A cada dia que Abraham Weintraub permanece como ministro da Educação, desmoraliza-se esta que é uma das principais – se não a principal – forças motrizes para o desenvolvimento sustentável e para a redução da brutal desigualdade no País. Consumido por desvarios persecutórios e pendor revanchista que só sua alma é capaz de explicar, Weintraub parece não dispor de tempo em seu dia útil para dedicar às questões que realmente interessam à causa da educação, supondo, evidentemente, que o ministro seja capaz de diagnosticá-las. Em vez disso, Weintraub lança-se numa cruzada permanente contra tudo e contra todos que discordam de suas visões e de seus métodos, incluídos num mesmo balaio a mídia profissional, o Congresso, os partidos políticos e estudiosos das políticas públicas para a área de educação.
Nos últimos dias, o ministro manteve-se bastante ocupado com ataques ao Movimento Todos pela Educação, uma organização que há anos dedica-se a debater a formulação de políticas educacionais, com relevantes serviços prestados ao País. O Todos pela Educação é uma entidade apartidária que congrega profissionais de todas as orientações político-ideológicas. A uni-los, a visão da educação como vetor primordial para o avanço de uma nação.
Pelo Twitter, o ministro Weintraub acusou o Movimento Todos pela Educação, em especial a presidente da organização, Priscila Cruz, de encampar uma “articulação” para a sua queda. “Foi Priscila Cruz, presidente do Todos pela Educação, quem organizou o evento de hoje (anteontem) para apresentar alternativas ao que estamos fazendo no MEC. Lembrando, Priscila Cruz, fã de Paulo Freire, quer estratégia para me derrubar”, escreveu o ministro.
Em primeiro lugar, o evento ao qual Abraham Weintraub fez alusão é o Encontro Anual Educação Já, que contou com a presença do secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), além de deputados, senadores, secretários estaduais de Educação e dirigentes das principais ONGs voltadas à educação no País. O ministro foi convidado para o evento em Brasília, mas não participou. Preferiu alimentar suas teorias conspirativas nas redes sociais a contribuir para o debate acerca das políticas educacionais.
Em segundo lugar, não seria necessária uma “estratégia” para “derrubar” o ministro da Educação. Os resultados apresentados por Abraham Weintraub – ou melhor, a falta deles – falam por si sós. Para que fosse substituído, bastaria que seu chefe, o presidente Jair Bolsonaro, quisesse ter entre seus auxiliares diretos um ministro da Educação, e não só um vulgar propalador de suas próprias convicções. O presidente já advertiu que as críticas feitas a Weintraub, a depender de onde venham, são estímulos para mantê-lo no cargo. Ou seja, a inação do ministro da Educação, além de suas ofensas e grosserias, são mais propensas a lhe valer uma medalha de honra ao mérito do que admoestações, quiçá demissão.
O Estado de S. Paulo tem como marca indelével de sua história secular a defesa inarredável da educação como mola mestra do crescimento do País. Não se furtará a apontar os erros cometidos por quem quer que seja em função dos desdobramentos que essas críticas possam ter no destino do agente público criticado. Ao fim e ao cabo, é ao País que Jair Bolsonaro terá de prestar contas caso futuras gerações sejam condenadas ao atraso pela inépcia de seu ministro da Educação.
O Encontro Anual Educação Já teve de ser suspenso porque Priscila Cruz pode ter sido contaminada pelo novo coronavírus, o que ainda não foi confirmado. Diante disso, Weintraub celebrou. “Para fechar o bloco de informações sobre Priscila Cruz e sua ONG Todos pela Educação: CORONAVÍRUS!!!”, escreveu o ministro no Twitter. “Eu sou a antítese de Priscila Cruz”, prosseguiu Abraham Weintraub. Está claro. Priscila Cruz tem caráter.