeira instância, por formação de quadrilha e tráfico de influência) não era apenas a de um jornalista com sua fonte.
Como o deputado chegou a essa conclusão é difícil dizer, já que Policarpo Junior, repita-se, não foi investigado nem chamado a depor no Congresso -o que seria uma inaceitável tentativa de intimidação.
O mais provável é que o petista estivesse fazendo uma mesura à ala liderada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ávida por fustigar opositores e imprensa.
Se essa razão explica o desatino, em nada contribui para melhorar a imagem de Cunha. O deputado aceitou desmoralizar de vez a CPI, rebaixando um poderoso instrumento de investigação a mecanismo de vingança política.
Não é por outro motivo que o relatório final pede o indiciamento do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), mas poupa o do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT).
A mesma lógica decerto presidiu a inclusão, no documento, do procurador-geral da República, Roberto Gurgel -ele redigiu as alegações finais da denúncia do mensalão.
Com tanto desequilíbrio, não surpreende que diversos parlamentares tenham pedido a interrupção da leitura do relatório. Diante das discordâncias, Cunha admitiu alterar alguns pontos de sua peça.
É bom que o faça. Seria ingenuidade, porém, esperar que o documento afinal venha a espelhar o propósito oficial dessa CPI: averiguar as ligações de Carlinhos Cachoeira com políticos de várias legendas -algo que não interessa a quase ninguém no Congresso.
O que não interessa à sociedade, contudo, é ver a desfaçatez institucionalizada: a irrelevância já é um final lamentável para a CPI, mas seu completo desvirtuamento será um desserviço ainda maior.