A onda de protesto #vemprarua em São Luís (MA) reeditou a velha forma de utilização de carros de som e forjamento de lideranças com tentáculos ligados à política tradicional do estado. Dois carros de som contratados por "organizadores" do movimento se plantaram cedo na Praça Deodoro. Utilizados também como palanque os carros projetaram candidatos a líderes do movimento, dando voz a uma pauta de reivindicação diluída, incorporando desde a luta pela liberação da maconha, passando pelo repúdio à PEC 37 (aquela de autoria do deputado federal maranhense Lourival Mendes que retira do Ministério Público o poder de investigar), aos serviços ordinários do transporte público, saúde, de educação; aos investimentos na Copa das Confederações, emfim, um espelho a pauta do movimento de rua em todo país.
No Maranhão, o movimento adicionou e adensou o repugnância à oligarquia do senador José Sarney (PMDB-AP), a mais longeva do Brasil. O coro "Sarney, ladrão, devolve o Maranhão", ouvido em frente ao Congresso Nacional na semana passada durante manifestação em Brasília, se repetia nas vozes da multidão que depois de deixar a concentração na Praça Deodoro, percorreu a rua Rio Branco, avenida Beira-mar, até a Praça D. Pedro II.
Foi perceptível, porém, a ausência da bandeira da segurança pública, mais grave problema enfrentado pela sociedade brasileira e especialmente de São Luís, cidade catapultada à condição de uma das cidades mais violentas do mundo. Tratar sobre o tema, evidenciando o deficiente e ineficaz aparelho de segurança pública do estado, poderia ser entendida como uma provocação à demonstração de força do aparato de repressão ao movimento democrático de rua. Isso pareceu inevitável diante da necessidade da catarse no movimento. Afinal, mesmo com a cobertura de televisão, sem adrenalina a sensação seria da inutilidade do movimento na transformação de uma realidade medonha.
A infiltração de grupos ligados a políticos não se ostentou apenas na presença das bandeiras do PSTU, queimadas por um grupo de orientação fascista escudado em uma cláusula incorporada no movimento. Profissionais do movimento estudantil mobilizaram-se para aparelhar o protesto, introduzindo reivindicações desconectadas, como revogação do aumento de passagem não implantada em São Luís.
São os mesmos líderes do movimento estudantil (?) que ontem e hoje frequentam gabinetes oficiais, atuam como cabos eleitorais em campanha do ocupante ou pretendente a inquilino do Palácio La Ravardière ou Palácio dos Leões. Ou apoiam algum abastado pretendente a uma vaga no Legislativo, raia da trajetória política de novas gerações de políticos descendentes de antigos representantes parlamentares. São replicadores da verticalização política, responsável pelo alijamento da luta por direitos cidadãos. Eles bem que tentaram demarcar um roteiro político para a manifestação, mas diante da massa que evocava até mesmo a luta de classe, como nos velhos tempos, a missão se tornou impossível.