Na semana passada, São Luís, capital do Maranhão, serviu de palco do espetáculo macabro. Não só veículos se transformaram em fogueira. Pessoas também viraram tochas. Na sexta-feira, cinco pessoas ficaram feridas. Uma criança de seis anos morreu em decorrência de queimadura que lhe atingiu 98% do corpo. As demais vítimas, entre as quais a mãe e a irmã de 1 ano e meio da menina que perdeu a vida, encontram-se hospitalizadas. Não só. Base da PM em Raposa, balneário próximo à capital, também sofreu ataques de fora da lei.
A barbárie não se restringe a São Luís. Outras unidades da Federação amargam a ação de bandidos contra o transporte público e instituições do Estado. Valem dois exemplos. Neste fim de semana, em São Paulo, menino de 3 anos foi baleado numa troca de tiros entre um PM e bandidos. Em resposta, homens armados atearam fogo em dois ônibus e depredaram um terceiro. No Distrito Federal, cinco postos policiais foram alvo de vandalismo em menos de um mês.
São amostras de que a segurança pública se encontra em crise. Faltam ações de inteligência. Em São Luís, gravação prova que a ordem de vandalismo partiu do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, onde facções se enfrentam e transformam o presídio em morticínio cujas vítimas se contam às dezenas. Tragédias semelhantes ocorreram no Rio, em São Paulo e outras cidades de norte a sul do país. Salta aos olhos o despreparo das autoridades do Judiciário e do Executivo para enfrentar situações do gênero.
Muitos presos estão encarcerados sem condenação. Há também os que cumpriram pena, mas continuam atrás das grades. As cadeias não desempenham o papel para o qual foram criadas - ressocializar a pessoa que afrontou a lei e, posteriormente, devolvê-la ao convívio social. Faltam condições mínimas de sobrevivência. Amontoam-se homens em depósitos com capacidade aquém da que lhe é exigida. Misturam-se catedráticos do crime com calouros.
No coquetel de descaso, incompetência e desumanidade, formam-se organizações que põem em risco os internos e a população externa. Tal como ocorreu no Rio, em São Paulo e agora em São Luís, medidas tomadas dentro do sistema prisional provocam reações do lado de fora. Impõe-se antecipar-se à ação dos bandidos. Cabe ao setor de inteligência da polícia evitar que tragédias ocorram.
Agir a reboque dos marginais é inversão de papéis. Dá-se a quem não tem nada a perder o poder de instituições, criadas e mantidas para a manutenção do Estado democrático de direito. Prevenir vem antes de remediar. Punir, depois. Ambos os verbos precisam ser conjugados.