Quando um jornalista lhe pediu uma declaração sobre a morte de João Gilberto, o presidente Bolsonarao limitou-se a dizer em meio à comoção geral: “Ele era uma pessoa conhecida. Nossos sentimentos à família, tá ok?” E só. Os mais importantes jornais estrangeiros já tinham noticiado com destaque e pesar o falecimento do artista, classificando-o não como uma “pessoa conhecida”, mas como o reconhecido gênio que levou o mundo a aplaudir a bossa nova e fez de sua voz, quase um murmúrio, um som universal.
É estranho, porque Bolsonaro não faz economia de palavras quando não deve. É o rei da gafe e da inconveniência. Uma vez escrevi que ele sofria de incontinência verbal, e isso provocou reclamações. Não é implicância. Se ele conseguisse ficar sem opinar por algum tempo, esse silêncio obsequioso lhe faria muito bem, e ao governo também.
O Google está aí para provar, com o registro de centenas de frases polêmicas. Há suas famosas afirmações homofóbicas (“Seria incapaz de amar um filho homossexual”), contra a mulher (“Ela é muito ruim, feia, jamais a estupraria”), racistas (“Quilombolas não fazem nada. Nem para procriador servem mais”), a favor da violência (“Vamos fuzilar a petralhada toda aqui do Acre”, “O erro da ditadura foi torturar e não matar”) e muitas outras que não cabem neste espaço.
Quando se cala em relação às conquistas do cinema brasileiro em Cannes e de Chico Buarque com o Prêmio Camões ou, como agora, em que se refere ao genial intérprete de “Chega de saudade” sem um elogio, sem uma homenagem, sem luto oficial, trata-se de um recado implícito: a cultura é para ele um prato indigesto.
O seu último palpite infeliz foi a defesa do trabalho infantil: “Trabalhei desde os 8 anos de idade plantando milho, colhendo banana, com caixa de banana nas costas com 10 anos de idade e estudava. E hoje sou quem sou. O trabalho dignifica o homem, a mulher, não importa a idade”.
A versão de seu irmão Renato é outra: “Meu pai (…) nunca deixou um filho trabalhar, porque achava que filho tinha que estudar”.
Sem comentários.