segunda-feira, 17 de março de 2014

Memória Revelada - Profissão de gari surgiu no Rio de Janeiro

Delma Pacífico 
A denominação do profissional de limpeza urbana veio do sobrenome do empresário francês Aleixo Gary


Rio - Pouco notados, apesar do uniforme laranja que usam, os garis do Rio de janeiro foram o destaque do Carnaval deste ano. A invisibilidade desses profissionais já foi tema de estudos. O livro  "Homens Invisíveis - Relatos de uma Humilhação Social", de Fernando Braga da Costa, mostra que pessoas que exercem atividades como faxineiros, ascensoristas e garis não são "vistos" pela sociedade. Mas, este ano, o Carnaval não foi igual aos que passaram no Rio. A cidade foi tomada pelo lixo, nos oito dias em que a categoria permaneceu em greve. O movimento, que foi do dia 1º ao dia 8 de março, terminou depois de longa negociação. Os garis tiveram aumento de 37% no salário-base, que subirá de R$ 802,57 para R$ 1.100, além do adicional de 40% de insalubridade. O vale-refeição passou de R$ 12 diários para R$ 20.
    No Rio, a propósito, foi onde nasceu a profissão de gari. Em 1876, o empresário francês Aleixo Gary foi o primeiro a fechar um contrato para a limpeza da cidade. Gary também foi o responsável pela criação do primeiro aterro sanitário da capital do Império, em 1885. O lixo era levado de barco para a Ilha de Sapucaia, perto de onde hoje é a Cidade Universitária, na Ilha do Fundão. O sobrenome de Aleixo Gary virou sinônimo de profissional de limpeza urbana. Na década de 40, o lixo passou a ser acondicionado em sacos plásticos. Até então era despejado em latões. Nesta época, também surgem os primeiros caminhões compactadores, a limpeza passa a contar com carros-pipa e os garis passam a trabalhar uniformizados. Até 1961 carrocinhas puxadas por burros ainda eram usadas na remoção do lixo domiciliar.
    Em 1975 a Celurb - Companhia Estadual de Limpeza Urbana, se transformou na Companhia Municipal de Limpeza Urbana - Comlurb, a maior organização de limpeza pública na América Latina, que tem a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro como acionista majoritária. Hoje o quadro da empresa conta com 15 mil profissionais responsáveis pela limpeza da cidade; na época da fundação da Comlurb eles eram 4.500.
    Contrariando o estudo sobre invisivilidade, foi entre os garis que a cidade ganhou um de seus símbolos. Renato Luiz Feliciano Lourenço, o Renato Sorriso, ganhou fama ao sambar durante o desfile das escolas de samba na Marquês de Sapucaí. Suas performances tiveram início em 1997. O público o viu, vibrou e aplaudiu o gari que em vez de varrer a Passarela do Samba para a entrada da próxima escola, resolveu sambar. O chefe desistiu de repreendê-lo, foi vaiado quando o fez, e desde então Renato virou personalidade do Carnaval e da cidade. Sorriso apoiou a greve de sua categoria.