O maranhense Lisandro Magalhães Nogueira, nascido em Carolina, enfrenta o desafio de retirar a Cinemateca Brasileira da crise que a organização mergulhou desde 2011. Nogueira, com credenciamento comprovado para assumir o cargo, está na direção da instituição com sede em São Paulo (SP) desde novembro do ano passado.
Com quadro raquítico, o novo diretor planejou aumentar o efetivo de funcionários necessários para tocar a missão de Cinemateca. Não foi contemplado até agora.
A crise da Cinemateca Brasileira é assunto de editorial deste domingo do jornal Folha de S. Paulo.
Leia abaixo Editorial da FSP:
Inimigos da Cinemateca
Uma engrenagem movida por rivalidades políticas, descaso institucional e inabilidade administrativa levou o governo federal a provocar uma grave crise na Cinemateca Brasileira, a mais importante organização pública do país na área do audiovisual.
Responsável pela preservação de cerca de 44 mil títulos, a instituição, que tem sede em São Paulo, havia encontrado, nos últimos anos, um caminho estável para obter os meios necessários ao cumprimento de sua missão.
Integrada à Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, era gerida pela Sociedade dos Amigos da Cinemateca (SAC), que em 2008 se transformou em organização da sociedade civil de interesse público (Oscip) capacitada a firmar convênios com o governo.
Em 2011, já na Presidência de Dilma Rousseff, uma auditoria da Controladoria-Geral da União apontou suspeitas de irregularidades nas contas da SAC. Num ambiente de disputas políticas entre as gestões que se sucederam no MinC, o documento da CGU serviu de base para que, em fevereiro de 2013, fosse suspenso o convênio.
Sem que se providenciassem alternativas para sua manutenção, a Cinemateca viu-se obrigada a reduzir em 80% seu quadro de funcionários e a paralisar as atividades.
Um mês antes da interrupção dos repasses, o MinC havia exonerado o diretor da Cinemateca, e o órgão permaneceu quase um ano sem substituto. Quando Lisandro Nogueira assumiu, em novembro passado, anunciou que 17 servidores do Ministério do Trabalho seriam deslocados para a instituição --mas isso não ocorreu.
Depois dessa sequência de trapalhadas, o secretário do Audiovisual do MinC, Mario Borgneth, declarou à Folha que a entidade terá de "trocar o pneu com o carro andando". O ministério, segundo ele, promoverá um debate sobre o novo modelo de gestão.
Pura perda de tempo. O modelo já estava definido e em funcionamento. Não há razão para a Cinemateca não ser gerida por uma organização social, como a própria SAC. Esta associação, aliás, rechaça as acusações que lhe foram feitas e contratou auditoria independente para se defender. Nenhum desvio foi identificado até aqui.
Não é de hoje que a Cinemateca, criada em 1956, enfrenta problemas. Certa vez o crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes (1916-77) declarou, com ironia, que muitas das dificuldades para mantê-la decorreriam da atuação de uma imaginária "Sociedade dos Inimigos". A "boutade", que parecia superada, voltou a fazer sentido.