sexta-feira, 24 de maio de 2019

O Globo - Um galo "tenor' agita as madrugadas da Lapa

GERALDO RIBEIRO geraldo.ribeiro@extra.inf.br
No bairro mais boêmio do Rio, quem tira o sono dos moradores é um galo. Trata-se de um “tenor” batizado de Ricardo, que ganhou a internet após um vizinho, incomodado com sua cantoria —o show começa por volta das 5h
—, fazer uma postagem numa rede social com o título “Onde canta o galo da Lapa?”. O bafafá, como informou o colunista do GLOBO Ancelmo Gois, começou na última quarta-feira. A resposta veio rápido, com uma enxurrada de comentários em defesa do bicho, que pertence à família Pinto, moradora de uma vila da Rua do Riachuelo.
Na casa, vivem dois filhotes de Ricardo e a mãe das crias, a galinha Janaína. O internauta que deu origem à polêmica dizia no post que ama os animais e, chamando o papai galo de “simpaticíssimo”, ressaltava que busca uma solução para a cantoria. “Ter uma fazenda em pleno centro urbano me parece demais, principalmente quando os ritmos da cidade não são os mesmos da vida rural”, escreveu o vizinho, propondo uma conversa com o dono do animal. “De repente, dá para colocar o bichinho num lugar fechado”.
Outros vizinhos, no entanto, saíram em apoio ao galo. “Bom demais da conta ouvir o galo cantar... Adoro”, comentou um. “Hoje, ele cantou às 6h30m. Devem ter colocado a função soneca nele”, brincou outro.
A dona do galo é a auxiliar de enfermagem Eva Pinto, de 64 anos, que trabalha no Hospital Miguel Couto, na Gávea, e mora com o filho Bruno, de 29. Ricardo está com os Pinto há quatro anos, e Bruno estima que a ave tenha 10, pelo tamanho da crista. O galo tem uma história triste. Foi vendido para Eva por um morador de rua que o prendia com uma cordinha.
—Ele não tinha dinheiro para comprar ração e estava dando cerveja para o bicho. Minha mãe ficou com pena e pagou R$ 50 por Ricardo — conta Bruno, dizendo que Janaína foi um presente.
Bruno, que trabalha até a madrugada como garçom na Rua do Rezende, é esperto: costuma ir para a cama só após o galo dar seu show. A cantoria geralmente se estende até as 8h, com direito a bis ao meio-dia. Na vila, Ricardo é querido, mesmo quando desperta todo mundo antes das 5h.
—O canto dele traz lembranças boas de minha terra. Esse galo é abençoado —afirma a portuguesa Maria de Lourdes Alves, de 83 anos, a moradora mais antiga da vila.
Para Maria Aldenora Pereira, de 72 anos, que toma conta de 14 crianças, Ricardo é seu despertador:
—Quando ele canta, sei que está na hora de levar todo mundo para a escola.