sexta-feira, 2 de abril de 2021

Grupo Grita sem Via Sacra luta pela sobrevivência

Praça da Ressureição - Anjo da Guarda. Acervo Grita (2005)


Assim como o São João e o Carnaval, o espetáculo Via Sacra do Anjo da Guarda montado pelo Grupo Grita integra o calendário cultural do Maranhão, por força de Projeto de lei de autoria do deputado Roberto Costa (MDB). A realização do espetáculo é lei desde 2012. "Isso é apenas um documento no papel. Deveria significar mais respeito pelo fazer cultural por parte dos órgãos públicos", reclama o presidente do Grupo Grita, Carl Pinheiro.

O espetáculo  montado anualmente desde 1981 pelo Grupo Grita nas ruas do bairro Anjo da Guarda com participação da comunidade do Itaqui-Bacanga congelou na 38ª edição, realizada em 11 de abril de 2019. Pelo segundo ano seguido não haverá a apresentação da Via Sacra por conta da pandemia da Covid-19.

 Largo do Teatro Itapicuraíba. Acervo Grita (2005)
No dia 14 de julho de 2021, o Grita completa 46 anos de formação.  Claudio Silva, Gigi Moreira e Zezé Lisboa são principais artífices do grupo. "Essa data representa a travessia do mar Vermelho pelo grupo. Esbarramos na espera do Messias, que será a vacina contra Covid-19. Enquanto toda a comunidade não for vacinada, estiver segura não será possível montar a  Via Sacra", assegura Carl Pinheiro. 


Os artistas do Grupo Grita sobrevivem hoje da ajuda de parentes, complementada pelo auxílio emergencial e editais. O Conexão 3 da Secretaria de Estado da Cultura é uma deles. Mas, são considerados insuficientes para suprir despesas. Há um feixe de problemas apontados. Por exemplo, a exigência da Prefeitura de São Luís de farta documentação para isentar taxas de Alvará. Para as empresas, dependendo do faturamento, essa isenção acontece automaticamente.

Santa Ceia - Acervo Grita (2005)

"Os fazedores de cultura para ter direito à isenção de cobrança do Alvará temos que ingressar com um processo administrativo. Não entendemos porque uma categoria que passa por grande dificuldade tem que cumprir tanta exigência", questiona Carl Pinheiro.

No segundo semestre de 2020, o grupo ingressou com projeto na Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Não recebeu nenhum comunicado sobre desaprovação ou sugestão de reunião virtual para discutir o assunto. 

Jesus Cristo na interpretação de Jorge Smith. Acervo Grita (2005)

"Não temos clientes que financie nossa arte para apresentá-la na internet. O teatro é bem diferente da música e suas estrelas nacionais. E, os editais, são muito rigorosos, nos obrigando a contratar despesas. Ficamos de mãos atadas". contata o dirigente do grupo cultural.

Em dois anos, houve perdas de figurino e adereços cenográficos usados na Via Sacra por conta de inundações e sucessivos saques no Teatro Itapicuraíba e Recanto Cultural do Grita.

Espetáculo

A programação da Via Sacra do Grupo Grita vinha sendo realizada em dois dias para atender ao grande público, sempre crescente. O impacto artístico e social da suspensão do espetáculo é imenso para a comunidade da região do Itaqui-Bacanga, envolvida diretamente na montagem. Além do fator econômico, já que o evento sempre gerou dezenas de empregos temporários e algumas vagas permanentes, há também a supressão dos serviços demandados, como a reparação asfáltica das ruas, poda de árvores, melhoria da iluminação.   

Jorge Smith como Jesus Cristo. Acervo Grita (2005)

O  grande fluxo de pessoas no bairro Anjo da Guarda durante a apresentação do espetáculo movimentação do comércio formal e informal. Até flanelinhas era treinados para trabalhar no período. De acordo com levantamento do Corpo de Bombeiros, perto de 250 mil pessoas passavam pelo bairro para assistir a encenação de maior espetáculo de teatro de rua do estado.

O espetáculo Via Sacra tem raízes no antigo centro católico da Igreja da Penha, no Anjo da Guarda. A encenação acontece ao longo de dois quilômetros pelas ruas do Anjo da Guarda. O enredo se baseia nos últimos dias de Jesus Cristo encenados por atores profissionais e amadores requisitados entre a população das comunidades do Itaqui-Bacanga, culminando com a ressureição da Páscoa.

O Grita sempre desenvolve um tema escolhido pelos integrantes do grupo teatral formado no final da década de 80 por universitários e artistas maranhenses. Entre figurantes e atores são mais de 1500 pessoas participando  do espetáculo. As estações são montadas no Recanto da Paixão, Viva Anjo da Guarda, Praça do Anjo e em frente ao Teatro Itapicuraíba, do Grupo Grita.