quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Jean Wyllys comenta novo disco de Rita Benneditto

 
Foto de Marcio Vasconcelos
A alegria do dia de hoje foi ver, à disposição pra venda no iTunes Store, o single do novo disco de 
Rita Benneditto . O álbum - que sucede, após oito anos, os bem-sucedidos "Tecnomacumba" e "Tecnomacumba - a tempo e ao vivo" - chama-se "Encanto" e o single de estréia é "Fé", canção de Roberto Carlos e Erasmo Carlos gravada por Roberto em 1978.
    Rita Benneditto não poderia ter escolhido faixa melhor para ser o carro-chefe de seu novo trabalho nesse momento em que ela praticamente reinicia sua carreira, já que, por existência de homônimas, teve de abandonar o antigo nome artístico (Rita Ribeiro), com o qual gravou seus cinco discos anteriores e fez dezenas de participações em tributos.
    Ao escolher sua releitura da canção de Roberto Carlos como primeira "música de trabalho" de Encanto, Rita Benneditto renova e proclama sua fé em seu incontestável talento (dela) e numa carreira que vigora mesmo à margem da atenção dos grandes jornais, revistas e programas de tevê - e também à margem dos preconceitos de programadores de rádios que se recusaram a tocar as músicas de "Tecnomacumba" por causa do título do disco, embora fossem de compositores como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jorge Benjor, Dorival Caymmi e Nei Lopes.
    A versão que Rita Benneditto fez de "Fé" é surpreendente (tenho certeza de que Roberto e Erasmo ficarão felizes e orgulhosos com ela), e, nela, as guitarras rock'n'roll contrastam os glissandos de sua bela voz melodiosa e singular (concordo com Caetano Veloso quando diz que "Rita Benneditto é uma das melhores cantoras do Brasil desde sempre").
    A força de Benneditto não está só na voz, mas também na interpretação. Em sua versão de "Fé", os versos de Roberto e Erasmo Carlos - "Te vejo pelos campos/ Te sinto até nos ares/ Te encontro nas montanhas/ E te ouço nos mares" - adquirem um sentido que os leva além da fé cristã e os faz representarem outras fés, como a fé na natureza divinizada, a fé na razão humana (por mais que uma fé na razão pareça algo contraditório, já que a fé seria o contrário da razão) e a fé em si mesmo. Ouçam vocês mesmos aqui: https://itunes.apple.com/br/album/fe-single/id932535182?ign-mpt=uo%3D4 
    Quando apenas pronunciadas, a palavra "encanto" e a expressão "em canto" não têm qualquer diferença. O que vai diferenciá-las é o contexto em que aparecem. Mas, em vez de marcar suas diferenças, a cantora Rita Benneditto quer, em seu novo trabalho, explorar o que elas têm em comum: uma artista da música "em canto" (no exercício de cantar e entreter as plateias) "encanta". E o "encantar", aqui, não tem apenas o significado de seduzir; maravilhar; ou arrebatar as plateias – algo que Rita Benneditto vem fazendo ao longo de sua carreira – "encantar" significa também lançar o encantamento ou a magia ou o feitiço da música sobre as pessoas.

Parabéns, Rita! Obrigado por alegrar meu dia!