Grandes projetos do MA serão apresentados a Lula e Alckmin por Brandão e José Reinaldo
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- LEOMAR DARONCHO, LUCIANO LIMA LEIVAS - Procuradores do Trabalho
Minas Gerais já havia sofrido outro grande acidente de barragem, em 2015, em Mariana. Nos dois casos, apesar do impacto e dimensão do dano, as investigações e os processos judiciais espelham a dificuldade em punir os responsáveis em tempo razoável, de forma pedagógica, assim como de prevenir e corrigir condutas irregulares e temerárias.
A força devastadora das cenas de destruição influenciou no compromisso do STF, como um dos poderes da República, com a Agenda 2030 da ONU. Ao firmá-lo, o Brasil comprometeu-se perante a comunidade internacional em efetivar os objetivos do Desenvolvimento Sustentável, segundo o qual o alcance dos direitos humanos depende da consecução das três dimensões: econômica, social e ambiental.
O STF e o MPU anunciaram, em 2019, a criação do observatório para monitorar a atuação da Justiça em desastres de grande impacto, com o objetivo de promover a integração institucional, elaborar estudos e propor medidas efetivas de enfrentamento das situações de alta complexidade, judicial e extrajudicialmente.
Porém, persiste a dificuldade de concluir os processos e punir os responsáveis. Em 18/01/2023, a presidente do STF, ministra Rosa Weber, identificou o risco da prescrição, com a proximidade do decurso de quatro anos, que poderia impedir a condenação pelos crimes cometidos em Brumadinho. Determinou que a Justiça Federal promova imediatamente o andamento do processo.
A impunidade contribui para que as irregularidades e negligências persistam nos empreendimentos em operação. Em Carajás, no final de 2021, o Ministério Público do Trabalho identificou a presença irregular de 2 mil operários nas Zonas de Autossalvamento, abaixo de duas grandes barragens da mesma empresa, Vale S/A, que apresentou parâmetros internos de controle. Acionada, a Justiça do Trabalho determinou a remoção imediata dos trabalhadores dos locais de risco e impôs medidas de cautela, que foram acatadas.
Os acidentes de trabalho, imediatos ou de lenta manifestação, também são causados pela influência político-econômica que marca a desregulamentação e o desmonte da fiscalização. São iniciativas que atentam contra os princípios ambientais da precaução e da prevenção, reconhecidos como práticas civilizatórias desde 1992, na Declaração da ONU do Rio de Janeiro.
Nesse sentido, o recente o projeto político de revisão das normas regulamentadoras — NR do Ministério do Trabalho, oficialmente instituído com o propósito de simplificar, desburocratizar e harmonizar as normas de segurança e saúde do trabalhador. Trata-se de um processo abertamente guiado pelo ideário da liberdade econômica, que procura concentrar no empregador a responsabilidade pela identificação dos riscos e definição das medidas de prevenção, esvaziando a participação dos trabalhadores e sindicatos e restringindo a atuação da inspeção do trabalho.
São exemplos desse movimento a nova NR1 (Gerenciamento dos Riscos Ocupacionais) e a NR3 (Embargo e Interdição) além da Lei do Autocontrole da Produção Agropecuária (Lei nº 14.515/2022 ) e do PL dos Agrotóxicos, que usa o conceito de "risco aceitável".
As práticas, autorizadas pela impunidade, e as inovações normativas, resultantes de uma equivocada opção pela autorregulamentação, ajustadas ao interesse econômico imediato de empregadores, afastam o Brasil dos compromissos assumidos perante o mundo civilizado e sinalizam a provável ocorrência de novas tragédias, em prejuízo da saúde e da vida dos trabalhadores. A data emblemática é propícia para o alerta de que a proteção ao meio ambiente e aos trabalhadores brasileiros demanda regulação pública e fiscalização efetiva, na defesa do interesse coletivo independente dos interesses econômicos privados imediatos.
Aos poucos, o Brasil vai conhecendo a figura do juiz-herói. Ele não tem um rosto definido, embora seu arquétipo seja facilmente identificável. Suas características são marcantes.
O juiz-herói é sempre movido por um propósito nobre. Combater a corrupção, defender o meio ambiente ou proteger o País contra atos antidemocráticos são algumas das missões que motivam a atuação intensa desses magistrados excepcionais. Na sociedade contemporânea, onde parece haver uma carência de indivíduos preocupados com o bem comum, o juiz-herói é apresentado como uma fantástica solução. Está convencido de que a razão para ocupar aquele cargo é erradicar, por meio de suas decisões, os males que afligem a sociedade.
No cumprimento de sua missão, o juiz-herói não se detém nos limites territoriais de sua jurisdição. As regras que limitam a competência dos juízes não são aplicáveis a ele. Afinal, a corrupção está em toda parte; a proteção do meio ambiente não pode ficar restrita a determinado bioma; a democracia é ameaçada diariamente, pelos mais diversos meios, em todo o País. Restringir o raio de atuação do juiz-herói representaria um enfraquecimento da causa da Justiça.
Comparados ao juiz-herói, os demais magistrados parecem meros burocratas que cumprem ritos e procedimentos. Não expressam a coragem e a audácia necessárias para abraçar objetivos tão arriscados. Transcender as demandas individuais, enfrentar os interesses dos poderosos e encontrar novos meios para combater os danos à sociedade são atribuições para poucos. Não se pode exigir tudo isso num concurso público.
Nas mãos do juiz-herói, a lei é uma ferramenta, entre outras, na realização da nobre missão. Sua interpretação é maleável, perfeitamente ajustada aos objetivos da atuação do magistrado. Mais do que a decisão jurisdicional alinharse ao texto da lei, o decisivo é a aplicação da lei alinhar-se ao objetivo que norteia o trabalho do juiz-herói.
Dispositivos e comandos constitucionais que restringem a atuação do magistrado são interpretados de forma restrita, reduzindo sua relevância e seu alcance. A pretexto de um bem maior, podem ser perfeitamente ignorados. Afinal, a causa que motiva o juiz-herói não deve sofrer limitações.
No ápice de sua jornada, o juiz-herói é imune a críticas. Não cabe suscitar dúvidas a respeito de um magistrado com propósitos tão virtuosos. Sua atuação deve servir de modelo, ser imitada, e não condenada. Eventuais excessos praticados são irrelevantes perante o bem maior. Também o advogado deve se curvar ao juizherói. Exigir respeito aos direitos de seu cliente pode gerar sérios prejuízos para o mesmo.
Hábil na interpretação das leis a seu favor, o juiz-herói é ainda melhor na construção de sua imagem pública. O caráter do magistrado e a bravura da empreitada ditam o enquadramento no qual é retratado. Não há como escapar: combater a corrupção, defender o meio ambiente ou proteger a democracia são causas de indiscutível interesse social.
Mas o juiz-herói não vive apenas no apogeu. É uma jornada, o que inclui a fase de declínio. Há um momento em que sua missão perde o encanto. Como todo poder exercido sem efetivo controle, há aspectos menos nobres, menos republicanos. O virtuosismo da missão é incapaz de esconder o rastro de danos que inexoravelmente são causados pelo exercício da magistratura autorreferenciado. Métodos não ortodoxos são revelados. A intenção virtuosa de suas decisões não mais esconde o atuar fora da lei. Em vez de juiz, o herói ganha ares de justiceiro.
A despeito de sua fama, que pode ocasionalmente lhe gerar dividendos políticos, o juiz-herói faz muito mal à justiça. Seu legado é de difícil reparação. Iniquidades cometidas em nome da justiça geram não apenas nulidades, mas corroem a autoridade da Justiça.
Ironicamente, o juiz-herói enfraquece a própria causa que o motivava no início. Combater a corrupção torna-se algo mais distante. Prevenir atos antidemocráticos perde a credibilidade. Aqueles que antes figuravam como algozes tornam-se vítimas das ações inescrupulosas de uma magistratura que se pretende imaculada. Ganha corpo uma descrença no Judiciário.
É preciso renovar a compreensão da função do juiz, uma das mais belas e nobres. Julgar exige autocontrole. Não é impor soluções pessoais. É preciso deixar de lado paixões e ideologias. O verdadeiro heroísmo do juiz está em sua capacidade de aplicar o direito além de suas convicções pessoais. Não aplica a sua vontade, mas a lei, aprovada no Parlamento.
No Judiciário, há milhares de juízes genuinamente heróis, anonimamente heróis. No recôndito de seus gabinetes, exercem com responsabilidade seu republicano e sacrificado sacerdócio. Longe dos holofotes, julgam milhares de processos que inundam a Justiça brasileira. Conscientes de que não têm poderes sobrehumanos, atuam nos limites da lei e de sua jurisdição. No entanto, com seu compasso firme e sereno, enfrentam, sem ilusionismos, os conflitos da sociedade sob sua responsabilidade. São os verdadeiros heróis. •
conta1 APrefeituradeSP gastará mais de R$ 600 mil com os principais shows do aniversário dacapital,no vale do Anhangabaú,na quarta (25). Já foram tornados públicosos cachêsdos cantores JoãoGomes (R$ 450 mil) e Vitor Kley (R$ 40 mil) e da apresentação conjunta da banda Fresno como cantor Thedy Corrêa (R$ 120 mil).
conta 2 A programação terá ainda Almir Sater,Belo eBaile da Dona Onete—no qual a cantora receberá Gaby Amarantos e Aqno. Os custos devem ser divulgados nos próximos dias. A prefeitura diz que os valores incluem gasto com a logística dos artistas.
Se você está preocupado com o desenrolar democrático dos tempos presentes, se considera que o tecido social vem se esgarçando, se às vezes é tomado pela inquietação de contribuir de forma mais efetiva para o futuro do Brasil, se tem a aspiração de deixar um país melhor para seus filhos, sobrinhos e netos, se às vezes sente a preocupação com a capacidade de leitura e reflexão das novas gerações, há uma ação acessível que pode contribuir – a rigor, pode ser decisiva – em todas essas frentes: assinar um jornal impresso. Se for possível, faça-o no plural: assine vários jornais impressos.
Colocar a edição diária de um jornal à disposição – em casa, no escritório, no consultório, na biblioteca, na sala de aula, na sorveteria, no café, no bar, na livraria, na natação, na recepção do edifício, na espera do restaurante, no clube, na academia, na lavanderia – contribui para a ocorrência de um duplo processo extremamente poderoso: mais pessoas em contato com informação confiável, apurada e checada com método, e mais pessoas em diálogo com a vanguarda de pensamento de uma sociedade e com sua compreensão crítica. Aparentemente corriqueira, a ação de deixar disponível um jornal impresso é expressão de genuína responsabilidade social. Deveria ser vista como um símbolo forte de cidadania e de resistência democrática. Ou pode haver compromisso efetivo com o coletivo sem conhecimento qualificado do tempo presente?
Em 2021, o Prêmio Nobel da Paz foi concedido a dois jornalistas – Maria Ressa, das Filipinas, e Dmitry Muratov, da Rússia – por suas trajetórias em defesa da liberdade de expressão e da democracia. Foi uma homenagem merecida. Não há democracia sem jornalismo. Não há jornalismo sem jornalistas. Atualmente, no mundo inteiro, todos os ataques à democracia são acompanhados de ataques ao jornalismo e a seus profissionais.
Mas há também outro aspecto fundamental na defesa da imprensa: não há jornalismo sem leitores. Isso não significa, como postulam alguns, transformar os jornais em pirulitos agradáveis ao paladar
A contribuição do jornalismo à democracia só será efetiva se as novas gerações lerem jornal todos os dias
do leitor. Tal mutação mataria a essência do jornalismo, que é expor o mundo tal como ele é, e não como desejaríamos que ele fosse. O ponto é outro. Não há jornalismo se não formamos novos leitores de jornais.
A tarefa de valorização do jornalismo exige desenvolver o hábito da leitura de jornal.
Não há mágica. A contribuição do jornalismo à democracia só será efetiva se as novas gerações lerem jornal todos os dias. Não basta produzir conteúdo de qualidade. Esse conteúdo precisa chegar às pessoas: ser assimilado, debatido e criticado por elas.
Na formação das novas gerações de leitores, o jornal impresso tem uma missão insubstituível. Desejamos que nossos filhos, sobrinhos e netos desenvolvam o hábito de leitura diária de jornais? Certamente, pode ajudar ter, em nossa sala de estar, a edição impressa de um jornal ou, melhor ainda, de vários deles. Assim, nossos familiares e amigos poderão interessar-se e também ler; poderemos conversar sobre as matérias; cada um poderá formular, amadurecer e questionar sua percepção pessoal sobre os diferentes assuntos.
Mas – dirão alguns – meus filhos, sobrinhos e netos já acessam conteúdo jornalístico pelo celular. Leem notícias pelas redes sociais. Sim, tudo isso é muito bom, mas é o nível mais superficial de convívio com o jornalismo. Nada substitui a experiência da edição impressa do jornal, que coloca o leitor em contato com seções e notícias que a princípio não lhe interessariam, que lhe oferecem, desde a primeira página, uma proposta de síntese e sentido sobre o dia anterior. O jornal impresso é a plataforma que mais facilita a leitura integral e atenta dos textos, potencializando sua compreensão.
É verdade que a edição diária completa pode ser vista, tal como está no impresso, no tablet. Mas tem uma pequena (e decisiva) diferença. O tablet é pessoal. Em geral, outras pessoas da família não manuseiam seu tablet. Ou seja, ter o jornal no tablet é espetacular, mas não desperta novos leitores. Assim como o livro em papel, o jornal impresso tem uma dimensão coletiva, compartilhável, sempre à disposição de mais uma pessoa que pode se interessar e, quem sabe, ler num dia e no outro e no outro.
Não privemos as novas gerações desse bem imenso que muitos de nós tivemos em casa desde cedo – o jornal impresso – e teve tanta relevância em nossa formação, em nossa visão de mundo, em despertar o interesse por outros temas. Não é dinheiro perdido. É investimento direto em nossa família, em nossa sociedade, em nosso país.
Podemos e devemos criticar os jornais. Trata-se de hábito muito saudável. Mas não abandonemos sua leitura, não os desqualifiquemos. Ainda que imperfeitos, eles são instrumentos necessários para compreender de forma qualificada, não simplista, a sociedade contemporânea. Se queremos ser mais críticos, mais autônomos, mais democráticos, além de ler diariamente vários jornais, o caminho é formar novas gerações de leitores – e o jornal impresso pode ser um grande aliado nessa caminhada. •