SÃO PAULO - Há algo além dos mandacarus sucedendo-se ao longo das estradas do agreste e do sertão nordestino. Os vultos esquálidos avistados à frente, na beira do caminho, não se revelam retirantes da seca. É o homem montado na sua moto.
Centenas desses conjuntos cruzam com o viajante. São, no mais das vezes, motocicletas aparentando ser novas, de baixa cilindrada. Poucos condutores e passageiros vestem capacete.
Na mais recente pesquisa por amostra domiciliar do IBGE, vê-se que em 2012 o Nordeste ultrapassou o Sudeste em número de casas com motocicleta. Contam com o veículo de duas rodas 4,2 milhões de residências nordestinas, uma em cada quatro. No Sudeste, essa relação é de um para quase sete domicílios.
Em 2012, cerca de 500 mil lares no Nordeste passaram a dispor da moto, alta de 13% em 12 meses. A posse do carro também cresceu, mas em ritmo menor (7%). No Norte e no Nordeste, ao contrário do quadro nas demais regiões, há mais domicílios dispondo de moto que de carro.
Essa é a maneira pela qual se vai resolvendo na prática o problema da "mobilidade", tão em voga. O poder de consumo de extensas camadas populares cresce, pelo salário e pelo crédito, e esse bônus vai sendo aplicado na parcela da moto.
O bem-estar que alimenta a popularidade dos governantes nas regiões ao norte deixou de restringir-se às transferências do Bolsa Família e da aposentadoria rural. É do acesso a bens individuais emancipatórios, distantes da subsistência, que se trata. A continuidade do desemprego baixo e da oferta de empréstimos passa a ser mais decisiva. A agenda assistencialista das bolsas perde importância.
Um índice do desenvolvimento brasileiro poderia ser criado com a relação de domicílios que possuem motos e carros. A próxima etapa esperada é a troca dos veículos de duas pelos de quatro rodas.
Da Folha
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