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quarta-feira, 15 de junho de 2016

Jornalistas do PR processados por juízes recebem prêmio de associação

A equipe do jornal "Gazeta do Povo", de Curitiba, que é alvo de dezenas de processos movidos por juízes, foi escolhida nesta terça-feira (14) para receber o Prêmio ANJ de Liberdade de Imprensa de 2016.
Após publicarem uma reportagem sobre supersalários de juízes e promotores do Paraná, repórteres do veículo estão sendo processados em dezenas de cidades pelo Estado por magistrados que pedem indenização por danos morais.
As ações, em pelo menos 15 cidades, têm obrigado os cinco jornalistas que assinaram o material a viajarem por dias seguidos às audiências. Os pedidos somam R$ 1,3 milhão em indenizações.
Em nota divulgada nesta terça, a ANJ (Associação Nacional de Jornais), que organiza a premiação, afirmou que os profissionais são vítimas de "assédio judicial".
"A escolha [dos premiados] representa o apoio ao jornalismo de qualidade e à coragem da Gazeta do Povo ao abordar os privilégios injustificáveis autoconcedidos pelos magistrados e membros do ministério público paranaense. A despeito do rigor, da objetividade e da sobriedade com que o assunto foi tratado, o jornal, os jornalistas Chico Marés, Euclides Lucas Garcia e Rogerio Waldrigues Galindo, o analista de sistemas Evandro Balmant e o infografista Guilherme Storck respondem a 40 processos", escreveu a entidade.
No Paraná, os juízes e dois promotores de justiça, que entraram com 36 ações individuais até aqui, reclamam de terem sido "ridicularizados" após o jornal ter afirmado que eles recebem supersalários.
A reportagem, publicada em fevereiro, compilou dados públicos para mostrar que, somados benefícios, a remuneração total de magistrados e promotores ultrapassa o teto do funcionalismo público.
AÇÃO COORDENADA
Os jornalistas já sofreram uma primeira condenação, de R$ 20 mil. Na decisão, o julgador acusa a "Gazeta do Povo" de "agir de maneira descuidada" e "pejorativa".
A defesa do jornal sustenta que as petições iniciais são praticamente idênticas e fala em "ação coordenada".
Em audiência recente, um dos magistrados que recorreu à Justiça declarou, segundo gravação citada em recurso, que "muitas outras [ações] virão". "Nós nos mobilizamos e montamos um grupo", disse o juiz Walter Ligeiri Junior.
A Associação dos Magistrados do Paraná nega haver ação coordenada ou intimidação. "A imprensa deve ser livre. Mas, se abuso houver, ele deve ser reparado", defendeu a associação, em nota. Nesse caso, diz, a reportagem sugeriu que os juízes estariam praticando um ato ilícito, recebendo acima do teto.
A defesa da "Gazeta do Povo" recorreu ao STF (Supremo Tribunal Federal), argumentando que nenhum magistrado no Paraná é isento para julgar a causa, mas o pedido de suspender as ações foi negado.