Nascimento Morais na miragem oficial |
Vivo estivesse o escritor e ativista ecológico José Nascimento Morais Filho (1922-2009) completaria 91 anos nesta segunda-feira, 15 de julho. Nascimento Morais imortalizou-se na luta contra a instalação da Alcoa na ilha de São Luís do Maranhão na virada de década de 80 do século XX.
Membro eleito da Academia Maranhense de Letras, Nascimento Morais trilhou caminho semelhante ao também escritor Graça Aranha, desertando da condição imortal por discordância de pensamento. Ocupante da cadeira número 77, fundada por Ribamar Pereira, o criador do Comitê de Defesa da Ilha, discordou da eleição do ex-´governador Pedro Neiva de Santana à cadeira n° 39. Pediu pra sair, mas o estatuto não contém nenhum brecha para porta de saída. Ficou, mas manteve distância até morrer. A cadeira de Nascimento Morais seria ocupada no século XXI pelo escritor e cineasta Joaquim Haickel.
Sem êxito na batalha contra a Alcoa, o escritor de "Os azulejos" foi reconhecido pelo Green Peace na luta contra o monstro capitalista reluzente. No âmbito estadual jogaram-lhe uma casca de banana quando batizaram um recanto da Lagoa da Jansen com seu nome.
A lagoa é uma típica obra de escoadouro de recurso. Recursos do Ministério do Meio Ambiente foram alocados para que o governo do estado realizasse a despoluição da lagoa e urbanizasse seu entorno. O projeto meia-boca ficou no detalhe, mantendo as águas fétida onde flutua uma serpente concebida pelo artista plástico Jesus Santos.
Depois do Rio de Janeiro o Maranhão é o estado com maior número de imortais na Academia Maranhense de Letras. Cinco dos 40 fundadores da Casa de Machado de Assis possuem naturalidade maranhense. São do Rio 18 imortais da instituição fundada em julho de 1897.
São maranhense Raimundo Correa, Coelho Neto, Aluízio Azevedo, Arthur Azevedo e Graça Aranha. Eleito com 31 anos de idade para a cadeira número 38, Graça Aranha foi o mais jovem a ingressar na ABL. Ele é autor de Canaã, obra que retrata a imigração europeia no início do século XX. Tal qual Nascimento Morais, Graça Aranha entraria em confronto com o ideário dos imortais.
Em 19 de junho de 1924 proferiu discurso na ABL atacando a fundação da instituição à época com perfil literário. "A fundação da academia foi um equívoco e foi um erro", reconheceu no discurso "O Espírito Moderno". Foi atacado por Coelho Neto. Seu desligamento da Academia aconteceu em 18 de outubro de 1924. "A Academia Brasileira morreu pra mim, como também não existe para o pensamento e para a vida atual do Brasil. Se fui incoerente aí entrando e permancendo, separo-me da Academia pela coerência", comunicou Aranha, indignado por ter projeto de renovação proposta pela Semana de Arte Moderna de 22 renegada pelos colegas imortais.
Sobre a American Aluminyun Company - ALCOA*
"As chaminés da Alcoa vão jogar sobre os casarões, igejas, fontes e monumentos, sobre nosso patrimônio histórico a mesma poeira que está destruindo Ouro Preto. Os azulejos coloniais, que tanto orgulham nossa gente, serão corroídos e nunca mais serão recuperados."
"A Alcoa se instalou numa área de 10.000 hectares. Famílias de Jacamim, Cajueiro, Juçaral, Coqueiro, Inhaúma, Tibiri e Pedrinhas."
"Esses jornais, essas rádios e a televisão se venderam para a Alcoa, menos dois, o Jornal Pequeno e Rádio Educadora."
"O governador João Castelo mandou que um grupo de técnicos analisasse a questão Alcoa. Os técnicos ficaram apavorados com a destruição que esta fábrica quer causar e fizeram um relatório contra. O governador João Castelo escondeu este relatório e abriu as portas da ilha para que a Alcoa entrasse."
"O governador João Castelo é um mau maranhense, esta envergonhado o Maranhão, pois não tem amor à nossa terra. Assim também é o senador José Sarney, que já trouxe a "boazinha" Merck e nada faz para defender o povo que será assassinado pela Alcoa".
* Trechos do Manifesto do Comitê de Defesa da Ilha de São Luís