Em depoimento à PF, Meire Bonfim Poza relata encontro de Youssef em São Luís para pagamento de parte do valor
SÃO PAULO - A contadora Meire Bonfim Poza, suspeita de integrar o núcleo duro da quadrilha do doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava Jato, afirmou em depoimento à Polícia Federal (PF), segundo o "Jornal Nacional", da TV Globo, que Youssef participou de um esquema de suborno envolvendo pagamentos judiciais, uma construtora e integrantes do governo do Maranhão. Segundo ela, a construtora Constran pediu que Youssef subornasse servidores públicos do estado oferecendo propina no valor de R$ 6 milhões. Em troca, segundo o depoimento, a construtora furaria a fila do pagamento de precatórios judiciais recebendo antecipadamente R$ 120 milhões. A comissão do doleiro seria de R$ 12 milhões.
Depois da suposta combinação, segundo o "Jornal Nacional", o governo do Maranhão começou a liberar as parcelas do precatório, no valor de R$ 4,7 milhões, cada. Até o momento foram pagos R$ 33 milhões, com última parcela, segundo o portal da transparência do governo maranhense, paga no último dia 6.
A contadora disse à PF, na quinta-feira da semana passada, em Curitiba, que uma reunião foi combinada para acertar os detalhes da operação em setembro do ano passado, da qual participaram "João Guilherme, da Casa Civil", um assessor identificado por Meire como "Bringel", a presidente do Instituto de Previdência do estado, Maria da Graça Marques Cutrim, e uma procuradora do estado chamada Helena Maria Cavalcanti Haickel.
Meire contou à PF que o governo do Maranhão pressionava Youssef para receber a propina. Segundo Meire, o doleiro esteve na cidade no dia 17 de março deste ano para pagar propina para pessoas da alta administração do governo maranhense.
Um relatório da PF mostra fotos de Youssef em um hotel em São Luís com um homem identificado como Marco Antonio de Campos Ziegert. O doleiro chegou com duas malas ao local e Ziegert, com uma. os dois se hospedaram em andares diferentes. Durante a madrugada, o doleiro foi ao andar onde Ziegert estaria hospedado com uma mala. Logo depois, Youssef aparece sem a mala. De manhã, Ziegert deixa o hotel, segundo a PF, com a mala entregue pelo doleiro.
A contadora disse que Youssef, naquele dia, estava com parte da propina; R$ 1,4 milhão em dinheiro vivo. De acordo com a PF, Ziegert deixou na recepção do hotel uma caixa a ser entregue a Milton Braga Durans, assessor do governo Roseana Sarney. Milton esteve no local dias depois, segundo a PF.
A contadora, ainda no depoimento à PF, cita Adarico Negromonte, irmão do ex-ministro das Cidades Mario Negromonte. Ela disse que Adarico foi ao governo do Maranhão entregar R$ 300 mil que seriam parte do acordo, mas um assessor de Roseana teria dito que o valor era pouco e que iria consultar a governadora.
A Justiça Federal do Paraná vai encaminhar as informações do depoimento ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), incumbido de investigar denúncias envolvendo governadores.
Ao Jornal Nacional, o governo do Maranhão disse que apenas cumpriu o que foi definido pela Justiça do estado em relação aos precatórios envolvendo a construtora Cosntran. O governo do Maranhão disse, ainda, que João Guilherme Abreu não é mais da Casa Civil do estado.
A governadora Roseana Sarney declarou que jamais teve conhecimento de pagamento de propina a funcionários de seu governo.
Maria da Graça disse que foi a reunião citada como convidada e que os participantes fizeram uma proposta de criação de fundo de investimentos.
As demais partes citadas pela contadora não foram encontrados pela reportagem do Jornal Nacional para comentar o depoimento.