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segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Laurentino Gomes: ''É preciso enfrentar de forma corajosa o racismo''

Das 500 maiores empresas que operam no Brasil, apenas 4,7% dos postos de direção são ocupados por afrodescendentes, destaca Laurentino Gomes, em entrevista exclusiva ao CorreioAutor do recém-lançado livro Escravidão — o primeiro de uma trilogia — o premiado jornalista e pesquisador faz um detalhado mapeamento de um Brasil cheio de contradições. “A escravidão continua a existir entre nós sob formas sutis e disfarçadas, que incluem o preconceito racial e o regime de trabalho que, em muitos aspectos, se assemelham ao cativeiro”, destaca. “O desafio é fazer uma segunda abolição”, acrescenta.

Como entender a construção do Estado brasileiro desde 1808, livro de estreia da sua primeira trilogia, até o recém-lançado Escravidão?
A escravidão é o fio condutor de todos os grandes eventos da história brasileira. Seria impossível entender os nossos principais ciclos econômicos — como os do açúcar, do ouro, do diamante e do café — sem estudar a dependência da economia brasileira em relação à mão de obra cativa. A escravidão aparece também como pano de fundo dos acontecimentos mais importantes, como a guerra contra os holandeses, a Independência e a Proclamação da República.
O Império brasileiro, que nascia com a chegada da corte de Dom João ao Rio de Janeiro, em 1808, me encanta por uma certa nostalgia, um projeto de Brasil que poderia ter sido e não foi, uma miragem que se perdeu no passado. O Brasil imperial era uma terra mais imaginária do que real. Às vésperas da proclamação da República, havia ali um país que aparentava ser mais civilizado, rico, elegante e educado do que de fato era ou seria no futuro. Aos diplomatas e visitantes estrangeiros, apresentava-se como um império destinado a ser grande, poderoso, desenvolvido, ilustrado — um “gigante adormecido em berço esplêndido”, como dizia a própria letra do Hino Nacional.
O imperador Pedro II, sempre fotografado com um livro nas mãos ao lado de um objeto científico, era o símbolo maior disso tudo. Esse Brasil de sonhos, no entanto, confrontava-se com outro, real e bem diferente, marcado pela escravidão, pelo analfabetismo e pela pobreza. Era uma contradição difícil de sustentar no longo prazo.
O historiador pernambucano Oliveira Lima escreveu que a República foi o resultado lógico da decomposição do regime monárquico. Durante 67 anos, o Império brasileiro funcionou como um gigante de pés de barro. Os salões do Império procuravam imitar o ambiente e os hábitos de Viena, Versalhes e Madri, mas a moldura real compunha-se de pobreza e ignorância. Havia uma flagrante contradição entre a corte de Petrópolis, que se julgava europeia, e a situação social dominada pela mão de obra cativa, na qual mais de um milhão de escravos eram considerados propriedade privada, sem direito algum à cidadania.
Nesse Brasil “de faz de conta”, destacava-se uma nobreza constituída, em sua maioria, por fazendeiros donos ou traficantes de escravos. Eram eles os sustentáculos do trono que, em contrapartida, lhes conferia títulos de nobreza não hereditária, tão efêmera quanto a própria experiência monárquica brasileira. Todo esse precário arcabouço político começou a ruir em 1888, com a assinatura da Lei Áurea, que abolia a escravidão no país. Os barões do café, os senhores de engenho e os fazendeiros, que dependiam da mão de obra cativa, sentiram-se traídos e aderiram à campanha republicana. Portanto, para entender o que somos hoje, é preciso estudar a escravidão.
Pelo menos 6 milhões de nativos foram retirados à força de suas nações na África para servir de mão de obra em terras brasileiras. Como pagar esse débito?
Ainda temos pela frente o desafio de fazer uma segunda abolição, como se fosse um complemento à Lei Áurea de 1888. Isso significa enfrentar de forma corajosa e decisiva o problema do racismo e da desigualdade social no Brasil. Infelizmente, a escravidão continua a existir entre nós sob formas sutis e disfarçadas, que inclui o preconceito racial e o regime de trabalho que, em muitos aspectos, se assemelham ao cativeiro.
O Brasil tem feito esforços genuínos na criação de leis, instituições e regulamentos destinados a combater o racismo. Mas ainda há muito a ser feito. A ideologia racista, usada no passado para justificar o tráfico negreiro, permanece, ainda hoje, oculta nas formas preconceituosas de relacionamentos entre brancos e negros. Isso faz com que, por exemplo, nas 500 maiores empresas que operam no Brasil, apenas 4,7% dos postos de direção e 6,3% dos cargos de gerência sejam ocupados por afrodescendentes.Os brancos são também a esmagadora maioria em profissões qualificadas, como engenheiros (90%), pilotos de aeronaves (88%), professor de medicina (89%), veterinários (83%) e advogados (79%). No meu entender, só a persistência de uma ideologia racista, que recusa oportunidades a todos os brasileiros, independentemente da cor da pele, explica essas diferenças. Ou seja, o verdadeiro racismo não se expressa apenas com palavras e atitudes ofensivas, que a lei proíbe, mas na recusa em dar oportunidades às pessoas negras ou afrodescendentes de se realizarem plenamente como seres humanos. Esse é o famoso racismo estrutural, enfronhado na nossa maneira de ser, de agir e de pensar. Também por isso, eu sou a favor do regime de cotas preferenciais para afrodescendentes nas escolas e postos da administração pública. A começar pelo seu caráter simbólico. Mais de um século depois da Lei Áurea, é a primeira vez que o Brasil, sob um regime democrático, tenta implantar políticas públicas destinadas a enfrentar o legado da escravidão.
A política de cotas é polêmica, aqui e em qualquer lugar do mundo, mas é também um importante mecanismo de correção de injustiças e desníveis de oportunidades entre os brasileiros. Nós nunca vamos ter um país decente, enquanto nós não dermos as mesmas oportunidades para a população afro-brasileira se expressar na sua plenitude, nos seus talentos e vocações. Mais do que o pagamento de uma dívida histórica, portanto, as cotas são um importante investimento no futuro do país.
O escritor moçambicano Mia Couto destaca que os brasileiros não conhecem e não estudam a África como deveriam. Você concorda? Temos uma visão europeia diante do continente africano?
No fim do século 17, o padre jesuíta Antônio Vieira cunhou uma frase famosa. “O Brasil tem seu corpo na América e sua alma na África”, afirmava ele. No meu entender, é uma frase profética, que continua atual ainda hoje. O problema é que hoje mantemos com a África uma relação esquizofrênica e contraditória. É como se houvesse uma cisão entre corpo e alma brasileiros. O trabalho cativo africano deu o alicerce para a colonização portuguesa na América e a ocupação do seu imenso território.
Também moldou a maneira como nos relacionamos uns com os outros ainda hoje. O Brasil dos colonizadores, que durante quase quatro séculos explorou o trabalho de milhões de cativos africanos, sempre sonhou ser branco e europeu. Um dos projetos nacionais mais discutidos durante o Segundo Reinado foi o de branqueamento da população.
Segundo a opinião entre as elites da época, o sangue africano teria “corrompido” o caráter e a índole dos brasileiros. Era preciso compensá-lo importando milhões de colonos europeus católicos e brancos, o que de fato mudou a configuração demográfica dos estados do Sul, incluindo São Paulo. Um dos casos mais bem-sucedidos de “branqueamento” populacional é o estado em que nasci, o Paraná.
Em 1850, quase metade da população de Curitiba era negra. Hoje, é quase inexpressiva, devido à chegada dos imigrantes poloneses, alemães, ucranianos e italianos, entre outras nacionalidades. Essa esquizofrenia entre corpo e alma aparece ainda hoje. Neste início de século 21, temos uma sociedade rica do ponto de vista cultural, diversificada e multifacetada, mas também marcada por grande desigualdade social e manifestação quase diária de preconceito racial. De um lado, celebramos as nossas heranças presentes na música, na dança, na culinária e outros aspectos que tanto diferenciam a cultura brasileira no mundo, entre o mais cru preconceito racial. De outro, desprezamos a nossa África, tratada com preconceito e abandono, que se expressa na forma de desigualdade social.
Por que essa “desimportância” que damos à cultura africana, mesmo ela tão impregnada em nossas vidas? Não nos reconhecemos?
Acho que, oculto sob esse aparente desinteresse, existe um projeto nacional de esquecimento. O Brasil, maior território escravagista do hemisfério ocidental, abandonou os ex-escravos e seus descendentes à própria sorte depois da Lei Áurea. Nunca se preocupou em lhes dar terra, trabalho, educação e oportunidades. Abandonou também a própria memória da escravidão.
Até recentemente, o assunto era praticamente ignorado nos currículos escolares e nos livros didáticos. E não por acaso, nunca tivemos um grande museu nacional da escravidão e da cultura negra. Museus, como se sabe, não são apenas lugares de passeio e entretenimento. São locais de estudo e reflexão. Não ter um museu com esse perfil é, portanto, parte desse projeto nacional de esquecimento. Em vez de estudar e refletir a sério a história e o legado da escravidão, preferimos construir alguns mitos a respeito de nós mesmos. Um deles afirma que teríamos tido uma escravidão mais benévola, patriarcal e boazinha, o que também teria dado origem a uma grande democracia racial brasileira. Tudo isso é mito e está sendo confrontado hoje pela realidade dos números, que mostram um abismo de oportunidades e condições de vida entre o Brasil europeu e o Brasil africano. Rediscutir nossa identidade nacional, o que inclui um reconhecimento da importância e do legado da escravidão, é um dos nossos desafios mais urgentes.
Você identifica traços da escravidão no Brasil contemporâneo? Há uma escravidão sutil, subliminar ou ela está escancarada nas estatísticas de pobreza, por exemplo?Escravidão não é um assunto bem resolvido e congelado no passado. Ainda está vivo entre nós e pode ser observado na paisagem e nos números. Somos um dos países mais segregados do mundo, na geografia e nas estatísticas. Basta observar quem mora nas periferias insalubres, perigosas, dominadas pelo crime organizado, pelo tráfico de drogas, sem qualquer assistência do Estado brasileiro. Na maioria, são pessoas afrodescendentes. Enquanto isso, os chamados “bairros nobres”, com boa qualidade de vida, segurança, serviços públicos e educação de qualidade, são habitados por pessoas descendentes de colonizadores europeus brancos.
O preconceito é uma das marcas das nossas relações sociais no Brasil, embora sempre procuremos disfarçá-lo com os mitos de que seríamos uma grande e exemplar “democracia racial” e que a escravidão entre nós teria sido mais patriarcal e tolerante do que em outros territórios da América. Tudo isso é ilusório e desmentido pelas estatísticas, que mostram um fosso enorme de desigualdade entre negros e brancos no país em todos os itens analisados. Os descendentes de africanos ganham menos, moram em lugares mais insalubres, estão mais expostos aos efeitos da violência e da criminalidade e têm menos oportunidades em todas as áreas, incluindo emprego, saúde, educação, segurança, saneamento, moradia e acesso aos postos da administração pública. Esse é um legado da escravidão, mal resolvido no passado e que ainda hoje tentamos negar.
As redes sociais são um ambiente em que a propagação do racismo é exacerbada e impune. É possível combater as narrativas da desorientação? Como humanizar as relações entre as pessoas?
As redes sociais se tornaram um terreno fértil para um projeto global de desinformação com objetivos políticos. A era da pós-verdade afeta de modo particular o jornalismo, a profissão que exerço há 42 anos. Os jornalistas e o jornalismo estão sob ataque cerrado no mundo inteiro. Isso é parte de projetos ideológicos poderosos, de esquerda e de direita, que, para serem bem-sucedidos, dependem de uma sociedade desinformada e vulnerável à manipulação da informação. Como se defender disso? Acho que, mais do que nunca, precisamos ser consistentes na pesquisa, honestos e transparentes no nosso trabalho. A nossa salvação estará sempre na qualidade, na credibilidade e na relevância do conteúdo que produzimos. A melhor maneira de enfrentar a desinformação é ajudar a sociedade a se manter informada, com capacidade de crítica e discernimento para tomar decisões que dizem respeito ao seu futuro e aos seus interesses. Este é um tempo marcado também por falta de gentileza. Precisamos ser gentis uns com os outros, o que também significa sermos educados nas redes sociais e evitar tanto quanto possível estimular o clima de ódio e intolerância reinante nesse meio.
Qual o retrato do Brasil, hoje? Em que o diferencia da colônia de 1808 e em que se assemelha?
As dificuldades atuais são enormes e, às vezes, parecem até insuperáveis. Ao ler o noticiário, temos razões de sobra para acreditar que o país é mesmo corrupto, injusto, violento, dominado por gente cínica e desonesta. Apesar disso, eu acredito no futuro do Brasil. Vivemos um momento decisivo e a grande tentação que paira no nosso horizonte hoje é justamente o desânimo. Por isso, é sempre bom observar o presente com um certo distanciamento. Se olharmos o Brasil de uma perspectiva mais histórica, há razões para otimismo moderado. Nesses últimos dois séculos, desde a chegada da corte de Dom João ao Rio de Janeiro, em 1808, passando pela Independência, em 1822, e pela Proclamação da República, em 1889, o Brasil falhou na tarefa de realizar coisas importantes, como prover educação para todos, incorporar os ex-escravos na sociedade civil e produtiva, reduzir a pobreza e formar cidadãos. São questões que ainda nos desafiam hoje.
Por outro lado, o fato de termos chegado até aqui como um país grande, integrado, de dimensões continentais, relativamente tolerante no aspecto político, racial e religioso, nos fornece sinais de esperança em relação aos problemas do presente.
Como levar o debate do preconceito e do ódio a pessoas que relutam em entender o processo histórico? 
Acho que a melhor maneira de enfrentar esses desafios é pela educação, pela leitura e, em particular, pelo estudo da história. Precisamos entender e refletir sobre o que aconteceu. Uma sociedade, ou um país, que não estuda história é incapaz de entender a si mesmo, porque desconhece as suas raízes. Como não sabe de onde veio, provavelmente também não saberá o que (ou quem) é hoje e muito menos o que será no futuro.
Por isso, estudar história é uma tarefa fundamental em um Brasil que, pela primeira vez em mais de 500 anos, convida todos os brasileiros a participarem da construção do futuro em um regime de democracia representativa. Só pelo estudo de história será possível preparar, ou qualificar, os cidadãos brasileiros para a difícil tarefa de fazer escolhas e organizar a realização do país dos nossos sonhos. Isso inclui o racismo e o passivo social resultante da escravidão.
O pensamento conservador saiu das minorias ricas e alcançou as periferias das grandes cidades, justamente onde moram os excluídos, os vulneráveis... As vítimas históricas do racismo. Por quê?
Vivemos tempos sombrios, de pouca racionalidade, muita gritaria, muita intolerância e radicalização. Existe um clima de desânimo e de grande frustração no Brasil e no mundo todo, devido às promessas de combate à pobreza e de melhoria das condições de vida que nunca se cumpriram. A concentração de renda nunca foi tão grande. As jornadas de trabalho se tornaram exaustivas. A vida urbana é caótica, perigosa e estressante. Nesse ambiente de incerteza e falta de sonhos, grupos poderosos tentam manipular a opinião pública tentando desqualificar pesquisas e conclusões científicas no que diz respeito ao meio ambiente e à própria história. Usam como arma argumentos nacionalistas e preconceituosos que, no passado, provocaram grandes tragédias na história da humanidade. O alvo mais vulnerável é justamente a população de menor escolaridade, que nunca teve a chance de desenvolver um filtro crítico contra o discurso extremista e manipulador. A ignorância, como se sabe, é um instrumento muito eficaz de dominação.
Você destaca no livro Escravidão que “onde houve ser humano, houve escravidão”... É esta a nossa natureza?
Infelizmente, sim, a escravidão parece fazer parte do código genético do ser humano. Existiu em todas as grandes civilizações, incluindo a Babilônia, o Egito, a Grécia, Roma, os territórios dominados pelo islã e a própria África antes da chegada dos europeus. No Brasil, envolveu tantos indígenas quanto africanos escravizados.
Antes de investir maciçamente no tráfico de cativos africanos, os portugueses tentaram de todas as maneiras suprir as necessidades de mão de obra da colônia com escravos indígenas. Estima-se que, na época da chegada de Cabral, haveria entre três e quatro milhões de indígenas brasileiros, distribuídos em centenas de tribos. Falavam mais de mil línguas e representavam uma das maiores diversidades culturais e linguísticas do mundo. Foram massacrados por doenças, guerras e ocupação de suas terras.
O Brasil matou, em média, um milhão de indígenas a cada 100 anos até a chegada da corte de Dom João, em 1808. Ainda hoje, o regime escravista persiste no mundo e no Brasil sob formas de trabalho desumanas, indignas e inaceitáveis para os padrões éticos que julgávamos ter atingido neste início de século 21. Uma organização britânica a Anti-Slavery International (mais antiga entidade de defesa dos direitos humanos, fundada em 1823 para combater o tráfico negreiro) afirma que existem atualmente mais escravos no mundo do que em qualquer período nos 350 anos de escravidão africana nas Américas.
Seriam 40 milhões de pessoas vivendo hoje em condições de vida e trabalho análogas às da escravidão, ou seja, quatro vezes o total de cativos traficados no Atlântico até meados do século 19. Ainda segundo a Anti-Slavery Internacional, a cada ano, cerca de 800 mil pessoas são traficadas internacionalmente ou mantidas sob alguma forma de cativeiro, impossibilitadas de retornar livremente e por seus próprios meios aos locais de origem. E lamentavelmente, o nosso Brasil aparece sempre com destaque nesta lista suja.
Escravidão é o primeiro capítulo de sua nova trilogia; pode adiantar quais abordagens os outros dois volumes terão?
Os três livros compreendem uma série de ensaios e reportagens de campo e, sempre que possível, procuram seguir uma ordem cronológica. O primeiro volume, lançado na Bienal do Rio de Janeiro 2019, tem seu foco principal na África — pela óbvia razão de que, ao escrever sobre a escravidão no Brasil, é preciso começar pela África. Cobre um período de, aproximadamente, 250 anos, entre o início das incursões e capturas de escravos pelos portugueses na costa da África, em meados do século 15, até o fim do século 17. Traz também alguns capítulos sobre a escravidão em outros períodos da história da humanidade, como na Grécia Antiga, no Egito dos faraós, no Império Romano e nos domínios do islã e na própria África antes da chegada dos portugueses.
O segundo livro, previsto para 2020, concentra-se no século 18, auge do tráfico negreiro no Atlântico, motivado pela descoberta das minas de ouro e diamantes no Brasil e pela disseminação do cultivo de cana de açúcar, arroz, tabaco, algodão e lavouras e do uso intensivo de mão de obra cativa em outras regiões do continente. Num período de apenas 100 anos, mais de 6 milhões de seres humanos foram traficados da África para as Américas, dos quais 2 milhões (um terço do total), só para o Brasil.
O terceiro e último livro, a ser lançado em 2021, se dedica ao movimento abolicionista, ao tráfico ilegal de cativos, ao fim (pelo menos do ponto de vista formal e legal) da escravidão no século 19 e ao seu legado nos dias atuais. São também abordados, nos dois volumes finais da trilogia, temas como a família escrava, as alforrias, a escravidão urbana, as festas, as irmandades e as práticas religiosas, a assimilação, as fugas, as rebeliões e os movimentos de resistência.