No
show de lançamento do seu segundo trabalho solo gravado, o CD Camapu (Produção
independente), o compositor maranhense César Teixeira professou valores
sublimes. Exaltou a dignidade, a coletividade a que estamos destinados, a provisoriedade
da existência humana, e, sobretudo, o amor, essa palavra de luxo nos dias
contemporâneos.
Estranho
ao palco formal, CT suprimiu o “boa noite” tradicional após a música de abertura
no Teatro Arthur Azevedo. Logo revelou sua predileção pela informalidade dos
botequins e zonas condenáveis, associadas à sordidez pelos corações que marcam
passo. “Esse teatro foi feito com suor e sangue dos negros. Esse teatro é do
povo”, resumiu o poeta criado na manjedoura da Madre Deus.
Fluiu
então para o repertório combinado, o tal set list. Antes, foi até a coxia pegar
um inseparável copo-companheiro. Ao
longo do show, os goles em público foram imperceptíveis. César chegou a dar um pito
em um cabo-de-guerra que vociferava
um texto desmiolado. Óbvio que com a elegância que só a arte e os ossos
cobertos pela carne exatamente traduzem.
A
dignidade sublinhada pelo artista em um intervalo do repertório foi expressa
precisamente na postura da produção em relação ao mecenato. Realizado por meio
da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, o patrocínio foi mencionado sutilmente
em gravação na abertura do show. Ficou nisso. Nada de logos exageradamente servis
no cenário ou agradecimentos de mesuras ruborizantes.
Descontraído
ao ponto de quebrar o protocolo do roteiro traçado pelo produtor Josias
Sobrinho, César Teixeira em hora e meia catou as composições feitas há décadas,
guardadas no baú e que somente agora registra em estúdio. Músicas feitas no violão
Gianini, muitas egressas da mesa dos bares, cantadas aos goles nos bancos da
praça da Saudade, nos tempos de juventude rebelde com causa. Canções como 'Boi
da Lua' (feita para os meninos abandonados pela cidadania), 'Bandeira de Aço' e
outras tantas.
Para
compensar o fiapo de voz, a poesia que emana da música de César Teixeira dá de
dez e ainda sobra espaço para músicos e maestros como Rui Mário (sanfona e
direção musical do disco e show) demostrarem seus talentos. O mesmo para intérpretes,
como os convidados da noite: Lena Machado, Flávio Bittencourt, Rosa Reis, Criolina,
Mairla Oliveira e Grupo Lamparina; e Célia Maria, diva das estações de rádio
que ainda pulsa. E mais a participação
do mímico Gilson César, distribuindo camapu, a fruta, à platéia. Todos, pura
emoção à flor da pele como Flávio Bittencourt cantando 'Dolores' e César
cantando 'Luar do Mangue', acompanhado pelo celo de Jorlielson Lima.
Simples
como o ar, a música de César segue para a eternidade, flamejante, sem puir, quase
etérea como as coisas engendrada pelo coração. Para ser ouvida nas ilhas do
Maranhão e se espalhar pro mundo inteiro. Ave Caesar, morituri te salutant (Salve Cesar, os que vão morrer te saúdam)