Na contramão do mundo, o Brasil continuou com desemprego em alta no terceiro trimestre, enquanto vagas eram abertas em dezenas de outros países. A desocupação caiu seguidamente entre maio e outubro, na média dos 37 países da OCDE, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Do segundo trimestre para o terceiro a média recuou de 8,6% para 7,7%. No mesmo período os números brasileiros seguiram o caminho oposto, avançando de 13,3% para 14,6% da força de trabalho. Com essa piora, a população desocupada aumentou de 12,8 milhões para 14,1 milhões de pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No período de julho a setembro o desemprego diminuiu para 7% nas sete maiores economias capitalistas, 7,7% na União Europeia e 8,6% na zona do euro. Todas as taxas caíram novamente em outubro.
Só em dois países da OCDE o desemprego foi maior que no Brasil: na Espanha, com 16,6% no terceiro trimestre, e na Colômbia, com 17,8%. Nos dois países as taxas continuaram diminuindo em outubro, para 16,2% e 16,3%. Em 28 dos 37 membros da organização, as taxas foram inferiores a 10%. Em 11, foram iguais ou inferiores a 5% no período julho-setembro.
O Brasil já entrou na crise do coronavírus em condições muito piores que as da maior parte dos países da OCDE – muito piores, também, que as de outras economias emergentes. A economia brasileira nunca se recuperou plenamente da recessão de 2015-2016, uma crise exclusiva do Brasil. A atividade cresceu a partir de 2017, mas lentamente, e ainda perdeu impulso em 2019, início de mandato do presidente Jair Bolsonaro.
Nesse ano o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu apenas 1,6%, depois de haver-se expandido 1,8% em cada um dos dois anos anteriores. Durante um semestre o governo pareceu desconhecer o baixo nível de atividade. Alguns estímulos foram injetados a partir de setembro, mas insuficientes para animar a economia. As condições de emprego pouco mudaram nesse período. O desemprego diminuiu de 12,7% no primeiro trimestre para 11% nos três meses finais de 2019, uma taxa muito parecida com a de um ano antes (11,6%).
O Brasil entrou em 2020 como se o governo nada houvesse feito nos 12 meses anteriores para intensificar a atividade. O aumento da ocupação nos meses finais de 2019 foi principalmente sazonal, reforçado apenas pelos modestos incentivos em vigor a partir de setembro.
A única medida importante concretizada no período foi a aprovação da reforma da Previdência, garantida muito mais pela atuação de parlamentares do que pela ação do Executivo. A discussão já havia avançado no mandato do presidente Michel Temer. As poucas tentativas de intervenção do presidente Jair Bolsonaro só atrapalharam a tramitação do projeto.
A inoperância do Executivo em 2019 freou a recuperação iniciada em 2017 e ainda enfraqueceu a economia. No primeiro trimestre de 2020 o PIB foi 1,5% menor que nos três meses finais do ano passado. A indústria perdeu em 2019 o pouco impulso acumulado nos dois anos anteriores. Quando a pandemia chegou, a atividade já estava em retração. A taxa de desemprego em janeiro-março, 12,2%, foi mais que o dobro da registrada na OCDE, 5,4%.
Os números são claros, mas houve quem sustentasse a lenda de um Brasil preparado no início de 2020 para um crescimento mais intenso. Mas o PIB de janeiro-março foi 0,3% menor que o dos primeiros três meses de 2019.
A economia brasileira provavelmente encerrará 2021 sem ter voltado ao patamar de 2019. Muitas outras levarão mais de um ano para retornar àquele nível. Mas essas economias andaram melhor que o Brasil antes de 2020 e acumularam desemprego bem menor. Como no Brasil, a reação no terceiro trimestre foi insuficiente em muitos desses países para anular a queda dos três meses anteriores. Mas a economia brasileira já havia sofrido um tombo em janeiro-março. Nenhuma fatalidade condena este país à estagnação. Mas o País tem governo, dele depende, e será mais fácil crescer se esse governo for capaz, enfim, de reconhecer os fatos e de enfrentá-los.