Ao deixar o comando da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), na semana passada, a jornalista Helena Chagas fez questão de lembrar que pautou sua gestão por critérios técnicos na repartição das verbas publicitárias oficiais. Tradução: recebem mais investimentos do governo os veículos de maior audiência, já que o objetivo da comunicação é atingir o maior número de pessoas, de maneira eficiente, para disseminar informações de interesse público. Parece lógico e inquestionável, mas não é bem assim.
Governantes e administradores públicos com o poder de gerir recursos oficiais nem sempre colocam os valores da sociedade acima dos seus próprios interesses. Na própria cúpula do governo federal, havia resistência ao trabalho de Helena Chagas, principalmente por parte de militantes petistas desejosos de usar a verba publicitária no financiamento generoso do jornalismo chapa-branca _ aquele que só publica notícias favoráveis aos seus financiadores.
Com esse propósito, uma corrente partidária luta incansavelmente pelo que chama de desconcentração dos recursos, na verdade um eufemismo para justificar a aplicação de verbas oficiais em blogs inexpressivos, que louvam o governo, têm compromisso ideológico e, em alguns casos, fazem campanhas insidiosas contra os opositores. Por isso, há uma expectativa muito grande em relação ao novo ministro da Secom, Thomas Traumann, historicamente alinhado ao movimento que defende uma suposta regulamentação da mídia _ outra disfarçada tentativa de controlar os conteúdos jornalísticos.
Num ano eleitoral, é sempre maior o risco de ideologização de um órgão importante e influente como a Secom _ embora a presidente Dilma venha resistindo bravamente ao uso de tais expedientes na sua administração. Ainda assim, a troca de comando na Secretaria deixa em alerta quem realmente se preocupa com a liberdade de expressão.