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BERLIM - O editor e filósofo Thomas Neumann, coproprietário da editora Königshausen & Neumann, disse não se intimidar com a ameaça do senador José Sarney de interpelação por meio de um advogado. Em carta publicada ontem no GLOBO, o ex-presidente respondeu à decisão de Neumann de não distribuir a primeira edição de seu livro “Saraminda” em alemão, já impressa, depois que o consulado do Brasil em Frankfurt deixou de cumprir contrato que previa a aquisição de 500 exemplares.
Para Sarney, Neumann fez contra ele declarações “injuriosas” — em entrevista ao GLOBO, Neumann afirmou que só incluiu o livro em seu catálogo por insistência do consulado e porque “não sabia direito quem era Sarney”, “espécie de Berlusconi do Brasil”, nas palavras dele.
Ontem, declarando encerrado o projeto de publicação de “Saraminda” em alemão, Neumann reiterou a sua decisão de não distribuir o livro, por motivos principalmente ideológicos.
— Eu sou social-democrata, e depois de tudo o que li sobre o autor decidi que ele não combina com a minha posição ideológica. Na Alemanha, há liberdade de expressão e é permitido dizer isso e tudo o que tinha dito antes — afirmou Neumann.
Encontro hoje
Por meio de um funcionário do consulado, houve ontem um primeiro contato entre a editora e o novo cônsul do Brasil em Frankfurt, Marcelo Jardim, que prometeu uma investida diplomática para resolver o assunto e salvar a edição alemã de “Saraminda” da destruição. Depois disso, Jardim ligou para a editora Königshausen & Neumann, mas a conversa entre os dois acabou marcada para hoje.
Jardim reafirmou a promessa de cobrir qualquer prejuízo que a editora possa ter tido com o projeto. Indagado sobre como via a carta de Sarney publicada ontem, ele disse que preferia resumir sua opinião em um frase:
— Primeiro, devemos esgotar o meio do diálogo. Podemos resolver tudo com uma boa conversa, isso não é enrolação.
O livro de Sarney chegou a entrar na página 23 do catálogo “Literatura brasileira traduzida para o alemão — Brasil, um país de muitas vozes — País homenageado na Feira do Livro de Frankfurt 2013”. Mas a editora proibiu a exposição da obra traduzida no pavilhão brasileiro durante o evento, que foi encerrado no último domingo.
De O Globo