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segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Pandu - Zé Carlos Gonçalves

 ANDU

   (... o vital baixadês)


  Há muito tempo ausente, e saudoso, da Baixada, começo a ter síndrome de abstinência do baixadês. E só quem é "da gema" sabe o tanto que dói essa falta de contato com o "nosso falá". E sofre!

  Aí, a minha única saída é tatear a memória e buscar "o meu combustível", que me mantém vivo.

  E, "nessa louca viági, mi indentifico cum argumas" pérolas. E que maravilhas!

Maravilhas, que me fazem respirar, "de novo, outra vez".

  E, aí, me vejo acalentado por expressões, que "me lavam a alma". E exemplo é o que não falta. Por isso, "Mi encho de corági i seim sabê ôndi mora u perigo", para afirmar categórico e desafiador, com uma autoridade "qui só". "Eu sou eu, e boi não lambe". Ou quase "morrê di raiva", ao ser associado a "um caniço", dado a meu aspecto esquelético. Mas, o pior era ser chamado de "tisguinho"; o que acho está associado à terrível palavra "tísico". Que medo! "Bato inté na madera trêis veiz".

  E, ainda, não "sastifeito", busco, nas madrugadas infindas. De repente, me sinto no meio dos meus, a ser bombardeado, como se nos comunicássemos em outro "indioma". Para indicar que havia pouco tempo para terminar um trabalho: "sol virô tá di tárdi". Falta de espaço, na despensa: "intupetada de bregueço". A mostrarem que "eu não passo" de um ingênuo e até incapaz "de pensar": "êssi caiu numa esparrela".

  "Se viravam", em dois  animais, a esperteza e a ignorância: "quer dar uma de urso e é um cavalo batizado". E o reflexo da gula "vem" em autênticos neologismos: "com bucho 'afolozado' e 'impazinado".

  São tantas expressões baixadeiras, que nos irmanam! E muitas sem "nenhuma" necessidade de explicação. Se bastam e nos fartam. "Irgá um carrapeta; respeito é bom e eu gosto; e é melhor cair na graça do que ser engraçado". 

  No entanto, nem só de situações desagradáveis "vêvi o ômi". Então, trago a palavra mais bonita de minha infância. "Nadica de nada" de reles "chibé e tiquara". Sim, sinhô! Sem dúvida, a sonoridade, mais sonora, agradável, alegre e convidativa é PANDU! De café, de leite, de água com açúcar, de maracujá, de juçara, de murici ... de ... de quarqué  invençonice!

  "Dá inté pra lembê us bêçu!"