Vice-governador do estado do Maranhão, o petista Washington Luiz Oliveira(foto) adotou São Luís do Maranhão como lugar de vida há algumas décadas. Ex-integrante do PCdoB, ex-presidente do diretório estadual do PT e ex-deputado federal, Oliveira dedicou parte de sua histórica de militância política nos bastidores dos movimentos sindicais.
Em janeiro deste ano, foi escolhido pelo PMDB estadual para concorrer às eleições municipais de São Luís como candidato do PT. Por questões estatutárias e da decantada democracia interna do partido terá que enfrentar companheiros petistas nas prévias que vão definir o nome que encabeçará a chapa nas eleições municipais em outubro deste ano na capital.
Em entrevista a O Imparcial, Washington Oliveira fala sobre os problemas que exasperam a população de São Luís, possibilidades de parcerias e da política de alianças que pretende inaugurar na cognominada Ilha Rebelde com os partidos de oposição ao grupo Sarney.
REDAÇÃO: HENRIQUE BÓIS
FOTOS: HONÓRIO MOREIRA
O IMPARCIAL - Como candidato nas prévias do PT para escolha do pré-candidato a prefeito é possível adiantar propostas para a administração de São Luís?
Washington Oliveira - “Não tem como discutir as prévias sem discutir as propostas para a cidade. Porque, o PT vai escolher o candidato a prefeito de São Luís. Estamos fazendo um debate interno. Naturalmente que eu como vice-governador também opino sobre os problemas do Estado e da nossa cidade. Por isso, acho que nesse debate, nessa discussão, vamos enriquecendo e incorporando ideias, propostas que os companheiros do Partido dos Trabalhadores pensam e estudam. Essa é a importância do debate que estamos fazendo internamente, e, naturalmente, estamos expondo-as para toda a comunidade nossa opinião sobre os problemas de São Luís.
São dois candidatos concorrendo, o senhor e o deputado estadual Bira do Pindaré. Como então o eleitorado de São Luís e do próprio PT podem distinguir propostas de integrantes do mesmo partido?
“Não vi ainda as propostas do outro candidato do PT. O que vejo e penso é que São Luís chegou a 400 anos e nesse período não foi feito antes nenhum planejamento. A cidade não tem um plano diretor. O candidato do PT tem que promover, em primeiro lugar, um amplo debate com a população de São Luís para elaborar o plano diretor da cidade. Isso tem que envolver os técnicos que estudam a nossa realidade, políticos, principalmente os vereadores que também estudam, conhecem e debatem constantemente os problemas da cidade. Além de, fundamentalmente, da participação popular, através das suas lideranças comunitárias, que conhecem mais que todos os problemas.
Eleito nas prévias qual o passo seguinte que o senhor dará na campanha eleitoral?
“Escolhido pelo PT como candidato, vamos começar ainda no período de campanha um debate sobre os grandes problemas da cidade para apresentarmos soluções. Como já falei, temos a necessidade de um planejamento.
Quais os problemas que o senhor considera cruciais para a administração municipal de São Luís?
“Temos problemas de mobilidade urbana. Poderíamos citar também o problema do saneamento básico; e a questão ecológica, pois a cidade tem que buscar preservar as áreas verdes que ainda tem e que estão sendo ameaçadas pela expansão imobiliária. São questões que precisam ser debatidas e apresentadas as soluções. Qualquer prefeito que venha ser eleito agora em 2012, a partir de 2013 precisa estar em sintonia fina com os governos do estado e federal. A população cansou; não quer mais essas brigas políticas que têm marcado a história do Maranhão nos últimos anos e que prejudicaram enormemente o Estado. A população quer que o gestor público apresente soluções para os problemas do povo. E é isso que estamos propondo.”
O senhor acredita que a eleição deste ano será marcada por uma disputa mais no campo das ideais que nos confrontos meramente políticos?
“Apresentar proposta. É isso que eu vou fazer, fundamentalmente, a partir de uma posição política. Aí teremos que ver o que a população vai privilegiar, vai querer mais: o candidato que apresenta propostas, alternativas para a cidade ou o candidato que vai se preocupar em brigar com seu adversário, fazendo uma campanha de baixaria, de ataques. Se for escolhido pelo partido, vou fazer uma campanha baseada em idéias, estudando a realidade do nosso município e as possibilidades de resolver seus problemas cruciais. Essa é a responsabilidade que vou me colocar como candidato do Partido dos Trabalhadores.”
Quais as áreas que deveriam inicialmente ganhar soluções na São Luís quatrocentona?
“Penso eu que é o problema da infraestrutura, que busca enfrentar a questão da mobilidade urbana. Temos uma cidade travada hoje, caótica com esse trânsito. Precisamos resolver esse problema. Como é que se resolve? Só abrindo avenidas? Também, mas em primeiro lugar se resolve investindo e priorizando o transporte público de massa. Significa que temos que criar metrôs de superfície, abrir vias expressas para os ônibus trafegarem de forma rápida, exigir com base na lei que esses ônibus tenham uma renovação de frota permanente e confortável, e, com preço condizente para que o trabalhador possa pagar e se mobilizar pela cidade. Se fizermos isso, as pessoas vão deixar de usar o carro próprio e vão passar a usar o transporte coletivo. Outro problema crucial é o saneamento básico. Não temos esgotos na cidade, as praias são impróprias para o banho. Temos que resolver essa situação. Outro é do abastecimento d´água. A prefeitura tem responsabilidade sobre isso.”
Esses serviços hoje pertencem à esfera estadual. Seria então a antiga proposta de municipalizar a empresa de serviços de saneamento e abastecimento?
“Pode ser essa uma possibilidade, mas eu não tenho ainda clareza se é esse o caminho. Tem que haver uma ação muito presente da prefeitura no que se refere ao abastecimento d água. A prefeitura tem que trazer para si a resolução desse problema que temos na ilha de São Luís.”
O senhor como vice-governador não consegue enxergar a Caema como órgão que pode dar solução a esse problema?
“Vejo a Caema como um órgão responsável por isso. Por isso mesmo que digo que, o prefeito da cidade tem que ter a sintonia e dialogar com o governo do estado. Porque, se o prefeito e o governo se juntam, resolvem, por exemplo, o problema do abastecimento d água".
O senhor fala em parceria para resolução de problemas, mas temos aqui a BR-135 que há anos aguarda obras de duplicação e os governos do estado e federal apenas assistem ás tragédias e prorrogam prazos. Não seria o caso de prevalecer a parceria?
“Esse é um problema causado não por falta de interesse do governo federal em revolvê-lo. Ali tem um problema de elaboração de projeto que iniciou errado aqui e foi até em Brasília. Tem problemas de outras ordens. Tanto o governo federal como o governo do estado estão tentando resolvê-los em conjunto. Isso interessa principalmente a nós que moramos em São Luís. O prefeito da cidade tem que estar cobrando. Ele tem também que ter força política no governo federal para buscar essa solução.”
São Luís carrega historicamente o epíteto de “ilha rebelde”. O senhor como candidato com apoio do grupo Sarney não teme ser discriminado por esse eleitorado tradicional?
“Não tenho esse problema. Nós fazemos uma aliança nacional e a replicamos em nível estadual. Essa é uma aliança partidária baseada em programa. Portanto, é uma aliança programática. Temos um projeto para desenvolver o Brasil e o Maranhão. Aliança não quer dizer que você aderiu a outro partido, é a busca de convergência em torno de um programa. Inclusive esse programa tem uma colaboração muito grande do PT, que prever crescimento permanente e de forma sustentada, buscando distribuir renda. Ele tem levado milhões de brasileiros a saírem da pobreza extrema, inclusive aqui no Maranhão. Nosso governo, que é o governo Roseana que nós participamos, está elaborando o plano de combate à pobreza no Estado, cujo principal programa é de capacitação profissional."
Passada essa fase da disputa interna e vencendo as prévias, o senhor vai buscar os partidos do chamado campo democrático popular todos na oposição ao governo do Estado?
“Vou conversar com todos os partidos que não tiverem candidaturas e estejam na base do governo Dilma, e mesmo os que não estejam em nossa base. Vou procurar e conversar. Se estamos juntos em nível federal não podemos ficar separados no Estado. Ainda não fiz isso, porque ainda não sou candidato do PT. Na hora que decidirem, vou começar logo pelo PMDB, grande partido da nossa base nacional e também no estado. Vou procurar os presidentes e as lideranças de todos os partidos da base. Vou procurar o PCdoB, se este não lançar candidatura própria. Fui um dos coordenadores da campanha do candidato Flávio Dino em 2008, tenho amizades históricas com o PCdoB. Assim como o PDT, se o partido não tiver candidato próprio ou não aderir a outra candidatura. O PSB terá candidato, que é o ex-deputado Roberto Rocha. Não tenho dificuldades em conversar com todas as correntes políticas do Maranhão. Essa é minha característica. Posso não concordar com seu posicionamento, mas respeito a divergência política”.
O senhor acha que a divergência política que permeia o cenário político no estado há décadas emperra esse projeto desenvolvimentista?
“Com certeza. Veja bem: o Maranhão perdeu oito anos do governo Lula, porque não havia um diálogo, não havia pontes entre o governo do estado e governo federal. O governante tem sempre de abrir canais de negociação permanentemente em defesa dos interesses da população. Não pode oposição entre entes federativos. A relação institucional tem que ser separada das divergências políticas. O governante tem que ir atrás e apertar a mão do opositor, do adversário político, desde que seja exigida a necessidade do diálogo”.
Se o seu adversário vencer as eleições internas, qual será sua postura?
“Eu o apoiarei. Porque já fiz isso em outros momentos e porque sou do PT. Sou partidário e apoio o candidato do PT. Em qualquer circunstância apoio o candidato do PT. Espero que faça a mesma coisa em relação a minha candidatura."
Publicada na edição do dia 19 de março de 2012 de O Imparcial
Publicada na edição do dia 19 de março de 2012 de O Imparcial