Esta é Damares Alves |
A ministra argumenta que era só uma metáfora. Diante de um celular, a pastora Damares Alves avisava que sua posse no governo Jair Bolsonaro representava uma nova era no Brasil. “Menino veste azul e menina veste rosa!”, dizia, animada.
Como metáfora, a cena gravada na quarta-feira (2) é uma alegoria esclarecedora sobre o caráter retrógrado dessa “nova era”. O simbolismo ultrapassado usado pela ministra revela que sua visão sobre políticas públicas não vai além de uma visão simplista do conservadorismo.
Damares falou das cores para descrever sua oposição ao que chama de “ideologia de gênero” —algo que, na prática, não significa nada. A expressão virou um bordão de grupos religiosos e políticos de direita para atacar programas de educação sexual e combate à discriminação.
É direito de qualquer segmento discordar de ações de governo, mas o debate ficou tão contaminado por pregações e frases de efeito que deixou de fazer sentido. “Ninguém vai nos impedir de chamar as meninas de princesas e os meninos de príncipes”, disse a pastora. Faltou explicar quando ela se sentiu ameaçada por alguma proibição esdrúxula do tipo.
Ao tomar posse, Damares reconheceu que o Estado é laico, “mas esta ministra é terrivelmente cristã”. Em 2012, no julgamento do aborto de fetos anencéfalos no STF, Marco Aurélio Mello disse que “concepções morais religiosas não podem guiar as decisões estatais, devendo ficar circunscritas à esfera privada”.
Com a caneta na mão, integrantes do governo Bolsonaro começam a implantar mudanças práticas que vão além da simples retórica tradicionalista. Em nome de determinados costumes, defendem medidas que representam retrocessos.
O ministro da Saúde afirmou que a distribuição de camisinhas para a prevenção do HIV pode mudar para não “ofender as famílias”. O ministro da Educação eliminou uma secretaria dedicada aos direitos humanos. Em seguida, o presidente disse que o órgão formava “mentes escravas das ideias de dominação socialista”.
Bruno Boghossian