Tive notícia do assunto quarta feira, dia 16 deste mês, assistindo ao programa da TV Brasil 3 a1 com Luiz Carlos Azevedo. Lá, três entrevistados discutiam a questão "Biografias" levantada por um grupo de artistas. Como achei um excelente programa, nem sempre comum na televisão brasileira, resolvi comentar com minha amiga jornalista Rô Caetano perguntando se ela tinha também visto. Ao me responder que não, questionou-me sobre qual meu posicionamento e logo percebi que há muito a polêmica já estava ocorrendo: um grupo de artistas, do meu tempo, isto é, da década de 1960 com quem eu convivi no período dos festivais, fustigavam sobre o direito a suas privacidades.
Hoje, pessoas famosas por suas obras, por seus feitos, suas ações, estavam, a minha vista, inquietas, preocupadas com a possível interpretação e divulgação de suas vidas íntimas, no que diz respeito à biografias sem autorizações dos biografados. E então, tentei colocar no ar meu ponto de vista, pois, numa primeira aproximação, percebi um inútil e desconfortável sentimento. Principalmente em Chico Buarque, casualmente ex-colega e amigo meu da FAU (Faculdade de Arquitetura).
Escrevi um pequeno texto mostrando o quanto estava perplexo com os acontecimentos e enviei a Rô (sexta/18/10) que passou a alguns amigos. A polêmica cresceu como era de se esperar e hoje volto ao assunto.
Muita coisa foi dito muita gente se manifestou, ampliou-se o quadro das discussões, reconhecimentos surgiram. Acho que houve evolução, sim, mas em que sentido? No alcance da humildade para se compreender melhor a questão? Sim, porque no início, e sempre no início, a radicalidade imperou e os pequenos e grandes poderes se manifestaram. Só se não fôssemos humanos, talvez, seria o contrário. E é aí que está o "espaço" não tocado, a condição humana, que, insisti no meu posicionamento, à resposta para minha amiga Rô Caetano.
Tudo isso que os homens fazem, sentem, produzem... obras, ações, comportamentos, pensamentos estão aí para construir uma sociedade melhor. E nós, artistas, especialmente, estamos aí para sermos instrumentos disto. E, assim, não há do que ter receio. Não há que ter medo!
A construção de fatos que uma biografia depende dos fatos que nós fixamos com as palavras. E elas próprias, as palavras, tem interpretações diferentes, leituras diversas. E assim, necessariamente, desencadeiam uma miríades de conjecturas, de outras ideias, suposições, de outros fatos, outras realidades. Quem poderá dimensionar esta verdade? E porque então não aceitar este futuro passado? É preciso reduzir mais, tirar a roupa, ficar nu! Nós, artistas podemos mostrar o nosso esqueleto sem nenhum problema. A sociedade brasileira por acaso, não está neste caminho? Há ou não uma necessidade de se mostrar mais? Não é só coisa do privado, do público, sei lá mais o quê?!Não é isso, é mais e principalmente coisa da intuição. Da sensibilidade!
Essas polêmicas, esses questionamentos, essas inquietações, a construção desses objetos, são imprescindíveis ao crescimento social. Por isso mesmo são louváveis. Portanto, amigos, acalmem-se, ainda precisamos muito das palavras, desta relação linguagem mundo. E nem tudo estará nos textos, nas biografias, nas músicas, nas obras dos artistas, mas, obviamente, quem sabe?!no conjunto de tudo isto.
De O Estado do Maranhão