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segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Depoimento de uma jovem maranhense sobre a pobreza no estado

 Exatamente, eu morava no interior do Maranhão e lá a realidade é mais difícil ainda, estudei em 4 escolas diferentes quando morava lá, e tds eram de péssima qualidade, diversas vezes passavam de série alunos que sequer sabiam ler e escrever o básico. Um absurdo um aluno na sétima série não saber informar sua própria data de nascimento. Sinceramente, não houve uma escola das quais estudei q possuía infraestrutura de qualidade. Faltavam livros, professores e merenda, houve vzs q eu sentia tanta fome na escola, q tomava bastante água pra ter a falsa sensação de barriga cheia. Além disso, pelo q sei, até hj lá tbm não possui um hospital, no máximo uma UBS, q mts vezes não possui estrutura, equipamentos ou profissionais adequados para casos mais graves, já morreram várias pessoas de lá, porque não resistiram chegar até uma cidade mais próxima (q fica cerca de 200 km distância). Lá tbm não tinha mts oportunidades de empregos, os únicos empregos formais eram para quem trabalhava na área da saúde, educação e segurança, mas os empregos informais eram a maioria, e na maioria das vezes análogos à escravidão. Outro coisa q é bem comum lá é a extração ilegal de madeira, via com frequência carretas cheias de madeira, como se fossem caminhões de alimentos, os madeireiros sempre conseguem despistar facilmente o IBAMA, eles simplesmente se escondem até a poeira baixar e dps voltam na ativa, a cada ano q passa a devastação na região de mata tem sido maior. Durante o período em q morei lá, tbm presenciei mt prostituição de menores e nunca vi o conselho tutelar interferir, vi tantas meninas tendo relacionamentos com homens de mais de 25 anos e logo em seguida essas meninas apareciam grávidas e pouco tempo dps largavam a escola e pra piorar mts delas eram abandonadas pelo pai do bebê. Eu ficava horrorizada qnd via pessoas praticamente da mesma idade q eu fumando ou consumindo bebida alcoólica literalmente ao lado da escola. Tbm houve várias vezes q homens me abordaram de forma estranha, acho q por ser algo comum lá, acho q pensaram q eu tbm fazia programa, como se não bastasse sofri assédio do meu professor de história, provavelmente ele tinha mais de 40 anos de idade, fiquei horrorizada, mas não contei pra ninguém na época por medo, o máximo q fiz foi ignorar ele, dps desse ocorrido teve uma aula dele q foi muito estranha, onde ele começou falar da vida pessoal dele, citou até seus patrimônios, acho q ele pensou q aquilo iria despertar meu interesse nele. Parecia q a cada ano minha vida se complicava, então coloquei na cabeça q estudando iria resolver parte dos meus problemas, então desde cedo optei por trabalhar e estudar, por eu ser de família grande e de renda baixa, comecei a trabalhar com 12 anos para auxiliar na renda de casa, no início lembro que eu vendia feijão verde na rua, assim que consegui certa quantia de dinheiro eu o usei o pra comprar material escolar, eu tinha ficado tão feliz, aquilo pra mim era um luxo, passado algum tempo eu comecei trabalhar para outras pessoas e daí em diante fui explorada diversas vzs, já cheguei a trabalhar um mês inteiro pra receber apenas 50 reais, teve uma época q eu acordava às 5:30 da manhã para ir para o trabalho e só retornava às 6 da tarde pra casa, mas logo em seguida tinha q ir para a escola, onde mts vzs eu perdia o ônibus pq não conseguia chegar a tempo no ponto, e mais uma vez eu tinha q andar mais meia hora p chegar no colégio, então eu resolvi pedir para meu chefe para sair 10 min. antes do trabalho pq eu estava perdendo o ônibus da escola, ele aceitou, mas pouco tempo dps estava querendo descontar no meu pagamento, q não era nem metade de um salário, mesmo assim continuei, ía tão exausta para o colégio, aí qnd chegava lá, pra complicar o meu dia, tinha faltado algum professor, daí tinha q esperar o horário vago acabar para a próxima aula, e ainda por cima eu ainda tinha q aturar um professor de português arrogante, perdi a conta de quantas vezes ele dizia em voz alta pra sala inteira q nós não tínhamos futuro, por conta do resultado ruim do nosso desempenho, ele não levava em consideração que ali todos ali estavam exaustos e do quão difícil era comparecer às aulas, alguns meninos eram ajudantes de pedreiro, outro trabalhava o dia inteiro carregando madeira e pegando insolação, a maioria das meninas tbm trabalhavam e eram mães, somente uma pessoa na sala trabalhava de carteira assinada. Parecia q esse professor tinha prazer em colocar a gente pra baixo e pior q mesmo com as reclamações na direção, nd acontecia, pois ele era amigo de um vereador, tinha mt gente q puxava saco pra ele por mais q ele estivesse errado e tbm se ele saísse não tinha outro para o substituir, teve um aluno q não suportou e desistiu de estudar por influência dele, mas os meus dias eram piores qnd não tinha merenda, ficava até umas 10:30 da noite morrendo de sono e fome na escola, aí qnd acabava a aula eu retornava a pé pra casa, pq o ônibus não ía buscar, aí era mais meia hora de caminhada, ía sozinha pela BR, no período das chuvas pro meu azar me deparava com cobras atravessando a estrada. Bom, Passou um tempo, foi descoberto q a verba da escola estava sendo desviada, o q era óbvio, afinal o tempo q eu estudei lá nunca havia visto a visita de alguém da secretaria de educação, pra supervisionar o andamento da instituição. E como de costume minha rotina era a msm, geralmente eu chegava em casa por volta de umas 11 horas da noite dps da escola e do longo dia de trabalho, só q desgosto da minha vida era ainda maior quando eu chegava e quase não tinham deixado comida pra mim, por falta de consideração de alguns dos meus irmãos, fora q eu não aguentava mais comer miojo e salsicha,era difícil manter essa rotina, mas a necessidade obrigava. Debaixo de chuva ou sol sempre estava comprometida com o trabalho e a escola até doente eu ía, afinal, era minha única opção, já q lá não tinha programa de Jovem aprendiz, mas apesar de td esse sofrimento me sentia grata por poder ajudar em casa, me sentia feliz ao ver a alegria dos meus irmãos menores quando eu chegava em casa com uma sacola de pão. Mas antes disso a situação era pior, nós morávamos em um bairro onde tbm não tínhamos água encanada, tínhamos q puxar água do poço pra tudo e a água não era potável, essa época minha realidade era extremamente difícil e qnd minha mãe ficava doente minha responsabilidade aumentava mais ainda, só dormia preocupada, cortava meu coração ouvir ela chorando baixinho durante a madrugada, a casa q nós morávamos era muito pequena tbm, eu dividia o quarto com meus 5 irmãos e tbm dividia a cama, por eu ser alta era obrigada a ficar na mesma posição durante a noite inteira, pq se não, não iria ter espaço para o meu irmão menor ficar, o calor e a quantidade de mosquitos eram insuportáveis, a parede do quarto corria o risco de cair em cima da cama onde eu e meu irmão ficávamos, tinham vezes q eu nem conseguia dormir e pra piorar eu morava em frente a um ponto de drogas, onde a moradora desse ponto odiava minha mãe e já havia até ameaçado ela de morte, aquela mulher fazia um barulho infernal na rua, bebia junto com a família problemática dela praticamente durante td a semana e ficava incomodando os vizinhos com música alta, e pra completar a polícia de lá era conivente, pq absolutamente todos da região sabiam o q realmente acontecia ali, mas ninguém fazia nada, na vdd o máximo q a polícia local fazia era ficar de segurança em eventos e passear de carro, e pelo q sei, até hj lá continua na mesma. Recentemente, três adolescentes de 12, 13 e 16 anos morreram em um acidente de moto, sim, eles estavam os três na mesma moto e sem capacete outra coisa normal por lá, td isso poderia ter sido evitado se houvesse fiscalização e se as leis de lá realmente funcionassem. Sinceramente, esse esse foi o pior lugar q já morei, a realidade era tão difícil q me fez pensar em me revoltar e deixar de buscar as coisas certas, houve tantas vezes q pensei em desistir, pois era tanta dificuldade, sofrimento e inúmeras humilhações, que quase me levaram a me afundar em uma depressão, foi uma época extremamente difícil para mim, eu só vivia doente e não tinha condições para nd, estava ficando anêmica, tinha dias q não suportava ficar de pé por muito tempo, logo sentia tontura, perdi a conta de qnts vzs passei a madrugada em claro passando mal, eu tive apenas q suportar, eu não conseguia falar só chorava e implorava a Deus em pensamentos por uma vida melhor. Enfim, minha vida poderia ter sido diferente se houvesse ações de políticas públicas. Somente nesse ano tive a oportunidade de ir embora daquele lugar, mas sozinha, mas até pra ir embora de lá foi sofrido, a estrada era péssima, acho q a cada 100 m tinha buraco e eu acho mt difícil essa situação mudar, em época de eleições o q mais rola é compra de votos, principalmente no interior. As pessoas se iludem e se satisfazem apenas com uns showzinhos de forró, pagos pela prefeitura para a programação de final de ano e o resto dos problemas a grande maioria das pessoas relevam e vida q segue. Hoje aos meus 18 anos, me encontro cansada e frustada. Agr tento correr atrás do prejuízo, meu sonho era ser atleta, hj pretendo focar ao máximo para me tornar uma professora, quero poder contribuir fazer a diferença na vida de alguém e tbm servir de exemplo para meus irmãos mais novos, quero influenciá -los para q eles não sigam o exemplo do meus irmãos mais velhos q se envolveram nas drogas e na criminalidade. Eu realmente fico imensamente triste pelas pessoas permanecem nessa situação. Infelizmente é uma realidade cruel q parece não ter fim.