terça-feira, 2 de maio de 2023

Colunista do New Tork Times publica obituário das Redações de jornais

Maureen Dowd reelembra quando escritórios eram lotados de jornalistas curiosos, barulhentos, raivosos e fumantes; diz que agora eles estão vazios e sem graça

 


A colunista do The New York Times Maureen Dowd estava animada para voltar à Redação do jornal após dois anos dentro de casa devido à pandemia de Covid-19. Mas, desde o ano passado, ela encontra o local, em Washington, praticamente vazio –os jornalistas estão preferindo trabalhar de casa.

A cena é inusitada para ela. Dowd começou a trabalhar no NYT na década de 1980, época em que as redações eram lotadas de jornalistas curiosos, barulhentos, raivosos e fumantes. Os espaços foram retratados desta forma nos filmes "Todos os Homens do Presidente", "Spotlight" e "O Jornal".

No último fim de semana, Dowd publicou o "obituário final para a Redação do jornal americano". "Como seria um filme de jornal hoje?", questiona. "Um bando de pessoas em seus apartamentos, cercadas por plantas tristes, usando o Slack (plataforma de troca de mensagens)?"

Em seu texto, ela recorda momentos pitorescos das Redações do século 20 (e início do 21). "Era um monte de fofocas, piadas, ansiedade e personagens hilários e excêntricos. Agora sentamos em casa sozinhos olhando para nossos computadores. Que chatice", disse um colega a ela. Dowd concorda.

A colunista, que tem 71 anos e escreve sobre política, cultura e internacional, cita as palavras de Arthur Gelb, editor-chefe do The New York Times, na década de 40. "Havia um senso avassalador de propósito, fogo e vida: o ritmo estalante das máquinas de escrever, pulsando na sala de Redação no andar de cima, repórteres gritando para os copistas pegarem suas histórias. Havia também o cheiro pungente do vício: um tapete de bitucas de cigarro, redatores que eram apostadores em meio período, jogos de dados, escarradeiras de latão e uma glamorosa amante de estrela de cinema vagando por aí", escreveu ele em suas memórias.

Além disso, na década de 1970, quando ela trabalhava no The Washington Star, ratos ocasionalmente passavam em cima dos teclados, e em outras situações repórteres tinham crises de raiva, quebrando suas máquinas de escrever ou computadores no chão. Isso tudo fazia parte do "velho glamour" da Redação.

Desde o ano passado, porém, segundo Dowd, a Redação tem apenas um punhado de pessoas, e as fileiras de mesas e computadores estão sempre mais vazias. "Às vezes, um grupo maior de jornalistas é atraído para uma reunião ao redor de um prato de bagels", diz.

Petiscos à parte, o vazio da Redação tem justificativa. "As pessoas perceberam o fato completamente impressionante de que é possível publicar um ótimo jornal de casa", afirma Dowd.

O sindicato dos jornalistas do NYT negocia com a chefia que os profissionais tenham que ir apenas duas vezes por semana à Redação. A administração se comprometeu com uma política de três dias por semana neste ano, mas quer expandir isso no futuro. A chefia está preocupada com a "estagnação dos jovens".

Dowd, por exemplo, nota que repórteres mais novos preferem entrevistar suas fontes por mensagens de texto ou email. "Um problema com isso", disse Jane Mayer do The New Yorker, "é que se você entrevistar alguém por escrito, essa pessoa terá tempo para considerar e editar as respostas, o que significa que espontaneidade, citações inesperadas, imprudentes e divertidas estarão mortas".

Dowd se preocupa que o romance e a alquimia das Redações tenham acabado.