terça-feira, 2 de abril de 2019

Alvaro Costa e Silva - Vai trabalhar, Bolsonaro

Pois a taxa de desemprego no país chegou a 12,4%


Quem mais curtiu o cineminha que fica nos porões do Palácio da Alvorada foi Jânio Quadros. Nos seus quase sete meses na Presidência, passou horas vendo velhas fitas de bangue-bangue e bebericando uísque. Dizem que pedia ao projetista para exibir o filme de trás para frente, pois morria de rir ao ver o mocinho “se levantando” depois de tomar um soco do bandido.
No Alvorada, FHC conheceu Zé Pequeno durante a projeção de “Cidade de Deus”, ao fim da qual levantou os dois polegares: “É um grande filme”. Nos tempos de Lula e Dilma, as sessões eram concorridas e festivas: a classe cinematográfica, ávida por recursos, comparecia em peso para o beija-mão.
Na semana passada, no auge da crise com o Poder Legislativo para a tramitação da reforma da Previdência, Bolsonaro dispensou o luxo do cinema em casa. Ao lado da primeira-dama Michelle Bolsonaro e da ministra da Mulher, Damares Alves, teve disposição para comparecer, às 9h da manhã, à pré-estreia da produção evangélica “Superação, o Milagre da Fé”, em um shopping de Brasília. 
Foi mais um drible político do presidente, mas o que surpreendeu foi descobrir que ele aprecia a chamada sétima arte (ou qualquer arte). Bateu a curiosidade de saber quais são os filmes preferidos de Bolsonaro. Veio-me à cabeça um clássico da comédia brasileira, lançado em 1973, época da ditadura militar (a mesma que, segundo alucinados do governo e das redes sociais, jamais existiu).
Quando “Vai Trabalhar, Vagabundo”, de Hugo Carvana, explodiu nas bilheterias, vivia-se o período do milagre econômico. Talvez por isso o personagem principal, um carioca suburbano chamado Dino, é obrigado a dar trambiques para ganhar um qualquer e conseguir sobreviver. Imagina hoje, com a taxa de desemprego subindo para 12,4%.
Os Dinos que continuam por aí só pedem uma coisa: “Vai trabalhar, Bolsonaro”.