O "Manifesto Comunista", escrito por Karl
Marx e Friedrich Engels em 1848, deu início a uma visão crítica do regime
capitalista. Assim, mudaria a história humana, para o bem e para o mal, durante
o último século e meio.
Para o bem porque pôs à mostra a exploração do
trabalho humano, posta em prática pelo capitalismo; para o mal, porque, em nome
de uma suposta igualdade, criou um regime autoritário e às vezes cruel.
É verdade, porém, que o regime soviético, por
excluir de si a exploração capitalista, acendeu no espírito dos que a repeliam
uma utopia que, ali, conforme acreditavam, começava a realizar-se.
A morte de Lênin e a ascensão de Stálin tornaram o
regime soviético mais sectário e repressivo, levando à divisão da intelectualidade
ocidental de esquerda, quando uma parte dela se tornou trotskista.
Após o desgaste provocado pelo stalinismo, o
marxismo, no campo ideológico, ganhou novo fôlego com a Revolução Cubana, em
1959.
De qualquer modo, a imagem da URSS foi favorecida
pelo surgimento do nazismo e a deflagração da Segunda Guerra Mundial. Esse fato
obrigou uma aliança dos países capitalistas com o regime stalinista contra a
Alemanha de Adolf Hitler. Terminada a guerra, derrotado o nazismo, o conflito
ideológico ressurgiu designado como Guerra Fria.
Em vários países latino-americanos, o sonho
comunista renasceu com o surgimento de grupos guerrilheiros. A presença de um
país comunista a poucos quilômetros do território norte-americano acirrou o
conflito ideológico entre as duas potências rivais. Os arsenais nucleares,
porém, de um e do outro lado, impediram o conflito armado.
Não obstante, os norte-americanos, temendo o
surgimento de outras Cubas na América Latina, acionaram seus recursos políticos
e militares para instaurar ditaduras anticomunistas nos países onde o perigo
era maior.
Os guerrilheiros foram praticamente todos
eliminados pela repressão militar, o que, se por um lado deteve a luta armada,
por outro atraiu a solidariedade de grande parte dos latino-americanos,
ressentidos com a truculência dos regimes militares. Em função disso, surgiram
partidos que, embora atuando na legalidade, continuavam a alimentar o sonho da
revolução anti-imperialista.
Sucedeu que, naquele período, o regime soviético
–principal potência militar e ideológica do sistema–, começou a dar sinais de
mudanças que culminariam em seu colapso.
Esse fato, que teve importância decisiva no
processo político-ideológico de quase todos os países, ganha, na América
Latina, uma conotação particular: o projeto revolucionário anti-imperialista,
que ali surgira, não tinha mais condições de exibir, como objetivo, um regime
que fracassara.
É então que nasce o socialismo bolivariano,
inventado por Hugo Chávez e que, na verdade, é um tipo novo de populismo e de
que seriam outros exemplos os governos dos Kirchner na Argentina, de Evo
Morales, na Bolívia, de Rafael Correa, no Equador, e de Luiz Inácio Lula da
Silva, no Brasil.
Esse populismo chegou a despertar o entusiasmo de
setores intelectuais e estudantis, que não aceitam admitir que o sonho da
sociedade justa tenha se extinguido. É certo que, em cada um desses países, o
populismo adquiriu caráter específico, ainda que, em todos eles, estivessem
presentes argumentos ideológicos da exploração dos pobres pelos ricos e da
identificação do imperialismo norte-americano como o inimigo principal a ser
combatido.
Mas essa pregação político-ideológica não se
sustentou por muito tempo –a não ser em setores restritos da população. Do
mesmo modo que os próprios governos populistas, que entraram e crise e se
acabaram ou estão a caminho de finarem.
É verdade que esse populismo não tinha a riqueza
ideológica do marxismo que, sem dúvida, foi a utopia dominante do século 20.
Por isso mesmo, o fim do regime comunista provocou um vazio ideológico, que
necessita ser preenchido, uma vez que a sociedade humana, sem utopia, torna-se
inviável.