quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O ocaso do Guarnicê Festival de Cinema

    
    Pouco mais de 36 pessoas assistiram à abertura da 36ª edição do Guarnicê Festival de Cinema, no auditório central da Ufma, no campus do Bacanga, que já se chamou Jarbas Vasconcelos.  Segundo a assessoria de comunicação, o evento foi preparado no prazo de dez dias.
    O cumprimento do calendário se evidenciou na ausência do reitor Natalino Salgado na abertura. Com a presença dos representantes dos patrocinadores, entre eles do presidente da Func,  a solenidade beirou o patético. Com pompa e circunstância, a cerimônia teve direito a discursos rápidos, sem nenhuma empolgação, apresentadora carentes de aplausos merecedores. Enfim,tudo conforme manda o cerimonial de requinte.
    Incontestável que o Garnicê esteja no calendário cultural da cidade. Mas, quando transpôs o muro do campus pela primeira vez no ano passado, deixou para trás um rastro de importância para São Luís, com risco de ser apagado sem trauma. Se isso acontecer, entrará para a galeria das recordações, como tantas outras que povoam esse território movediço que é o passado.
    Há críticas intestinas da fórmula pela qual enveredou o Guarnicê. Principalmente em relação a seu objetivo enquanto festival de cinema. A edição deste ano ocorre sob a coordenação da recém-formada diretoria do DAC. Saiu o maestro Alberto Dantas e entrou um professor do quadro da Ufma de nome ainda não memorado.
    Como diretor do DAC-Prexae, o maestro doutor desafinou completamente quando impôs o foco quase exclusivamente voltado para o longa-metragem, obscurecendo a produção local de médias e longas. Isso emagreceu a produção tupiniquim que já é raquítica por natureza e circunstância. No ano passado, e isso é depoimento de gente que participou da gênesis do Guarnicê, houve apenas a participação de uma produção local.
    Para preencher a grade da programação que se estende somente até sexta-feira, 4, na trigésima sexta edição foi preciso afrouxar o próprio edital que expurgava a produção de médias e curtas metragens. Na hora agá foram elas que acudiram a programação. O enxerto dessas modalidades de cinema que mais se adequam à realidade da produção local sinaliza um mau começo da nova direção do DAC.
    Embora carregue o ridículo da imitação provinciana, o Guarnicê sempre se pautou pela presença de estrelas na plateia, como acontece pelo mundo afora, e um leque difuso da produção de curtas e médias metragens realizados Brasil adentro. Mesmo que algumas não dimensionassem sua importância para o cinema nacional.
    Na abertura do 35ª edição no ano passado, o próprio reitor Salgado derramou o caldo da insatisfação em relação ao deslocamento do centro histórico para dentro dos muros da universidade federal. O distanciamento do burburinho cultural não agradou ao reitor, pelo menos foi o que ele falou no discurso de abertura. Este ano o reitor cedeu às conveniências.
    O festival tem patrocínio da BR Petrobrás (distribuidora), Banco do Nordeste e Vale. Empresas cativas nmo patrocínio aos projetos da Ufma. Daí a explicação para cumprir a agenda. Enfim, o festival perdeu o brilho na tela e, como consequência natural, na plateia, sem jamais ter o charme impagável e corruptível do escurinho do cinema.