Governador do MA triplica contratações de capelães com salários de até R$ 21 mil
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Maranhão. Movimento do governador Flávio Dino, do PCdoB, que vai tentar a reeleição, foi alvo de ação na Justiça Eleitoral |
Ricardo Galhardo ENVIADO ESPECIAL/ SÃO LUÍS
De olho nos votos dos evangélicos, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), tem estreitado as relações com os grupos religiosos do Estado. Nos últimos meses, Dino aumentou de 14 para 50 o número de capelães contratados pelo governo estadual. A maioria dos novos cargos foi entregue a líderes evangélicos, alguns deles filiados a partidos da base de Dino.
Além disso, o governador deve destinar uma das vagas ao Senado em sua chapa à deputada Eliziane Gama (PPS-MA), ligada à Assembleia de Deus. A manobra causou descontentamento do PT, que pleiteava a vaga.
No dia 15 de março o PRP, que integra a oposição a Dino na Assembleia Legislativa do Maranhão, protocolou uma notícia de fato junto ao Ministério Público Eleitoral (MPE) na qual acusa o governador de “abuso do poder eleitoral” por causa da contratação dos capelães.
Segundo a denúncia, Dino criou uma “seita política-administrativa-religiosa eleitoral” com a indicação dos novos capelães para a Polícia Militar e Corpo de Bombeiros – em um discurso a pastores ele prometeu criar outros 10 cargos para a Polícia Civil.
Dos 34 novos postos, apenas 10 foram destinados à Igreja Católica. Os outros 24 foram entregues a líderes evangélicos. Os salários, segundo a denúncia apresentada ao MPE, vão de R$ 6 mil a R$ 21 mil. Entre eles estão religiosos filiados ao PDT, PTB, PP, PPS e DEM, todos partidos que integram a base aliada do governo Dino.
Outro capelão, o pastor major Caetano Jorge Soares, apoiou publicamente a campanha de Dino em 2014, conforme o portal do PC do B. Já o pastor Venino Aragão de Souza, da Igreja Universal do Reino de Deus, comanda um programa na TV Difusora, retransmissora da TV Record no Maranhão.
Demanda. As nomeações seguem as normas legais e a escolha dos nomes é uma prerrogativa do governador. Em nota assinada por todos os capelães, o governo justifica as contratações dizendo que o aumento do efetivo policial fez crescer a demanda por serviços religiosos nos quartéis.
“Em decorrência do investimento do atual governo nas corporações militares, aumentando de forma significativa seu efetivo e, consequentemente, o crescimento da necessidade de apoio espiritual, pastoral com o objetivo de resgatar valores sensíveis com a comunidade, com a própria família do policial, havendo a necessidade do correspondente aumento de oficiais capelães, bem como, da regionalização dessas capelanias”, afirma a nota.
Durante a Convenção Estadual das Assembleias de Deus do Maranhão, em dezembro do ano passado, Dino, que costuma se definir como um “comunista, graças a Deus”, falou o que pensa sobre a relação entre política e religião.
“Nós garantimos um princípio muito especial, o princípio do estado laico. O estado laico não é um estado antirreligioso, há às vezes uma confusão em relação a isso. O estado laico é aquele cujo governante não protege uma Igreja em particular. Para ser laico de verdade, um estado abrange, acolhe e estimula todas as Igrejas. E isso nós temos feito”, disse.
Em outra frente, Dino tenta integrar os evangélicos na composição de sua chapa. A deputada Eliziane Gama (PPS-MA), ligada à Assembleia de Deus, maior denominação neopentecostal do Brasil, deve ficar com uma das vagas para a disputa pelo Senado.
A escolha irritou o PT, um dos principais aliados de Dino. Eliziane votou a favor do impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff e tentou convocar o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva para depor na CPI da Petrobrás. Além disso, o PT quer indicar o ex-deputado Márcio Jardim para a vaga.
Dino justifica a escolha dizendo que o PT já está representado em seu governo e agora precisa ampliar sua aliança.
‘Ciclo político de Sarney está esgotado no Estado’
Governador diz que indefinição sobre futuro de Lula impede esquerda de buscar alternativas para a eleição deste ano
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) defende a unidade da esquerda na eleição presidencial, de preferência em torno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dino, no entanto, admite que a situação de Lula, preso em Curitiba, é uma trava para o diálogo entre os partidos de esquerda sobre outro nome de consenso.
Quando o senhor foi eleito em 2014 abriu o palanque para os três principais candidatos a presidente, Dilma, Aécio e Eduardo Campos. Agora sete dos 14 partidos que apoiam seu governo anunciaram pré-candidaturas, inclusive o PC do B. O senhor pretende repetir a estratégia? A fórmula é a mesma. Tenho meu voto pessoal que obviamente é na candidata do meu partido, a Manuela D’Ávila, mas ao mesmo tempo cumpro o papel de acolher os candidatos de partidos da nossa aliança.
O senhor se arrepende de ter dado palanque para Aécio?
Não, porque a conjuntura naquele momento indicava que tínhamos o apoio do PSDB que indicou o vice-governador e, atendendo a um pedido do PSDB, eu participei de eventos com o candidato Aécio contra o qual não existia nenhuma denúncia. Você não pode julgar o passado com os olhos de hoje.
Quais as chances de Manuela?
Temos uma eleição muito aberta porque sem Lula todo mundo fica ali no mesmo patamar. Todos os candidatos que lideram podem desmanchar, casos do Bolsonaro, da Marina, do Joaquim. Por isso temos que manter a candidatura dela até que se coloque outra dinâmica. Daqui para julho, vamos ver.
O senhor falou em uma eleição sem Lula. Ele está descartado?
Temos dificuldade de prognosticar a presença do Lula na urna. Defendo o direito de ele concorrer porque acho que ele foi vítima de uma arbitrariedade. Ainda há muito em jogo, muita perspectiva, e acho fundamental que o Lula se mantenha no debate. Levo em conta dois cenários: se Lula for candidato, todos com Lula; se não for é uma eleição aberta.
Acha possível uma unidade da esquerda já no primeiro turno?
Acho possível e necessário para polarizar setores sociais mais amplos e também setores políticos. Se tiver uma eleição fragmentada pode ser que nenhum de nossos candidatos tenha viabilidade e isso pode resultar numa tragédia: ficarmos fora do segundo turno. Por isso acho importante, por exemplo, Ciro e Haddad conversarem.
A situação de Lula atrapalha a unidade?
Essa dúvida que paira sobre o Lula acaba impedindo esse debate porque a opção objetiva da sociedade, as pesquisas mostram, é em torno do Lula. Enquanto fica a hipótese do Lula você não consegue avançar em uma alternativa.
A necessidade das forças de esquerda de demonstrar solidariedade a Lula neste momento impede o debate sobre unidade?
Sem dúvida. É uma prova de generosidade de todos nós compreendermos que não seria leal neste momento descartá-lo e dar como fato consumado que ele vai ficar preso e não será candidato. Tem que esperar esse processo decantar. É um trauma muito profundo encarcerar o maior líder político
O gesto teria de partir do Lula?
Acho que o próprio Lula em algum momento vai se posicionar, pela responsabilidade e pela indiscutível intuição política que ele tem.
As decisões recentes do STF são indícios?
São indícios da fragilidade do veredicto. É tão frágil que precisa produzir outros presos para se legitimar. É um negócio tão mal arrumado que é difícil de se sustentar por muito tempo.
Após 28 anos o ex-presidente Sarney transferiu o domicílio eleitoral de volta ao Maranhão. O que isso significa para o Estado?
Imagino que significa mais na política do Amapá. Eu diria que não foi um gesto de vontade. Ele chegou a ensaiar uma candidatura no Amapá mas aparecia mal nas pesquisas. Ficou evidente que não tinha mais nenhum papel a jogar lá. O certo é que ficou em uma situação frágil lá.
Mas ele tem articulado para tirar partidos da base do senhor.
Ele fez isso mas, graças a Deus, com escasso êxito. São ciclos históricos. No Livro do Gênesis, na Bíblia, quando a mulher de Ló olha para trás ela vira estátua de sal. Acho que isso se aplica também aos ciclos políticos. É um ciclo esgotado no Maranhão porque ninguém quer virar estátua de sal.