Ao longo dos trinta e quatro anos de existência o Fórum Maranhense de Mulheres realizou inúmeros debates eleitorais com candidatos a prefeitos e governadores no intuito de construir compromissos dos futuros dirigentes com as políticas públicas para as mulheres. Foi destes debates que se construiu a Delegacia da Mulher, a Secretaria de Estado da Mulher, O Conselho Estadual e Municipal da Condição Feminina e muitas outras políticas públicas. Nos últimos três anos estes debates têm sido realizados em parceria com o Conselho da Condição Feminina por considerar importante agregar esforços e assim contribuir para ampliar o debate na sociedade.
Nestas eleições os debates também atingiram as candidatas a vereadora buscando assim dar maior visibilidade as elas, principalmente as que estão filiadas no campo da esquerda, tendo em vista que este Fórum sempre foi pautado no debate de promoção neste campo. Desse modo foi realizado no dia 15/10 um debate com as vereadoras de forma online, e a segunda atividade deste ano também em parceria com o Conselho foi com os candidatos a prefeito no dia 27/10/2020.
O objetivo das atividades sempre foi a promoção a visibilidade das mulheres na política, bem como, levantar as discussões acerca das políticas públicas para as mulheres e a garantia do compromisso dos candidatos a prefeitos no desenvolvimento e cumprimento das ações e projetos que beneficie as mulheres em todo as áreas de forma transversal. Assim está descrito na Carta compromisso proposta aos mesmos.
Os acontecimentos ocorridos no decorrer do debate com os candidatos a prefeito e a repercussão de uma nota e do relatório elaborado de forma parcial pelo Conselho Municipal nos motivaram a escrever esta nota de esclarecimento a fim de trazer a verdade dos fatos:
Durante a realização da atividade com os candidatos a prefeitos ocorreram vários momentos que levaram ao constrangimento de muitas de nós mulheres ali presentes, o que pode ser comprovado pela filmagem do evento. E aqui falamos como testemunhas presente no local e como integrantes da organização. A fala de abertura foi feita pela coordenadora do Fórum, Neuzeli Pinto, e pela assistente social e membro do Conselho, Silvia Leite, onde foi colocado o histórico dos movimentos feministas e de mulheres, as lutas e os objetivos da atividade que transcorreria naquela tarde.
Os candidatos ocuparam a mesa. O candidato Duarte Junior chegou ao local com atraso e foi para a mesa acompanhado de sua candidata a vice prefeita.Mary Ferreira foi designada para representar a chapa de Rubens Junior no evento, o que foi aceito a priori pela coordenação.
Desde o início o que se percebeu foi uma grande hostilidade por parte do candidato Duarte Junior, de seus correligionárias e assessores com comentários sempre hostis e agressivos. No primeiro momento o próprio Duarte Junior foi altamente agressivo com a Profa. Neuzeli Pinto, questionando a questão do tempo. Importante destacar que Neuzeli Pinto foi designada à função de controle do tempo de fala dos(as) candidatos(as). Em um tom agressivo Duarte questionou o porquê do controle do tempo dele, já que os outros tinham usado um tempo maior. Foi explicado a ele que todos estavam com o mesmo tempo. Ele foi imediatamente lembrando que diferente dos demais deu a palavra para a sua candidata a vice. Ao contrário dos outros, o tempo dele foi até maior.
Foi esclarecido também que somente um deles poderia falar, pois o tempo não poderia ser o dobro dos demais. Duarte não gostou, esbravejou e se contrapôs com a integrante da coordenação do evento, chegando a gritar, sendo seguido por seus apoiadores, tumultuando a atividade.
Logo em seguida Duarte Junior e seu grupo fizeram um novo tumulto porque o candidato Bira, que já havia avisado, teria que se ausentar, pois tinha um programa de TV já marcado. A coordenação sugeriu que o candidato Bira assinasse a Carta Compromisso antecipadamente. Isto foi motivo de discórdia dos seguidores e assessores de candidato Duarte Junior, que não concordavam em antecipar a fala e assinatura do candidato Bira, e novamente tumultuaram a atividade.
No terceiro momento questionaram a presença da Mary Ferreira como representante da chapa Rubens Junior. Mary Ferreira estava ali cumprindo um papel que lhe foi designada pelo candidato. A coordenação não fez nenhuma objeção no primeiro momento e permitiu que ela representasse o candidato Rubens Junior. Mas, quando se iniciou os questionamentos e um terceiro tumulto, Silvia Leite, uma das coordenadoras representando o CMCF, achou viável seguir para o registro das assinaturas pelos candidatos da Carta Compromisso, suspendendo assim o debate com os temas que seriam sorteados, já que essa etapa poderia causar ainda mais transtorno e tumulto. Ocorreu ainda, outro fato, que desencadeou ainda mais uma discussão: a candidata a vice prefeita da chapa Duarte Junior relatou em seu discurso várias experiências negativas que teve no atendimento da Casa da Mulher Brasileira - CMB, desqualificando os atendimentos e encaminhamentos feitos pelos órgãos que compõem a CMB. Ao final a Coordenadora da Casa da Mulher Brasileira, Susan Lucena, pediu a palavra, e contestou as acusações, explicando a função e a dinâmica do atendimento da CMB. Esse foi a descrição dos principais acontecimentos.
Importante ainda destacar à investida da radialista Rose Castro contra a Mary Ferreira nas redes sociais, fato que repudiamos por ser uma atitude antifeminista, que vai de encontro a todos os princípios do feminismo e da tão almejada sororidade entre as mulheres. Mary Ferreira estava ocupando um lugar na mesa por designação do candidato para representá-lo e só o fez porque a coordenação do evento assim o permitiu. E foram esses os fatos relatados pela imprensa que estava presente no evento, usando da sua liberdade para exercer sua função. Não devemos esquecer que vivemos em um país democrático, em que a liberdade da imprensa é algo imprescindível.
Vale ainda lembrar que na história deste Fórum e do Feminismo no Maranhão temos mantido uma linha de atuação que prima pelo reconhecimento das mulheres como sujeito de direito, portanto, é princípio garantir a fala das mulheres, principio este não compreendido por mulheres que não são feministas. Destacamos também o fato de que na política privilegiamos as mulheres, por esta razão repudiamos todo e qualquer ato de cerceamento de direito a fala.
Por fim, lembramos que nunca devemos esquecer que a nossa união e sororidade são imprescindíveis para a construção de uma realidade melhor para nós mulheres.
Abraços feministas a todas vocês!!…
Neuzeli Almeida Pinto
Flor de Liz Serra Salles
Coordenadoras do Fórum Maranhense de Mulheres