Muito se tem falado em novos tempos no país após o julgamento da Ação Penal nº 470 pelo Supremo Tribunal Federal. A partir de então, elitizados políticos e gestores públicos teriam “aprendido” a lição de que não são imunes à justiça criminal. Daqui para frente, tudo passaria a ser diferente, e a corrupção teria sofrido um duro golpe.
Ledo engano.
O modelo eleitoral e os sistemas de governo e de Estado brasileiro são corruptos desde o seu nascedouro. E o pior: as pessoas aprenderam com ele a corromper e a serem corruptíveis. Por isso, não se diga que o tão falado julgamento será um divisor de águas.
Obviamente que não se pode negar que a repressão casuística a crimes praticados por altos políticos e gestores públicos em prejuízo de toda a coletividade há de ser louvada. Entretanto, soa ingênuo pensar que esses delitos escassearão.
O Brasil tem impregnada em seu âmago uma cultura pela vantagem fácil. O famoso “jeitinho brasileiro” nada mais é do que a representação desta assertiva. Tudo pode ser resolvido de uma forma “mais fácil”, desde que, obviamente, os interessados saiam lucrando.
Daqueles que nos governam, então, o que esperar, se são justamente os seus eleitores que mais esperam ter alguma vantagem (leia-se: cargos ou até mesmo dinheiro) após o êxito eleitoral?
Sim, há exceções. Há cidadãos que ainda mantêm hígida a probidade exigível e necessária a uma sociedade republicana que tem como objetivo promover o bem de todos, como reza o texto constitucional (art. 3º, IV). O grande problema é que estes, na sua grande maioria, estão muito ocupados tentando sobreviver alheios a todas as mazelas que esta verdadeira subversão institucional lhes impõem (alta carga tributária, burocracia excessiva etc).
Enfim, nada mudará, num futuro próximo ou distante. Os órgãos e instituições responsáveis pela repressão aos crimes de colarinho branco terão que estar cada vez mais preparados, e terão cada vez mais trabalho na consecução de suas funções.
Das lições de Aristóteles e Platão já se extraía que a democracia é um sistema perigoso e corrupto. E parece que os ilustres filósofos, efetivamente, estavam certos.