Lula entrega títulos a quilombolas de Alcântara e de estados
de norte a sul do país
Lula assinou dez decretos de interesse social para
Alcântara, no Maranhão, e municípios dos estados do Rio Grande do Norte, Bahia,
São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Os decretos efetivam a
propriedade dos territórios às comunidades quilombolas de Alcântara. Foram
também entregues pelo Incra 21 títulos de domínios de territórios em Cururupu e
Mirinzal, ambos no Maranhão, e nos estados do Ceará, Alagoas, Paraíba, São
Paulo, Rio Grande do Norte e Amapá.
Segundo o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura
Familiar, Paulo Teixeira, a produção dos quilombolas poderá ser vendida para o
Programa Nacional de Alimentação Escolar, PNAE. Os quilombolas terão disponível
créditos no valor de R$ 50 mil do Pronaf.
“Não basta somente assinar o decreto. Precisamos da execução
da titulação. Execução de trabalho de campo e cartorial para titulação das terras”,
ressaltou Aniceto Pereira, presidente do sindicato dos Trabalhadores e
Trabalhadores de Alcântara, abrindo os discursos. Dirigente da Articulação das
Comunidade Negras Rurais de Alcântara, Maria do Socorro Nascimento, orientou a
palavra de ordem: “Resistência quilombola, nenhum direito a menos”.
Pessoas vindas de municípios vizinhos da Baixada Maranhense
e de regiões mais distante no continente se juntaram aos alcantarenses que se
aglomeraram sob equatorial sol de 30º C na Praça da Matriz. Candidatos, militantes
petistas e eleitores de Lula e até gente de verde e amarelo, todos misturados,
ocuparam o espaço mais instagramável da cidade.
Ao menos quatro entidades participaram das negociações que
derivaram para a elaboração do documento que restituiu o direito à propriedade do
território aos quilombolas: Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras de Alcântara,
Movimento das Mulheres Trabalhadoras de Alcântara, Associação Territorial
Quilombola de Alcântara, Movimento dos Afetados pela Base Espacial de Alcântara.
Carregando uma fotografia em preto e branco desbotada pelo
tempo, a alcantarense Alessandra Silva Dinis resgatava a história da mãe: a lavradora
Luzia Diniz, 69 anos, moradora da agrovila em São Raimundo de Marudá, uma das
comunidades quilombolas removidas na década de 80. A foto registra a passagem em
Alcântara do líder político Luiz Inácio Lula da Silva em 1994, acompanhado do
ex-deputado Domingos Dutra e um dos signatários da carta de fundação do PT, o
líder camponês Manoel da Conceição (já falecido).
O sentimento de não pertencimento perpassou quase todos os deslocados
para as sete agrovilas construídas pela Base Aérea de Alcântara em consequência
do decreto de desapropriação publicado no Diário Oficial do Estado em 27 de
outubro de 1980, tornando as terras quilombolas de “utilidade pública”. De
acordo com o decreto uma área de 52 mil há seria desapropriada pela
Aeronáutica.
Luzia Silva compartilha deste sentimento. “Quando Lula
esteve na comunidade de Marudá, em 1994, estávamos na luta pela documentação dos
terrenos e das casas. Entendíamos que não éramos donos. Haviam retirado de nós
aquilo que consideramos nossa maior riqueza que são os recursos naturais”,
reclama a moradora que acompanhou presencialmente em 2023 o julgamento da
Organização Internacional do Trabalho, OIT, no Chile.
“Eu era pobre. Empobreci mais ainda”, diz Inaldo da Silva,
comparando sua situação antes e depois da remoção para uma agrovila na década
de 80 em consequência do decreto de desapropriação, assinado pelo governador
João Castelo.
Da comunidade de Mamuna, Cipriano Diniz, 68 anos, acredita
que o desfecho pelo qual aguardou por 44 anos finalmente se concretizou com a
assinatura dos decretos pelo presidente Lula. “Aquilo que esperei por quase
toda minha vida estou vendo se tornar uma realidade. Meu pai que morreu com 84
anos duvidando que isso poderia acontecer”, afirmou, chamando Lula de vovô. Mamuna
é a comunidade mais próxima da sede do município, distante apenas 20 quilômetros.