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quarta-feira, 15 de junho de 2016

Memória - As canções do exílio de Jamil Damous

  
Quando estreou com "Tempo Turiense e outros tempos", Jamil Damous (1953 - 2016) provocou de cara boa impressão no universo literário no país. O poeta Carlos Drummond de Andrade fez um comentário positivo sobre o primeiro livro do poeta maranhense, nascido em Turiaçu, litoral norte do Brasil.
Avesso à celebrações, o poeta morreu em 18 de março deste ano, no Rio de Janeiro, cidade que adotou como moradia depois de uma vida em Belém (PA). Na capital paranese Jamil Damous encontrou na voz de Nilson Chaves a forma mais-que-perfeita de propagar seus versos.
Na poesia do poeta turiense, o tempo divide a onipresença com o amor à terra natal. São temas recorrentes na obra do maranhense de dicção regional.
O poeta Nauro Machado saudou Jamil Damous revelando a motivação que sua poesia provocava ao fazer uma “reconstituição de ambientes, de minúcias descritas”. Nauro via em Jamil “a rarefação e o sopro novo de uma verdade e uma força capazes de impor e exigir presença entre os raros e os autênticos”.
O wikipédia registra que em 2003, juntamente com o paraense Vital Lima foi ganhador do prêmio Maria Clara Machado de teatro Infantil, na categoria trilha sonora pelo espetáculo “Bonequinha de Pano”, de Ziraldo. Em dezembro de 2014, Jamil Damous lançou pela Edtora Universidade do Pará seu terceiro e último livro “O Rei do Vento”, sua despedida do livro físico, reunindo material inédito e poemas dos livros anteriores.
Jamil Damous foi, é e será um poeta destacável entre os exilados maranhenses. Jamais deixou de cantar sua terra, embora por aqui pouco tenha estado após levar de Turiaçu seu bau de saudades eternas.

O POEMA

Registro
Todas as noites viajo a Turiaçu
para fazer meu inventário de perdas.
Vou ao cartório do velho Teixeira
e ali enumero,
entre um soluço e uma lágrima
os nomes dos peixes
e os meus brinquedos, inclusive a bicicleta,
veloz e brilhante como a luz do meio-dia
incidindo sobre nossos telhados.

Recito quintais (com seus banheiros
Distantes da casa) e a constelação
Das coisas miúdas habitantes do chão.
Formigas, grãos de milho esquecidos pelas galinhas,
pedaços coloridos de matéria plástica,
estrelas refletidas nas poças d´água
da chuva breve e abundante
da tarde ensolarada.

O velho tabelião discute comigo
a necessidade dessa inútil cantilena.
Mas exijo dele o registro de tudo
nas folhas exatas de papel almoço.

Quero tudo anotado com sua letra caprichada,
de perfeita caligrafia:
a voz de meu pai
me chamando bem cedinho na manhã
para irmos colher o pão ainda quente
na padaria que ele montou só para isso
e nunca lhe deu lucro algum.

A caixinha de música da minha mãe
-onde dançava a bailarina-
que só saía da gaveta da cômoda
em momentos muito especiais.

Reitero meu pedido em registrar o ir e vir das marés
E o velho Teixeira ri da impossibilidade de tal pedido.
Depois, estou nas ruas querendo fotografar tudo,
mas tudo se perdeu.

Volto da viagem carregando a lista imensa
e nas noites vazias deste tempo
é ela que me orienta.


Versos miúdos
Ela me ama
e eu amo Ela
fígado e coração

Narciso
No espelho do quarto de hotel,
Narciso volta a olhar sua cara
no lago de um outro tempo.
A cara velha de Narciso
é a velha cara de narciso.
Se a juventude já não brilha nos seus olhos,
brilham nos seus óculos
as luzes do quarto, a televisão,
a lua, real, entre os letreiros
noturnos de São Paulo.
E isso lhe basta
Pois afinal é só isso que brilho!
O resta é metáfora.

TRAJETÓRIA

OS LIVROS
O Tempo Turiense e Outros Tempos
A Camisa no Varal – 1995
Alguns Azuis do Mar da Barra
O Rei do Vento
























A PALAVRA ao vivo




A LETRA & a música