Conte algo que não sei.
O Rio tem muitas semelhanças com Kingston. Por exemplo, são duas cidades banhadas pelo mesmo mar e também são incubadoras de músicas criadas do povo para o povo. A única diferença é que eu tenho alguns milhões guardados na Jamaica (risos), mas a energia é a mesma.
De que forma você se aproximou do reggae na década de 1960?
Não foi pelo reggae, foi inclusive pelo reggae. Nós apenas resgatamos uma musicalidade que estava conosco desde o início dos tempos. Algo que tínhamos muito antes de Bob Marley e até mesmo dos ensinamentos de Marcus Garvey. Meus avós já faziam o que eu faço hoje e, mais uma vez, estamos todos redescobrindo tudo isso. É um movimento espiritual constante.
E como é seguir cantando músicas de espiritualidade e protesto em tempos tão turbulentos?
É a mesma coisa de antes. A mensagem e a nossa música nunca mudaram. O mundo, sim, pode ter se ajustado de acordo com o tempo, mas sempre à parte da transição e da entrega que nossa música clama. Ela foi criada para o benefício das pessoas e do mundo, aqui ou em qualquer lugar do Brasil. Ela penetra as nossas mentes como uma entidade, tudo pelo amor, sempre. E levando a mensagem rastafári.
O reggae é mais bem entendido hoje do que quando ele surgiu?
Claro! Hoje existe muito mais divulgação e entendimento da mensagem que estamos passando. Quando ele surgiu, foi um impacto. Reggae é revolução na forma de fazer música. O nome do ritmo pode soar mainstream agora, mas a essência de nossa música é a da rebelião, da revelação de uma verdade e um constante autoconhecimento. É praticamente o início e o fim de tudo.
Você tem um falsete com muita assinatura, praticamente inconfundível. O que costuma fazer para cuidar da voz?
Exercício é a chave. É o que faz a minha voz ficar em forma, sempre. E saber respirar também é essencial, para conseguir passear por todos os tons sempre que eu quiser
(faz vocalizes). Primeiro, trabalho o contato com a melodia, depois, mentalizo a entrega do tom que quero. Esse é o meu processo interno de entrega à música.
E com o Inna de Yard, como anda a agenda de vocês e os preparativos?
Ajustá-la será um de nossos passos para este ano. Por enquanto, fizemos alguns testes tocando em alguns lugares da França e também faremos, em fevereiro, um show na Jamaica, bem em Kingston, para divulgar o nosso documentário, que deve sair em breve. Foi realmente um processo muito natural reunir esse dream team, mas também não tão simples quanto poderia parecer. É algo realmente tão delicado quanto o que foi unir o Buena Vista Social Club.
Qual é o futuro do reggae?
O futuro do reggae é o futuro da música. Ele só está ficando melhor, e temos muita gente jovem chegando com novas ideias e suas próprias verdades, tudo em prol de levar mais amor ao mundo. O dinheiro pode entremear todas as relações, mas ele é apenas parte de toda a transação. No fim, tudo é sobre o amor.
“Tenho 70 anos, participei de grupos seminais do reggae nos anos 60 e formei o trio vocal The Congos. Recentemente, gravei com o Digitaldubs, com quem me apresentei no Rio. Também formei o grupo Inna de Yard, já considerado o ‘Buena Vista Social Club’ da música jamaicana.”