Gregory Isaacs é sucesso em todas as quebradas do Maranhão há mais de dez anos, mesmo sem discos lançados no Brasil.Com as novidades que recentemente a Eldorado garimpou no catálogo da Heartbeat (My Number One, Dancing Floor, Love is Overdue) o negão passou a ser arranhado pelas agulhas locais com empolgação ainda maior.
Para trazer o homem e a The Riddim King Band ao Maranhão, a empresa promotora foi formada às pressas por um dono de bar, um radioleiro e um gerente de hotel. Na véspera do show, o inesperado: Gregory Isaacs barrado em Miami.
Na madrugada de sexta para sábado, uma força-tarefa varou a noite maranhense produzindo o impossível: tirar Gregory Isaacs da Jamaica, onde estava timaiamente acomodado, e colocá-lo no palco do Estádio Municipal Nhozinho Santos, sem passar por Miami. Tudo isso em 24 horas.
Vem ou não vem?A dúvida modificou os números: dos trinta mil espectadores esperados só compareceram quatro mil.
E o cara veio. Os promotores e patrocinadores peitaram a própria inexperiência bancando um jatinho para buscar Gregory Isaacs na Jamaica. Todo destrambelhado, camisa com um lado para fora da calça, panamá branco no teto, lá vem Gregory, só ele e a mulher, na pista do aeroporto.Início de tumulto, mais de quinhentas pessoas querendo encostar no santo ao mesmo tempo. Mas...cadê a banda?
A banda não embarcou. "Gregório" se recompôs como pôde, sacudiu a poeira e entrou no palco para delírio da geral. Com o auxílio nada luxuoso de um playback mandou uns dez sucessos na ponta da língua: "Sorry´s Boos Childens", "Soon Forward", "Gi Me", Night Nurse", "Love is Overdue"...estava ali a voz anasalada, curtida com muita fumaça, que universalizou o estilo romântico do reggae.
Muita gente duvidou que ele tinha cantado mesmo. A saída era fazer outros shows e, segunda-feira, Gregory já estava ensaiando com a tribo de Jah. banda de reggae maranhense, formada quase inteiramente por rapazes cegos. Os shows-curativo rolaram dia 10 de agosto no Espaço Cultural e dia 25 de agosto na praia, de dia, a céu aberto e de graça.
Ao longo dessa jornada nas esteiras, Gregory Isaacs virou cidadão maranhense. Freqüentou salões de reggae, andou sozinho pelas praias, rabiscou o nome em milhares de guardanapos, assistiu ao Information Society, assobiou e chupou cana. E outras coisas que nem se lembra mais.
REVISTA BIZZ - NOVEMBRO/91 - OTÁVIO RODRIGUES