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terça-feira, 6 de agosto de 2013

De volta ao Feliz Ano Novo

   "...na escassez não espere grande lealdade..."
Horácio, Epístolas
Epígrafe de Feliz Ano Novo (Rubem Fonseca)

O caso da palavra do especialista em O Imparcial me remete ao conto "Corações Solitários", do livro Feliz Ano Novo (1975), de Rubem Fonseca. Nada haver com um déjà vu. O livro foi censurado no período da ditadura militar. Depois de reeditado no ano passado pela Nova Fronteira.Por iniciativa da Livraria Saraiva a obra de Rubem Fonseca foi incluída entre os títulos da Coleção Saraiva de Bolsa. Um ex-repórter de polícia que por excesso de assunto cíclico, como comerciante matando sócio, pequeno bandido matando pequeno comerciante, política matando pequeno bandido, é mandato embora, bate então à porta do jornal Mulher, publicação feita para classe C, que come arroz com feijão. Em Mulher, todos (na total ausência do gênero feminino) adotam nome de mulher.
    Passa então a assinar a coluna "De mulher para mulher" (muito antes da Marisa, não a primeira dama, mas a loja de roupas femininas), até então assinada por Elisa Gabriela. Adota o nome de Dr. Nathanael Lessa, um sacrilégio para o editor Peçanha, e passa a responder às cartas que ele mesmo cria. Nos intervalos cria roteiros de fotonovelas enfocadas pelas leites do fotógrafo Mônica Tustsi, o Agnaldo. 
    Em uma dessas descobre que o rabugento editor-chefe, Peçanha, fumador de charutos baratos, o endereça correspondências reais via Correios com o nome de Pedro Redgrave. Morador da Tijuca (Rio) o sujeito confessa gostar de cozinhar, bordar e fazer crochê,e, acima de tudo, de colocar um vestido longo de baile. Pena que tenha que ficar trancado em seu quarto.
  Por acaso descoberto, Peçanha desabafa: "Minha vida dá um romance...", por pouco derretendo o coração do ex-repórter de polícia.